Na vizinhança de local de assassinato, insegurança é cotidiana
Sede de uma companhia de teatro foi furtada pela sexta vez, no início da manhã de ontem (7), momentos antes da tentativa de assalto que acabou em morte
A tentativa de assalto que terminou na morte do auxiliar de pedreiro Antônio Marcos Rodrigues de Souza, 34 anos, evidenciou um antigo problema enfrentado pelos moradores da Esplanada Ferroviária, ou o “antigo Centro”: a violência.
Pelos relatos de quem mora ou trabalha na região, roubos e furtos dividem espaço com inúmeros moradores de rua e usuários de drogas que fazem da Orla Ferroviária moradia.
Prova disso, é que minutos antes do assassinato, por exemplo, a companhia de teatro onde Vitor Samudio trabalha foi furtada pela sexta vez, só este ano. O diretor do espaço explicou ao Campo Grande News que, desta vez, o equipamento fotográfico foi levado, o que é um alto prejuízo para a companhia, devido ao valor da câmera.
“A ocupação de rua aumentou demais por aqui e ninguém sabe o que fazer. Está bem complicado. Só este ano fomos furtados seis vezes, fora o caso que registramos no final do ano passado”, afirmou Vitor. Além disso, segundo ele, a segurança pública na região deixa a desejar, o que torna tudo mais difícil.
“Infelizmente estamos presenciando essa situação e observando que as medidas de segurança pública não estão sendo tomadas. Fora que temos relatos de tudo, desde furtos até casos que comprovam a miséria que o pessoal vive por aqui, onde entraram e mexeram apenas na geladeira.
De qualquer jeito, a sensação hoje é de completa insegurança”, revela o diretor de teatro.
Problema antigo - Quem mora na região há aproximadamente três décadas, confirma que a violência aumentou há pelo menos cinco anos. “A situação ficou assim depois que fizeram a Orla Ferroviária. Essa região pode até ser considerada a “cracolândia” da cidade, porque o número de usuários impressiona. Em um único dia eu contei 19 pessoas aglomeradas”, relatou o analista de sistemas, Thiago Martins, 34 anos, que teve a casa invadida há dois meses.
Para o aposentado Nenio Roas, morador há 30 anos na região, o abandono da Orla e falta de policialmente favorecem a onda de furtos e roubos. “Aqui não passa polícia, não vejo viaturas fazendo rondas e quando a gente aciona, eles demoram a chegar. Estamos encurralados”, desabafou.
Além disso, nem mesmo aqueles que investem em segurança escapam da ação dos criminosos. “Os moradores precisam ficar se defendendo, reforçando a segurança em casa, no comércio, porque eles não respeitam nem mesmo a luz do dia. Aqui nós temos câmeras, alarme e até lanças eu instalei, mas a sensação de insegurança continua”, afirma o aposentado.
Carta – Ainda sobre a morte do auxiliar de pedreiro, por meio de carta aberta, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas, Adelaido Vila e o presidente do Conselho Comunitário de Segurança da região Central, Eliezer Melo Carvalho, acreditam que a violência presenciada “contrasta com a inércia da Justiça ao não deixar na cadeia bandidos presos uma, duas, oito, dez vezes”.
Para os representantes, é a banalização dos crimes que precisa ser combatida. “Não pode um homem ser preso sete vezes e ainda voltar às ruas, ficando livre para cometer novos crimes, para assassinar um trabalhador, que num impulso, foi defender uma mulher, também inocente, de um roubo”.
Policiamento – O comandante do 1º BPM (Batalhão de Polícia Militar), Claudemir de Melo Domingos Braz, explica que os militares “não podem agir na região se não há crime”. “Recebemos chamados sobre a questão de usuários. No entanto, se eles estão no local sem cometer algum delito não podemos impedir o passeio público”, esclarece.
Além disso, o comandante explica que os moradores não sentem a presença da polícia, pois muitas equipes permanecem na região a paisana. “Estou no comando da unidade há três semanas e a estratégia que temos implantado tem dado muito certo. Por exemplo, conseguimos diminuir a prostituição na região e também elevamos o cadastramento de imigrantes. Porém, a questão dos usuários vai muito da escolha, pois mesmo com um trabalho de orientação eles preferem não deixar as ruas”, diz.