Idosa em cárcere pedia por comida e agentes de saúde eram proibidos de entrar
Equipe da assistência social esteve no casa onde casal mora, na manhã desta quarta-feira (5)
Idosa de 70 anos, mantida em cárcere pelo marido, 67, implorava por comida aos vizinhos. Resgatada na noite desta terça-feira (4), na Rua Uruana, no Jardim Colúmbia, a vítima vivia em meio a sujeira, fezes e agentes de saúde eram proibidos de entrar na residência.
Moradora da região, que não quis se identificar, conversou com a reportagem na manhã desta quarta-feira (5). Durante relato, ela informou que já houve situação em que a vítima pedia comida. “Falava que estava com fome, mas ele não aceitava ajuda”, informou a moradora.
A mulher contou que desde que se mudou para o endereço o quintal da residência do casal era sujo, situação que causava preocupação. “Como ele dizia que ela tem problema achava que era por conta disso a sujeira. A situação era bem crítica, cheguei a falar no postinho sobre o que estava acontecendo, disseram que já acompanhavam eles, mas não podiam fazer nada. Se eles não podiam o que a gente ia fazer? Ficava com dó”, afirma.
Além disso, a mulher comentou que nunca viu o casal receber visita de filhos e familiares. “Os filhos deles não moram em Campo Grande, acho que eles eram abandonados pelos familiares porque nesse tempo nunca receberam visitas”, alegou.
Assistência social – Nesta manhã, o Campo Grande News esteve no endereço do casal e encontrou uma assistente social em frente a casa. A profissional que preferiu não se identificar disse que o idoso proibia a entrada dos Agentes Comunitários de Saúde e de Agentes de Vigilância em Saúde com Ênfase no Combate às Endemias, no imóvel.
“Todas as vezes eram informados pelo marido da vítima que ela estava dormindo por conta dos remédios que ela tomava, não conseguiam ter acesso nem no quintal e atendia a equipe pelo portão. Como não temos força para entrar na casa, não conseguíamos entrar, estranhávamos porque ele não deixava e ela não aparecia”, contou.
Ainda conforme a assistente social, todas as vezes em que o idoso era questionado sobre os tratamentos da esposa, ele dizia que ela fazia acompanhamento pela rede particular de saúde. “Os remédios que ele mostrava eram os mesmo que tinha registro no Caps (Centros de Atenção Psicossocial), em anos anteriores onde ela fazia acompanhamento”, explicou.
A equipe de assistência social da região chegou a denunciar os fatos no Núcleo de Prevenção a Violência. “Fizemos tudo que podíamos, acionamos a unidade de saúde, inclusive solicitei ao Caps uma equipe para conversar com ele, mas não aceitou. Ele sempre pareceu uma pessoa tranquila e bem comunicativa. Parecia que não tinha conduto agressiva, achávamos estranhos o quintal estar dessa forma. Ele alegava que deixava ela trancada para não fugir de casa”, concluiu.
A reportagem mandou e-mail para a Prefeitura questionando sobre os atendimentos ao casal, mas até o momento a mensagem não foi respondida. O espaço segue aberto para esclarecimentos.
Cenário deplorável - A residência do casal está destruída, as vigas estão podres, o quintal com mato alto e lixo, dando aspecto de casa abandonada. Fotos enviadas ao jornal revelam o cenário deplorável em que os idosos viviam.
Lixo foi encontrado espalhado pelos cômodos. O banheiro tinha fezes jogadas por todos os cantos. Também havia comida estragada em cima do fogão e muito entulho na cozinha.
O caso - De acordo com o boletim de ocorrência, equipe da GCM (Guarda Civil Metropolitana) recebeu uma denúncia através do Whatsapp funcional de um cárcere privado. Os guardas foram até o endereço e ao chegarem na casa, os vizinhos relataram que a mulher estava presa dentro do imóvel.
Os moradores mostraram aos guardas fotos e vídeos da parte interna da casa. As imagens mostravam um ambiente totalmente sujo e insalubre, com lixos espalhados para todos os lados.
Os guardas resgataram a vítima e o suspeito foi detido. Questionado sobre os fatos, o idoso revelou que a esposa é esquizofrênica e por isso estava naquele estado, no entanto, nenhum laudo médico foi apresentado a equipe.
A vítima foi encaminhada ao UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Vila Almeida porque estava muito agitada e agressiva. Devido a gravidade do seu estado psicológico, a mulher foi transferida para o Caps.
O homem foi levado para Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher), onde o caso foi registrado como sequestro, cárcere privado e tortura.
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