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Capital

Moradores da Cidade de Deus não querem trocar “uma favela por outra”

Renan Nucci e Franciso Júnior | 20/11/2014 09:10
Moradores da Favela Cidade de Deus não querem transferência para terreno no Jardim Noroeste. (Foto: Marcos Ermínio)
Moradores da Favela Cidade de Deus não querem transferência para terreno no Jardim Noroeste. (Foto: Marcos Ermínio)
Inês diz que só sai da Cidade de Deus para morar em uma casa própria. (Foto: Marcos Ermínio)
Inês diz que só sai da Cidade de Deus para morar em uma casa própria. (Foto: Marcos Ermínio)

A transferência dos moradores da Favela Cidade de Deus, localizada aos fundos do Bairro Dom Antônio Barbosa, para uma área ao lado do Conjunto Leon Denizart Conte, próximo ao Jardim Noroeste, não agrada nenhuma das partes envolvidas. Ontem (19), famílias que moram na favela fizeram reunião e decidiram que não querem se mudar. Um dos motivos é que a nova moradia fica longe do local de trabalho da maior parte dos moradores, o aterro sanitário e o lixão.

Segundo Rodrigo Santos, um dos líderes comunitários, as famílias não querem “trocar uma favela por outra”, por isso, uma reunião definitiva deve ser realizada ainda hoje (20). Outro fator posto em evidência é que os habitantes do Leon Denizart não querem a aproximação dos ocupantes da Cidade de Deus.

Inês Corrêa, 47 anos, mora em um barraco com o filho, a nora e dois netos, de um e cinco anos. Ela relata que está cansada da situação e que só vai sair dali quando tiver a casa própria. Deixar o local para morar em outro barraco está fora de cogitação. “Se minha nora quiser, ela que vá, pois eu só saio daqui quando tiver minha casa”, disse.

Mãe de três crianças, Luana Fernanda, 22 anos, diz estar apreensiva com a transferência, pois não sabe o que será da família. No mesmo quintal onde ela montou seu barraco, também está a mãe que é uma pessoa de idade avançada e não quer sair. Elas temem o fato de que os moradores da região do Noroeste não os querem por lá. “A segurança é um problema”, afirmou.

Ela relata ainda outro obstáculo, no caso, o marido que é pedreiro e trabalha em obras nas proximidades da favela. “Como ele vai fazer para conseguir outro emprego por lá? Assim fica difícil, não dá para viver nesta situação, sem sabermos sele ele vai ter condições de nos manter”, alerta.

Jorge, ao lado da esposa Daiane, diz que a nova moradia fica longe de seu local de trabalho. (Foto: Marcos Ermínio)
Jorge, ao lado da esposa Daiane, diz que a nova moradia fica longe de seu local de trabalho. (Foto: Marcos Ermínio)

Situação semelhante vive o casal Jorge Surubi, 28 anos, e Daiane Fernandes da Silva Cano, 22 anos, pais de um menino de três anos – a mulher está com três meses de gestação. Eles estão preocupados, pois Jorge trabalha no lixão que fica praticamente ao lado da Cidade de Deus. “Não há meios de a gente sair daqui para ir morar em outro barraco. Queremos um local digno para viver”, disse Jorge, lembrando que as condições estão piores agora que a prefeitura retirou o gerador de energia elétrica posto no local.

Segundo ele, a chuva de ontem molhou os poucos móveis que o casal possuía, principalmente a geladeira. “Piorou bastante”, alegou. Ainda hoje, moradores da favela se reúnem com líderes comunitários para uma decisão final.

Além de todos os entraves mencionados, também existe o fato de que o novo terreno tem capacidade para abrigar apenas 200 das 800 famílias que vivem na Cidade de Deus.

A Prefeitura já limpou uma área no Jardim Noroeste, na saída para Três Lagoas, para transferir as famílas da Favela Cidade de Deus. No entanto, moradores da região protestaram contra a chegada dos novos moradores porque alegaram que não há infraestrutura para mais famílias.

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