ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
FEVEREIRO, TERÇA  04    CAMPO GRANDE 27º

Capital

"Não era santo, mas não merecia morrer", desabafa irmão de rapaz morto por PM

Trio que invadiu estabelecimento comercial morreu em confronto no fim de semana

Por Bruna Marques e Gabi Cenciarelli | 04/02/2025 11:52
"Não era santo, mas não merecia morrer", desabafa irmão de rapaz morto por PM
Luiz Kaio, morto em confronto com a PM, na madrugada de domingo (2) (Foto: Arquivo pessoal)

Dois dias da morte do irmão, o comerciante de 27 anos, que preferiu não se identificar, optou em não abrir o restaurante no Portal Caiobá. Com medo da repercussão do caso, resolveu suspender os trabalhos, enquanto ainda tenta entender o fim da vida de Luiz Kaio Garsino dos Santos, 24.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

Luiz Kaio Garsino dos Santos, de 24 anos, morreu em confronto com a Polícia Militar em Campo Grande, após invadir uma loja de joias. O comerciante, irmão de Luiz, lamentou a morte, afirmando que o irmão não era santo, mas não merecia ser morto daquela forma. Luiz havia deixado a prisão há quatro meses e estava tentando recomeçar a vida, trabalhando no restaurante do irmão. A família de Tainara Gonçalves Machado, outra envolvida no crime, ficou surpresa com sua participação e morte. O idoso vítima do assalto foi hospitalizado, mas recebeu alta. A família de Tainara ainda não teve acesso ao corpo dela. O caso está sendo investigado pela PM e pela polícia civil.

Luiz Kaio morreu no último domingo (2), morto a tiros, segundo a Polícia Militar, em confronto, após invadir loja de joias no Centro de Campo Grande. Além de Luiz, Tainara Gonçalves Machado, 20 anos, e outro homem que ainda não foi identificado também participavam da ação criminosa. A vítima, ourives, de 71 anos, precisou ser hospitalizado após ter sido empurrado da escada pela mulher.

O comerciante foi reconhecer o corpo do irmão e se espantou ao ver que ele foi atingido por cinco tiros. “Sei que meu irmão não era santo, estava cometendo um crime, mas não precisava matar, muito menos desse jeito”, lamentou.

Segundo o empresário, antes de morrer Luz Kaio mandou mensagens para a namorada. Prints aos quais a reportagem teve acesso mostram o rapaz dizendo: “Mano, me ajuda, a polícia vai matar nós. Estou aqui no centro, na 15, encheu de polícia aqui. Estou escondido, não tem como sair daqui. Amor, estou escondido aqui”.

"Não era santo, mas não merecia morrer", desabafa irmão de rapaz morto por PM
Irmão de Luiz durante entrevista ao Campo Grande News (Foto: Henrique Kawaminami)

Bastante abalado e com medo, o comerciante revelou que Luiz Kaio havia deixado a prisão há 4 meses. “Desde que ele foi preso pela última vez, ficou devendo favor para esse povo do crime e eles o colocavam nessas roubadas. No dia só mandaram ele ir para lá, ele também não sabia quem eram os outros dois”, disse.

Ainda conforme relatado pelo rapaz, Luiz estava tentando recomeçar a vida. “Nesses últimos quatro meses, estava reconstruindo a vida. Estava morando comigo, trabalhando como atendente no meu restaurante e guardando dinheiro para fazer curso e assumir minha barbearia”, expôs.

O jovem define a morte do irmão como “assassinato”. “Não tem outra palavra a não ser assassinato. É impossível que ele tenha apontado uma arma para a polícia, ele estava encurralado e morria de medo de polícia. Se passava aqui na frente, ficava com medo. Sei da importância da polícia, mas não tem justificativa para matar, tirar uma vida é muito sério”.

Alegando ter o sonho de ser policial, o empresário fez questão de esclarecer que sempre foi fã da corporação e a ideia não é criticar, mas não consegue entender a maneira com que a equipe tirou a vida de Luiz Kaio.

"Não era santo, mas não merecia morrer", desabafa irmão de rapaz morto por PM
Mensagens de Luiz Kaio pedindo ajuda para a namorada (Foto: Reprodução)

“Abri uma denúncia na corregedoria da PM para que a morte seja investigada. Meu advogado pediu que a perícia analisasse se tinha vestígio de pólvora na mão do meu irmão, comprovando que ele atirou”. O documento foi emitido nesta segunda-feira (3), dia seguinte à morte. O comerciante questionou também o fato de o irmão ter mandado mensagem pedindo socorro 01h36 e só deu entrada na Santa Casa 2h30.

A equipe entrou em contato com assessoria da PM  e foi informada que foi aberto um Inquérito Policial Militar para investigar o caso.

"Não era santo, mas não merecia morrer", desabafa irmão de rapaz morto por PM
Mãe de Tainara também falou com a reportagem (Foto: Henrique Kawaminami)

“Grande surpresa” - Procurada pela reportagem, a mãe de Tainara Gonçalves Machado, diarista de 47 anos, que preferiu não se identificar, disse que a filha e o idoso vítima do grupo criminoso eram amantes, mas que a família só descobriu o caso há pouco mais de um mês. “Saía de casa dizendo que ia para a casa dele tomar banho de piscina”, contou.

