Morte ocorrida há 19 anos chega a julgamento e réu alega tiro acidental
Suelen Cristaldo morreu a tiro, há 19 anos, e acusado fugiu, sendo encontrado somente em 2019, no Paraná
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Uma briga por motivo banal resultou em morte a tiro de Suelen Cristaldo em 3 de julho de 2004. Hoje, 19 anos depois, o pintor Cléberson Proença de Almeida está sendo julgado pelo crime.
Durante esse tempo, fugiu para o Paraná, casou e teve filhos, foi preso e solto. Neste retorno ao Estado para o júri realizado na 2ª Vara do Tribunal, em Campo Grande, alegou que o disparo foi acidental.
O réu tinha 19 anos à época do crime. A vítima, 20 anos. Na denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) consta que a morte aconteceu na noite de 3 julho, nas esquinas das ruas Pontalina e Elvira Pacheco Sampaio.
Cléberson Almeida, conhecido como “Gordo”, estava em uma lanchonete quando o casal Ronaldo Ribeiro Ramos e Suelen Cristaldo chegou ao local. Pela denúncia do MPMS, o réu assediou a vítima, foi confrontado pelo namorado dela e os ameaçou. Tentou atirar no rapaz, mas a arma falhou.
Suelen teria pedido para que ele parasse com isso e, em seguida, se virou de costas, momento que foi atingida por um tiro, morrendo no local.
O caso chegou à Justiça em dezembro de 2004. Antes disso, “Gordo” fugiu e o processo foi suspenso a partir de 29 setembro de 2005. O mandado de prisão foi expedido e o acusado somente foi encontrado em 2019, vivendo em Ponta Grossa (PR). Passou pouco mais de um ano e meio preso, sendo liberado e respondendo ao processo em liberdade. Um júri chegou a ser marcado, mas a sessão foi cancelada, sendo remarcada somente para hoje.
Defesa – Em depoimento prestado ao juiz Aluízio Pereira dos Santos, Cléberson de Almeida relembrou a noite do crime. Disse que estava na lanchonete com quatro amigos, entre eles, o que foi identificado como Alex e que estaria armado.
Na versão dele, a desavença começou depois que outro amigo, Agnaldo, cumprimentou Suelen e o namorado da moça não gostou. “Ele [Ronaldo] começou a encarar todo mundo, aí foi que começou a discussão”, alegou Almeida. “Ronaldo levantou e falava ‘você sabe quem eu sou, sabe com quem tá mexendo?’”. Nesse momento, o réu interveio. “Não falamos quem você é, nem queremos saber”.
Segundo o réu, Ronaldo o ameaçou. “Você tem 24 horas para me matar, senão, você já era”. O casal saiu da lanchonete.
Almeida disse que Alex foi atrás do rapaz para conversar. “O Alex puxou a arma, eu tomei dele e ela [Suelen] veio para cima de mim falando: ‘atira, você não é homem, você não tem coragem’”, contou. “Aí ele me empurrou e a arma disparou”.
O réu reforçou que o disparo foi acidental. “Eu não atirei nela, como ela veio para cima de mim dando tapa eu desequilibrei e arma disparou”. O tiro entrou nas costas de Suelen, saiu pelo pescoço. “Eu peguei a arma dele para evitar o pior, minha intenção era das melhores”.
Depois que fugiu, o réu disse ter perdido o contato com os amigos que estavam na lanchonete. Sabe que o dono da arma, Alex, morreu. Fugiu para o Paraná e passou a trabalhar com o avó, como pedreiro e pintor. “Conheci minha esposa, comecei a viver a rotina e a gente vai esquecendo”, admitiu. Diz que vivia com medo, pois não usava o documento.
Também nega a versão de que tivesse assediado a moça, alegando que não os conhecia. Questiona o fato de Ronaldo não estar presente no júri. “Se eu tivesse sido vítima, eu estaria aqui para acusar quem tentou me matar”.
Após responder ao juiz, defesa e promotoria, encerrou. “Fui privado de muita coisa, não tive muito recurso para poder pegar um advogado, mas de lá pra cá, graças a Deus onde passei sempre trabalhei, tenho muitos clientes, Deus tem me abençoado. Tenho uma família hoje. E é isso; vida que segue e espero que seja feito a justiça, muito obrigado”.
Sofrimento – A irmã Evilin Cristiane Cristaldo, 42 anos, acompanhou o julgamento. Diz que não conhecia o réu e que a morte da caçula destruiu a família. “Meu pai e minha mãe faleceram sem ver o desfecho do caso”, contou. “Minha mãe e meu pai adoeceram, ela morreu há 10 anos e ele no ano passado”.
Evilin disse que manteve contato como namorado da irmã por um ano, após o crime, mas depois, não soube mais dele. Lembrou que Suelen e Ronaldo namoravam há um ano quando ela foi morta. No dia do crime, foi até o local e viu o corpo da irmã e o rapaz ao lado, chorando.
A atendente disse que a irmã tinha temperamento forte, mas não acredita na versão do réu. “Ela era agressiva, mas não gostava das coisas erradas. Pelo o que eu soube de gente que viu, ela foi até ele para conversar, não pra agredir”.
Desta vez, ela espera por um desfecho, mesmo que tardio. “A vida dele seguiu, a minha, não, só desmoronou. Meu pai andava com foto dele e dos amigos, com o mandado de prisão, a vida deles passou a circular nisso”, lembrou. “Esse julgamento é pela memória dos meus pais”.