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Capital

Motoristas admitem risco: não olham retrovisor ao abrir porta de veículo

Pelo menos duas pessoas morreram recentemente porque tentavam desviar de alguém abrindo a porta do carro

Natália Olliver e Antonio Bispo | 10/07/2023 07:47
Motorista abrindo a porta para o desembarque na Rua 14 de Julho (Foto: Paulo Francis)
Motorista abrindo a porta para o desembarque na Rua 14 de Julho (Foto: Paulo Francis)

Acidentes causados por desatenção de motoristas ou imprudência no trânsito já se tornaram comuns na capital sul-mato-grossense. Entretanto, nos últimos dois meses, as circunstâncias de colisões e mortes ocasionadas pela distração chamaram atenção do Campo Grande News, sobretudo, para o ato - embora simples - de abrir as portas dos veículos de maneira repentina.

Pelo menos duas pessoas morreram recentemente porque tentavam desviar de alguém abrindo a porta do carro no trânsito da Capital. Um atingido por ônibus e outro por caminhão. O ciclista Wyllyan Caldeira, de 18 anos, em maio, e a motociclista Miryan Lemes Torquato, em 27 de junho.

Nas ruas da cidade, motoristas admitem não tomar todas as medidas de segurança para evitar acidentes do tipo. “Eu vi uma reportagem da moça que faleceu e a maioria do povo abre sem olhar. Não vou falar que olho 100%, mas tento”, disse Felipe Rodrigues Souza Júnior, de 41 anos.

Felipe, advogado e motorista há 15 anos, na Rua 14 de Julho, centro de Campo Grande (Foto: Paulo Francis)
Felipe, advogado e motorista há 15 anos, na Rua 14 de Julho, centro de Campo Grande (Foto: Paulo Francis)

O advogado dirige há 20 anos e comenta que a maioria dos motoristas sequer respeita a norma básica de trânsito, como olhar os retrovisores. Ele ressalta que já sofreu acidente por desatenção de outros condutores. ”Não tem como culpar alguém, acho que hoje, nessa vida que a gente leva sempre correndo, acho que é comum”.

Para Jorge Mario Mello, taxista de 61 anos, o problema é causado mais com carros de aplicativo. “Na hora de descarregar passageiro, eles abrem a porta sem olhar. A gente acompanha no retrovisor, senão acidente acaba acontecendo. É caótico para quem trabalha com isso”, disse.

Taxista Jorge Mario, durante entrevista na Rua 14 de Julho (Foto: Paulo Francis)
Taxista Jorge Mario, durante entrevista na Rua 14 de Julho (Foto: Paulo Francis)

Quem se machuca - A situação também é sentida pelo lado mais frágil, no caso os motociclistas - visto que eles são as maiores vítimas de acidentes, seja por imprudência ou desatenção. Joniel Lucas, de 36 anos, afirma ao Campo Grande News que o descaso dos motoristas de carro é um perigo à vida daqueles menos protegidos.

"Ontem mesmo, estava descendo a rua com a minha esposa e um carro encostado abriu a porta de uma vez. Até juntei no freio e quase bati, falta de atenção. É constante isso”, aponta.

O promotor de vendas pilota há 15 anos e já sofreu oito acidentes. O mais recente foi em setembro de 2022, quando Joniel quebrou o ombro e rompeu o ligamento do joelho. “Imprudência do motorista. Eu estava subindo a Marquês de Pombal, o caminhão estava estacionado, não deu seta pra sair nem nada”. Para ele, tanto os motoristas de carro quanto os de moto não respeitam as leis de trânsito.

Joniel já sofreu oito acidentes de moto em Campo Grande (Foto: Paulo Francis)
Joniel já sofreu oito acidentes de moto em Campo Grande (Foto: Paulo Francis)

Quem paga? - Túlio Martins de Araújo, advogado, presidente da Comissão Especial de Trânsito da OAB/MS, disse à reportagem que o Código de Trânsito não impõe nenhuma sanção sobre a pessoa, ou seja, não prevê nenhuma pena específica sobre o assunto imprudência de abrir as portas e causar acidentes.

“Quanto ao aspecto penal, possivelmente o motorista deve responder por um homicídio culposo”. Como no caso de Miryan Lemes Torquato. Ele discorda da punição sofrida pelo condutor.

“Na minha visão, não se encaixa, porque, apesar de estar dentro do veículo, ele estava estacionado e o condutor descendo, ou seja, o carro estava desligado. A responsabilização ficaria a cargo do código penal”. A lei assegura que o condutor precisa estar no ato de direção para ser penalizado.

No acidente de Miryan, houve imprudência por parte da vítima, uma vez que ela realizava uma ultrapassagem pela direita. “Ultrapassagem pela direita, que é uma conduta vedada pelo Código de Trânsito. A investigação policial que vai apurar a responsabilidade de cada um”.

Passageira abrindo porta de carro de aplicativo, no centro de Campo Grande (Foto: Paulo Francis)
Passageira abrindo porta de carro de aplicativo, no centro de Campo Grande (Foto: Paulo Francis)

Pena - A pena para quem é indiciado por homicídio culposo (sem intenção de matar) é de 1 a 3 anos, conforme Código Penal. Se for aplicado o Código de Trânsito Brasileiro, a detenção é de 2 a 4 anos e suspensão ou proibição do direito de dirigir. Túlio destaca que as duas penalidades podem sofrer alterações se considerados outros aspectos do acidente. “Pode aumentar ou diminuir a pena”.

Carlos Alberto Pereira, especialista em trânsito, revela ao Campo Grande News que, devido ao aumento do fluxo de veículos e congestionamentos na cidade, as habilidades de manobras básicas são ainda mais necessárias.

“Isso exige outros cuidados para evitar o que chamamos de erros banais. Além do embarque e desembarque de forma desatenciosa, tem a necessidade de vermos e sermos vistos, por isso o uso da seta e do retrovisor precisam acontecer. No trânsito, temos o encontro de pessoas ansiosas com pessoas desatenciosas”, disse.

Morte - Wyllyan Caldeira, de 18 anos, morreu na manhã do dia 27 de maio, após bater na porta de um ônibus e ser arrastado pelo veículo. O acidente aconteceu na Avenida 9, Bairro Nova Campo Grande. A vítima chegou a ficar com a cabeça presa embaixo do coletivo.

Já Miryan Lemes Torquato, de 22 anos, morreu na manhã do dia 29 de junho, após cair embaixo de uma carreta e ter o corpo dilacerado. O acidente ocorreu na Rua Cacildo Arantes, no Bairro Chácara Cachoeira, em Campo Grande.

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