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Capital

Morte ocorrida há 19 anos chega a julgamento e réu alega tiro acidental

Suelen Cristaldo morreu a tiro, há 19 anos, e acusado fugiu, sendo encontrado somente em 2019, no Paraná

Silvia Frias e Bruna Marques | 03/02/2023 11:09
Morte ocorrida há 19 anos chega a julgamento e réu alega tiro acidental
Cléberson Proença de Almeida (azul) é julgado na 2ª Vara do Tribunal do Júri, em Campo Grande. (Foto: Bruna Marques)

Uma briga por motivo banal resultou em morte a tiro de Suelen Cristaldo em 3 de julho de 2004. Hoje, 19 anos depois, o pintor Cléberson Proença de Almeida está sendo julgado pelo crime.

Durante esse tempo, fugiu para o Paraná, casou e teve filhos, foi preso e solto. Neste retorno ao Estado para o júri realizado na 2ª Vara do Tribunal, em Campo Grande, alegou que o disparo foi acidental.

O réu tinha 19 anos à época do crime. A vítima, 20 anos. Na denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) consta que a morte aconteceu na noite de 3 julho, nas esquinas das ruas Pontalina e Elvira Pacheco Sampaio.

Cléberson Almeida, conhecido como “Gordo”, estava em uma lanchonete quando o casal Ronaldo Ribeiro Ramos e Suelen Cristaldo chegou ao local. Pela denúncia do MPMS, o réu assediou a vítima, foi confrontado pelo namorado dela e os ameaçou. Tentou atirar no rapaz, mas a arma falhou.

Suelen teria pedido para que ele parasse com isso e, em seguida, se virou de costas, momento que foi atingida por um tiro, morrendo no local.

Morte ocorrida há 19 anos chega a julgamento e réu alega tiro acidental
Suelen morreu na rua, no Bairro Universitário. (Foto/Reprodução)

O caso chegou à Justiça em dezembro de 2004. Antes disso, “Gordo” fugiu e o processo foi suspenso a partir de 29 setembro de 2005. O mandado de prisão foi expedido e o acusado somente foi encontrado em 2019, vivendo em Ponta Grossa (PR). Passou pouco mais de um ano e meio preso, sendo liberado e respondendo ao processo em liberdade. Um júri chegou a ser marcado, mas a sessão foi cancelada, sendo remarcada somente para hoje.

Defesa – Em depoimento prestado ao juiz Aluízio Pereira dos Santos, Cléberson de Almeida relembrou a noite do crime. Disse que estava na lanchonete com quatro amigos, entre eles, o que foi identificado como Alex e que estaria armado.

Na versão dele, a desavença começou depois que outro amigo, Agnaldo, cumprimentou Suelen e o namorado da moça não gostou. “Ele [Ronaldo] começou a encarar todo mundo, aí foi que começou a discussão”, alegou Almeida. “Ronaldo levantou e falava ‘você sabe quem eu sou, sabe com quem tá mexendo?’”. Nesse momento, o réu interveio. “Não falamos quem você é, nem queremos saber”.

Segundo o réu, Ronaldo o ameaçou. “Você tem 24 horas para me matar, senão, você já era”. O casal saiu da lanchonete.

Almeida disse que Alex foi atrás do rapaz para conversar. “O Alex puxou a arma, eu tomei dele e ela [Suelen] veio para cima de mim falando: ‘atira, você não é homem, você não tem coragem’”, contou. “Aí ele me empurrou e a arma disparou”.

O réu reforçou que o disparo foi acidental. “Eu não atirei nela, como ela veio para cima de mim dando tapa eu desequilibrei e arma disparou”. O tiro entrou nas costas de Suelen, saiu pelo pescoço. “Eu peguei a arma dele para evitar o pior, minha intenção era das melhores”.

Depois que fugiu, o réu disse ter perdido o contato com os amigos que estavam na lanchonete. Sabe que o dono da arma, Alex, morreu. Fugiu para o Paraná e passou a trabalhar com o avó, como pedreiro e pintor. “Conheci minha esposa, comecei a viver a rotina e a gente vai esquecendo”, admitiu. Diz que vivia com medo, pois não usava o documento.

Morte ocorrida há 19 anos chega a julgamento e réu alega tiro acidental
Juiz Aluízio Pereira dos Santos lê a denúncia contra o réu. (Foto: Bruna Marques)

Também nega a versão de que tivesse assediado a moça, alegando que não os conhecia. Questiona o fato de Ronaldo não estar presente no júri. “Se eu tivesse sido vítima, eu estaria aqui para acusar quem tentou me matar”.

Após responder ao juiz, defesa e promotoria, encerrou. “Fui privado de muita coisa, não tive muito recurso para poder pegar um advogado, mas de lá pra cá, graças a Deus onde passei sempre trabalhei, tenho muitos clientes, Deus tem me abençoado. Tenho uma família hoje. E é isso; vida que segue e espero que seja feito a justiça, muito obrigado”.

Sofrimento – A irmã Evilin Cristiane Cristaldo, 42 anos, acompanhou o julgamento. Diz que não conhecia o réu e que a morte da caçula destruiu a família. “Meu pai e minha mãe faleceram sem ver o desfecho do caso”, contou. “Minha mãe e meu pai adoeceram, ela morreu há 10 anos e ele no ano passado”.

Evilin disse que manteve contato como namorado da irmã por um ano, após o crime, mas depois, não soube mais dele. Lembrou que Suelen e Ronaldo namoravam há um ano quando ela foi morta. No dia do crime, foi até o local e viu o corpo da irmã e o rapaz ao lado, chorando.

A atendente disse que a irmã tinha temperamento forte, mas não acredita na versão do réu. “Ela era agressiva, mas não gostava das coisas erradas. Pelo o que eu soube de gente que viu, ela foi até ele para conversar, não pra agredir”.

Desta vez, ela espera por um desfecho, mesmo que tardio. “A vida dele seguiu, a minha, não, só desmoronou. Meu pai andava com foto dele e dos amigos, com o mandado de prisão, a vida deles passou a circular nisso”, lembrou. “Esse julgamento é pela memória dos meus pais”.

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