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Capital

No bairro com nome de valsa, fama ruim era o que menos precisava

Luana Rodrigues | 07/12/2016 17:32
Sem praças ou parques para brincar, crianças jogam bola na rua no bairro. (Foto: Luana Rodrigues)
Sem praças ou parques para brincar, crianças jogam bola na rua no bairro. (Foto: Luana Rodrigues)
Bairro é humilde e precisa de melhorias. (Foto: Luana Rodrigues)
Bairro é humilde e precisa de melhorias. (Foto: Luana Rodrigues)
Cabeleireiro Alex dos Reis Victor, 34 anos, mora há 16 anos no bairro e acha que falta quase tudo no bairro. (Foto: Luana Rodrigues)
Cabeleireiro Alex dos Reis Victor, 34 anos, mora há 16 anos no bairro e acha que falta quase tudo no bairro. (Foto: Luana Rodrigues)

O nome é de uma valsa famosa, mas o Danúbio Azul campograndense pouco tem a ver com a harmonia e beleza da música de Johann Baptist Strauss, o “Rei da Valsa”. No bairro, na região norte da cidade, não há nada de muito belo ou atrativo, que “alegra o coração”, como dizem os versos do clássico. Não tem escola, posto de saúde e sequer uma praça para crianças brincarem. Tudo fica no Estrela Dalva, bairro vizinho.

Nos últimos dias, a localidade até ganhou fama, mas perdeu a identidade. Não é mais Danúbio Azul, agora é o ‘bairro do Nando’ – referência ao apelido de Luiz Alves Martins Filho, 49 anos, apontado como serial killer responsável por ao menos 16 assassinatos.

“Estamos sendo escrachados por esta fama. Tem gente que prefere nem dizer que mora aqui. Se antes morávamos num bairro ‘esquecido’, hoje somos lembrados desse jeito ruim, o que não ajuda em nada”, comenta Alex dos Reis Victor, 34 anos.

O cabeleireiro mora no bairro há 16 anos. De lá para cá, viu muita coisa mudar para melhor. As ruas são um exemplo. O asfalto chegou no início de 2015, e para ele, trouxe prosperidade.

“Minha clientela praticamente dobrou depois que as ruas melhoraram. Meu vizinho que tem uma loja de material de construção também aumentou a loja. O bairro tem outra cara, outro ar”, conta.

Apesar da fama recente, a segurança também não é ruim, segundo Alex. “Por aqui há muitos furtos, assaltos, mas é assim em todo lugar. Aqui não é esse faroeste que muita gente tem pensado. As pessoas se respeitam”, diz.

Embora o tom seja de “defesa”, para Alex o Danúbio poderia ser muito melhor do que é hoje. “Nós não temos um centro que atenda a comunidade, um espaço social, que sirva de ambiente cultural também, uma praça para as crianças jogarem bola, não temos nada. Temos muitas crianças e elas não tem onde brincar, onde ficar quando os pais estão no trabalho“, conta o cabeleireiro.

Para Aline, o que o bairro mais precisa é um local que atenda crianças. (Foto: Luana Rodrigues)
Para Aline, o que o bairro mais precisa é um local que atenda crianças. (Foto: Luana Rodrigues)

Quem conhece e sofre com essa realidade é a dona de casa Aline Santos, de 25 anos. Com dois filhos de quatro e dois anos, ela só conseguiu vaga para a menina mais velha, com isso não consegue trabalhar. “Já tentei vaga para o menino duas vezes, mas a creche não fica aqui no bairro e a prioridade é para as mães de lá, acaba que nunca consigo um lugar para deixar ele”, conta.

Enquanto cuida dos filhos, o passa-tempo de Aline é ver as crianças brincarem no campinho que eles mesmos desenharam no asfalto em frente de casa. Só na rua dela, são mais de dez crianças, que apesar de terem por si só encontrado uma solução para brincar, sentem falta de um local específico. 

“Elas brincam numa área livre que tem aqui perto, onde disseram que será construído um condomínio, e aqui na rua mesmo, depois que montaram esse campinho. Não tem muita opção, uma praça é essencial”, conta a moradora.

Para o aposentado Artur Alves Loureiro, 74 anos, o bairro precisa de melhorias, mas ninguém pode falar mal de quem vive lá. (Foto: Luana Rodrigues)
Para o aposentado Artur Alves Loureiro, 74 anos, o bairro precisa de melhorias, mas ninguém pode falar mal de quem vive lá. (Foto: Luana Rodrigues)

Apesar de faltar quase tudo no Danúbio, humildade é uma marca dos moradores do bairro. A comunidade é humilde até para apontar necessidades do local.

“Falta escola mesmo, uma praça também seria bom, mas para mim está ótimo. Antes isso aqui era um areião e hoje está assim, bom até demais”, considera o aposentado Artur Alves Loureiro, 74 anos.

E se nos últimos dias, muita gente tem falado mal do bairro, o aposentado tem um recado. “Aqui todo mundo trabalha, ninguém tem tempo para essas coisas”, finaliza.

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