Mãe de uma menina de 4 anos e de um menino de 2, Tainara trabalhava como atendente em uma loja de roupas, próximo à casa que morava com a avó, no Jardim Centenário. A morte da filha e o crime cometido por ela foi uma grande surpresa para a família. “Ela não usava drogas, tinha casa, tem mãe, tem pai, não era biscate”, afirmou a mulher.

Questionada sobre o crime e os comparsas de Tainara, a diarista revelou não os conhecer. “Nunca vimos os caras porque não aceitamos estranho em casa. Às vezes, ela saía à noite em carro de aplicativo, mas nunca falava para onde estava indo. Foi uma grande surpresa ela morrer dessa forma, em um assalto, morta pela polícia”, contou.

Considerada “rebelde” pela família, Tainara nunca havia se envolvido em outro crime. “Ela era descabeçada, mas era muito carinhosa, nunca deixou de cuidar dos filhos, nunca tinha se envolvido em problema, muito menos desse tipo, não tinha passagens".

Segundo a diarista, na semana passada, Tainara havia lhe entregado sua filha de 4 anos para que ela criasse. Já o filho mais novo ficou sob responsabilidade do pai.

"Não era santo, mas não merecia morrer", desabafa irmão de rapaz morto por PM
Tainara Gonçalves Machado, 20 anos, envolvida em assalto (Foto: Arquivo pessoal)

Liberação do corpo - A principal reclamação da família de Tainara é que, até o momento, eles não tiveram acesso ao corpo da jovem que está no IML (Instituto Médico Legal). Os parentes organizaram uma vaquinha para conseguir custear o velório e o sepultamento. “Estamos vivendo um luto sem corpo”.

Sobre o confronto com policiais do 1º Batalhão da Polícia Militar, a diarista diz não sentir raiva. “Tudo que a gente faz tem consequência. Não sou revoltada com a polícia, porque eles estavam fazendo o trabalho deles, tudo que fazemos tem consequência, nós queremos o corpo dela”, finalizou.

Caso – Os criminosos morreram em tiroteio com policiais militares na madrugada de domingo (2). Os três haviam invadido o comércio de ourives de 71 anos, o roubaram e o espancaram, em crime ocorrido na região central de Campo Grande.

Conforme informações apuradas pelo Campo Grande News, por volta da 1h20, a equipe do 1º Batalhão da PM fazia rondas no Centro e passava na esquina das ruas Rui Barbosa com a 15 de Novembro. Um motorista de aplicativo abordou a equipe e disse ter ouvido gritos de socorro vindos de prédio da região.

Assim que os militares chegaram no local indicado, também conseguiram escutar os pedidos de ajuda que vinham de loja de compra e venda de joias. No imóvel, encontraram o idoso com diversos ferimentos pelo corpo. A informação é que ele é ourives, que confecciona e comercializa joias.

Equipes do BPM (Batalhão de Polícia Militar do Choque) e a Rocam (Pelotão de Rondas Ostensivas de Choque e Ações Motociclísticas) foram acionadas para darem apoio. No local, só tem uma porta de entrada e saída. Os militares perceberam que os três fugiram pelo telhado do comércio.

Segundo informações da PM, assim que eles perceberam a presença dos militares, começaram a atirar. Os três foram atingidos, levados à Santa Casa de Campo Grande, mas morreram. A reportagem apurou que a mulher foi atingida no tórax e abdômen.

O idoso foi levado para a Santa Casa, em estado grave, com fraturas nas pernas e braços e suspeita de traumatismo craniano. O caso foi registrado na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Cepol.

A reportagem obteve informação de que o idoso recebeu alta hospitalar e já está trabalhando, mas foi orientado a não falar neste momento porque ainda não foi ouvido formalmente pela polícia.

O Campo Grande News entrou em contato com o diretor do Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal), Silvio Lemos. Questionado sobre a demora para a liberação do corpo de Tainara, ele disse que o delegado preferiu aguardar a confirmação da identidade pelo instituto de identificação.

Confrontos - Somente nos primeiros 33 dias de 2025, foram 12 vítimas, segundo os números da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), o que corresponde a uma morte por intervenção policial a cada três dias. Em todo ano passado, foram 86, o mesmo que sete ao mês, na média.

Para o delegado, que ministra cursos de TPPO (Técnicas Policiais e Procedimentos Operacionais), Guilherme Scucuglia, titular da Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco e Resgate a Assaltos e Sequestros), na prática diária dos militares durante as ocorrências, é preciso estar pronto a reagir à mínima menção de perigo à própria vida, ainda que não tenha havido disparo ou ataque direto.

“Isso tecnicamente se chama legítima defesa, quando um policial vê que sua vida, sua integridade física está em risco a ponto de eventualmente vir a sofrer um dano, não necessariamente ter sofrido um dano, mas vir a sofrer um dano, esse policial, ele tem por dever legal ou por autorização legal, a possibilidade de reagir com os meios que ele tiver à sua disposição. Desde que esse meio seja efetivo”, detalhou durante coletiva de imprensa na tarde de ontem (3).

Conforme Scucuglia, o policial atua para reagir e não para matar. “A atividade da polícia não se trata de matar as pessoas. A gente lida com pessoas com alto poder vulnerante (capacidade de um objeto ou arma de causar dano) e vez por outra a gente precisa agir, num português claro, para não morrer”, defende.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

Nos siga no Google Notícias