Inquérito atesta prova plantada em carro, mas pode terminar sem culpado
"Estamos trabalhando, temos algumas diligências para tentar apontar essa autoria", diz delegado
De partida para a segunda prorrogação de prazo, o inquérito da Corregedoria da Polícia Civil constatou crime de fraude processual no surgimento de novas provas na caminhonete do comerciante Adriano Correia do Nascimento, morto por policial rodoviário federal após briga de trânsito em Campo Grande.
Mesmo com o veículo apreendido e após duas perícias, a conclusão é de que dois flambadores de sushi (com formato que lembra arma) foram plantados. Já a autoria segue desconhecida.
“Os elementos trazidos ao inquérito autorizam a conclusão de que fato os flambadores foram colocados, não faziam parte do local do crime. Traduzindo, foram plantados sim”, afirma o delegado Sérgio Luiz Duarte. Na apuração, foram ouvidos peritos e delegados, além de confrontar as filmagens realizadas em 31 de dezembro de 2016, dia do crime.
Contudo, a descoberta da autoria enfrenta problemas como a falta de testemunhas e ausência de videomonitoramento no pátio da Coordenadoria Geral de Perícias, na avenida Senador Filinto Muller, Vila Ipiranga.
“Não podemos ser levianos e indicar alguém que possa ter praticado o fato. Não temos condições de apontar cabalmente”, diz o delegado.
Conforme Duarte, foram ouvidos servidores de outros órgãos que trabalham nas imediações do Instituto de Criminalística e tentado localizar a origem dos flambadores. “Foi um trabalho bem minucioso. Mas ninguém presenciou e os flambadores não têm numeração”, explica.
Segundo ele, a investigação prossegue em busca do autor. “De fato é essa nossa dificuldade, sem prova cabal de autoria. Estamos trabalhando, temos algumas diligências para tentar apontar essa autoria, para que não fique dúvida. Estamos arrecadando provas”, afirma o delegado.
Trajetória - Depois de duas perícias, dois flambadores de sushi, de 19 centímetros, foram encontrados na caminhonete do comerciante Adriano Correia do Nascimento, apreendida desde 31 de dezembro de 2016, data em que ele foi morto pelo policial Ricardo Moon após briga de trânsito.
Durante audiência sobre o surgimento dos flambadores no veículo do morto, a perita Karina Rébulla Laitart disse que Domingos Sávio Ribas, também perito, teria interesse em alterar o resultado do laudo pericial e que teria dito ter amizade com Renê Siufi, advogado do policial.
Ao ter uma de suas conclusões sobre a trajetória de disparos questionada por Sávio, a perita voltou a inspecionar o veículo. Ao abrirem a porta, ela, Sávio e um agente de polícia cientifica encontraram os maçaricos no assoalho dianteiro em frente ao banco do passageiro.
Na mesma audiência, realizada em 11 de abril, Sávio lamentou ser visto como suspeito. Na ocasião, Siufi negou amizade com Sávio e classificou a afirmação como “leviana”. O advogado interpelou a perita na Justiça.
Na resposta, ela afirma não ter dito em juízo que a informação da amizade entre Sávio e o advogado conste no WhatsApp. De acordo com a perita, que anexou transcrição de conversa, o que consta é Sávio dizendo que seria arrolado pela defesa como testemunha.
Crime - O policial Ricardo Moon foi denunciado por homicídio doloso contra Adriano e tentativa de homicídio contra Agnaldo Espinosa da Silva e o enteado de 17 anos, passageiros da caminhonete. O crime foi na avenida Ernesto Geisel.
O processo está pronto para decisão do magistrado, que vai decidir se pronuncia ou não o réu a júri popular. A defesa recorreu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e pretende que o processo seja transferido para a Justiça Federal.