Irmã centenária da Capital, Santa Casa terá museu com história salva do lixo
Enterrada nos anos de 1940, capsula do tempo foi esquecida e acabou no aterro de entulhos da Vila Nasser
O maior hospital filantrópico de Mato Grosso do Sul tem idade para ser irmão caçula da cidade que completa neste 26 de agosto 119 anos. Sabe-se muito da capacidade atendimento e da fama da Santa Casa de Campo Grande pelas vidas que ela salvou. Mas, pouco se tem conhecimento de como foi a infância e a adolescência da unidade, que começou a ser concebida em 1917.
Quase que parte do álbum dos primeiros anos de vida deste hospital foi parar no lixo. Mas, a Santa Casa, que tanto socorreu, teve os registro de um de seus anos salvos pela curiosidade de dois adolescentes.
Moradores da Vila Nasser – na região norte de Campo Grande –, os garotos brincavam num antigo aterro de entulhos do bairro quando acharam uma pedra grande de concreto com a data 21-9-1941.
Sem suportar não saber o segredo que o baú guardava, os meninos a cutucaram a caixa até que conseguiram abri-la. No interior daquele da arca, encontraram um invólucro de cobre que guardava documentos, jornais e moedas.
A cápsula do tempo foi descoberta em 2015, quando fazia 74 anos, e guardava a ata de lançamento da pedra fundamental da construção do pavilhão B, denominado na época Sanatório da Santa Casa, dentre outras provas de que a sociedade campo-grandense continuava contribuindo para que aquele hospital crescesse.
Enterrada nos anos de 1940, ela havia sido esquecida e foi levada para o aterro de entulhos, provavelmente, quando começaram as obras para a construção da maternidade do hospital, prédio que hoje abriga a Unidade do Trauma.
“Será lançada hoje, em uma cerimônia solene, a pedra fundamental do novo Pavilhão particular do Hospital da Sociedade Beneficente de Campo Grande, a nossa Santa Casa, como é carinhosa e justamente apelidada pela população. Marco importantíssimo na vida de nossa tradicional casa de caridade, representando o início de uma nova era na história da assistência médica campo-grandense", diz trecho do texto publicado do jornal O Progressista de 21 de setembro de 1941.
No baú, também estavam guardadas edições de jornais dos dias anteriores, que trazem o convite para a cerimônia e agradecimentos às doações em réis feitas por cidadãos da cidade.
Um exemplar de jornal editado pela livraria Castro Alves chama a atenção por uma curiosidade. O estabelecimento funcionava na Rua João Pessoa, a atual 14 de Julho. “Mudaram uma época, mas não houve aceitação da população e então decidiram devolver o nome original”, conta Heitor Freire, o curador o material encontrado na cápsula do tempo e membro da diretoria da Santa Casa.
A ata do lançamento da pedra fundamental é assinada por nomes até hoje conhecidos, como Vespasiano Martins, que foi prefeito de Campo Grande por três vezes, governador revolucionário e senador por Mato Grosso do Sul. Ainda aparecem na lista, Eduardo Olímpio Machado, Eduardo Santos Pereira e Bernardo Franco Baís.
Centro cultural – Foi da descoberta deste tantinho de história que havia parado no lixo que a direção da Santa Casa decidiu que mais nada se perderia. Surgiu então a ideia de criar na sede do 1º ambulatório, inaugurado em 1928 com entrada na Avenida Mato Grosso, um museu. A proposta foi amadurecida e evoluiu para o Centro Histórico e Cultural Camillo Boni, nome do arquiteto que projetou o prédio.
“Queremos que a cidade tenha mais um local para manifestações populares”, afirma Freire, que também toca o projeto. Além do museu, o centro cultural terá um teatro de pequeno porte.
Heitor Freire explica que foi preciso aprovar uma mudança no estatuto na Santa Casa para que a instituição possa ir em busca de recursos do Ministério da Cultura. A ideia é inaugurar o centro cultural até o fim do próximo ano.