Moradores denunciam família que invadiu terreno e fez horta orgânica no Cabreúva
Eles acusam moradores de manter local como 'ponto de drogas'. Invasores negam e dizem que precisam de apoio para manter horta.
O antigo espaço onde funcionava o IAB-MS (Instituto de Arquitetos do Brasil - Mato Grosso do Sul), no Cabreúva, virou ponto de conflito envolvendo vizinhos e família que transformou o espaço em uma horta orgânica. A área, na avenida Ernesto Geisel com a rua Dom Pedro I, fica ao lado do prédio onde funcionava a Escola Estadual Riachuelo, desativada este ano.
Com aproximadamente 100 metros de extensão, o terreno possui duas casas de madeira planejadas, uma em cada esquina, e uma área de lazer entre as duas, além de um grande quintal. Os vizinhos se queixam que estão inseguros porque o terreno teria virado um ponto de encontro de usuários de droga. A reportagem do Campo Grande News conversou com três moradores que vivem perto da área. Ninguém quis se identificar.
A primeira denúncia é de uma mulher de 28 anos que mora do na Rua Dom Pedro I, uma quadra acima do local. Ela diz que o ponto é frequentado por usuários de drogas. "Tem um entra e sai de gente e uma sujeira da bexiga”, afirmou. Na mesma rua, mais para baixo, uma outra mulher disse ter até medo de denunciar. “Isso aí é uma boca de fumo. A gente tem medo de falar porque é gente perigosa que fica aí. Eles jogam entulho aí dentro”, disse.
Outro morador reclama que já denunciou a situação para a prefeitura pelo canal 156, mas que até hoje não teve nenhum retorno. “Eu já liguei lá várias vezes e ninguém resolve nada. Uma boca de fumo danada faz anos. A polícia vem aí, dá uma paradinha e vai embora”.
Do outro lado, os alvos das denúncias negam as acusações. Kelvin Dinderson, 29, confirma que o local já foi uma ‘boca de fumo’, mas antes da família expulsar os usuários. Ele mora há dois anos em uma das casas dentro do terreno com a mulher que está grávida de três meses e os filhos, uma menina de 10 e um garoto de 4 anos. Na outra casa mora uma cunhada, com dois filhos. É dele a ideia de transformar o local abandonado.
“Antes isso daqui era pra ser um espaço de cultura da prefeitura, mas ficou abandonado com ‘biqueiros’. Quando a escola funcionava aqui do lado, eles pulavam o muro pra entrar. Hoje eu planto abóbora, tomate, tem uma estufa que já está quase pronta. Tenho pé de caju e amora também. Às vezes eu topo uma gurizada de rua que vem e me ajuda”, disse acrescentando que abriga no local nove crianças de rua.
Na Ernesto Geisel, Kelvin decorou a entrada com pneus recolhidos da rua que viraram vasos de plantas. Segundo ele, a ideia é cultivar produtos orgânicos e vender na própria comunidade “por um preço acessível e sem agrotóxicos”.
“A horta tá incomodando vizinhos. Mas o que eu estou fazendo aqui é desenvolvendo adubo orgânico. As pessoas trazem restos de podas de árvores que eu uso pra fazer o adubo. Só que está tudo organizado. Tenho amigos que são moradores de rua. Eu deixo eles dormirem aqui e em troca eles me ajudam na horta”, afirmou.
Kelvin morava no Monte Castelo antes de invadir o terreno. Ele conta que veio de Rochedo, onde trabalhou com agricultura até a mãe falecer. O invasor admite não ter a posse da área e fala que já buscou ajuda na prefeitura para legalizar a permanência, mas ainda não teve uma resposta."A gente precisa de apoio pra continuar com a horta aqui", finalizou Kelvin.
A presidente do IAB-MS (Instituto de Arquitetos do Brasil - Mato Grosso do Sul), Adriana Tannus, disse que a área foi entregue para a prefeitura no ano passado. "Foi uma comodata da prefeitura para o IAB durante um tempo. A gente cuidava, mas foi vendo que não tínhamos força financeira pra manter o local e entregamos para a prefeitura para dar o melhor uso", afirmou.
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