No vazio do fim de semana na cidade, ficaram só os moradores de rua
A falta de água potável, produtos de limpeza, itens de higiene pessoal e, principalmente, o álcool em gel, é compensada pela fé
Parece ter sido uma eternidade, mas, passou! O primeiro fim de semana de quarentena acabou. Não teve festa, nem happy hour, principalmente o famoso churrasco com a galera reunida. Mas teve muita gente na rua. Quem? Aqueles que seguem trabalhando e, por algum motivo, outros que parecem não entender a gravidade da situação. Que preferem desrespeitar a orientação de ficar em casa, só porque "ah, eu não tenho nenhum sintoma mesmo". E, claro, aqueles que, sem ter para onde ir, "sobram" no meio da rua.
O domingo, como muitos outros, foi de plantão para parte da equipe do Campo Grande News. Logo no início do dia, no caminho para o trabalho, o sono no meio da calçada e a caminhada sem destino definido de quem não tem moradia, chamou nossa atenção. Como não se perguntar: e como eles ficam? Como os moradores de rua vão sobreviver, ou mesmo se proteger, do novo coronavírus? Como estão fazendo para evitar contaminação? Aliás, estão tentando evitar?
Domingo, 7h. Ruas vazias, trânsito tranquilo e uma missão: conversar com aqueles que, muitas vezes, não são ouvidos. Foi com isso em mente que nossa equipe saiu às ruas.
O primeiro papo foi com o Jiovane, com J mesmo. Deitado em um papelão, debaixo de uma tenda em frente a uma loja, na Avenida Afonso Pena, ele não exitou em conversar conosco.
Com apenas 22 anos, há dois nas ruas, o jovem vindo do Estado de Alagoas confessa não saber tantas coisas sobre o novo coronavírus e que, na verdade, ficou sabendo dele só porque ouviu por aí. "Foi no boca a boca", explica.
"Eu me preocupo, mas não tenho condições de me manter melhor. Eu sou situação de rua", se define Rudney, de 38 anos, ao explicar que se previne como pode.
A falta de água potável, produtos de limpeza, itens de higiene pessoal e, principalmente, o tão disputado álcool em gel, todos materiais usados na prevenção ao coronavírus, é compensada pela fé. Pelo menos é o que diz Paulo Ribeiro, em situação de rua há 14 anos, e que já faz parte do grupo de risco, no auge dos seus 68 anos.
"Tenho Deus no coração", enfatiza o morador de rua, natural de Araçatuba, que veio para Campo Grande após uma separação.
Quem também se apega em Deus é o jardineiro Valclemir, de 35 anos. Ao declarar não ter medo do surto do novo coronavírus, ele justifica: "Não vou ser contaminado por causa de Deus".
E que assim seja, Valclemir. Porque, ao contrário do que parece, Mato Grosso do Sul já registra 21 casos do novo coronavírus. Destes, 19 são apenas aqui, em Campo Grande, conforme o último levantamento divulgado neste domingo (23) pela SES (Secretaria Estadual de Saúde).
Ajuda - Questionado, o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad, afirmou que assistentes sociais acompanham o caso dos moradores de rua. "Todos estão sendo atendidos, está sendo realizado um trabalho nas ruas, conscientizando e encaminhando essas pessoas", afirmou.
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