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Capital

Obras na Bandeirantes começam com preocupação sobre estacionamento

Detalhes foram apresentados aos empresários nesta sexta-feira; temores vão de repetição a cenário da Brilhante e 14 de Julho à perda de vagas de estacionamento

Humberto Marques | 12/04/2019 21:53
Bandeirantes passará por revitalização ao longo de quase 4 quilômetros; obras começam no cruzamento com a Avenida Afonso Pena. (Foto: Humberto Marques)
Bandeirantes passará por revitalização ao longo de quase 4 quilômetros; obras começam no cruzamento com a Avenida Afonso Pena. (Foto: Humberto Marques)

O que começou com um debate marcado por preocupações quanto a repetição de problemas registrados em obras semelhantes, como as realizadas nas Ruas Brilhante e 14 de Julho, terminou com preocupações quanto à perda de metade das vagas de estacionamento da Avenida Bandeirantes e a confirmação de que, na próxima semana, os trabalhos de revitalização da via –e de implantação de uma nova etapa do corredor sudoeste do transporte coletivo– terão início a partir da Avenida Afonso Pena, rumando para o trevo do Imbirussu.

O anúncio foi feito na noite desta sexta-feira (12) por representantes da Prefeitura de Campo Grande, governo do Estado e Engepar Engenharia, responsável pelo empreendimento de R$ 8,1 milhões, durante reunião convocada por comerciantes da Bandeirantes, apreensivos quanto aos prejuízos com o avanço das obras, como já ocorreu na Brilhante e, mais recentemente, na 14.

“Na Brilhante fecharam muitos estabelecimentos foram fechando e foram deixando acontecer”, afirmou o empresário Gilson Bragini. “A reunião foi chamada para ver o que eles propõem para amenizar o nosso sofrimento”, prosseguiu, lembrando que a grande maioria dos comércios na via é de revendas de automóveis –o que geral preocupação com a perda de metade das vagas de estacionamento hoje existentes, devido a implantação do corredor de ônibus do lado esquerdo.

O temor quanto o avanço das obras mereceu atenção dos técnicos da prefeitura e da Engepar, ao informarem que a expectativa é de que não sejam necessárias interdições totais da Bandeirantes. “Queremos deixar pelo menos uma pista sempre livre, quando possível duas ou até três”, disse Ariel Serra, secretário-adjunto de Infraestrutura e Serviços Públicos de Campo Grande, responsável pela apresentação dos detalhes técnicos do projeto.

“Boa parte da rede de drenagem será feita sem interrupção total do fluxo. Não são ações tão profundas quando na 14 de Julho”, reiterou Thiago Gonçales, gerente da Engepar, durante a audiência.

Ariel Serra apresentou detalhes técnicos da obra. (Foto: Humberto Marques)
Ariel Serra apresentou detalhes técnicos da obra. (Foto: Humberto Marques)

Ilhas – As obras a serem iniciadas pela Engepar ao longo dos 3,89 km da Bandeirantes incluem a revitalização do pavimento, com construção de pista para circulação de ônibus –na qual será permitido que empresários do lado esquerdo acessem seus estabelecimentos– e sete “ilhas” próximas a esquinas, separadas por distâncias entre 300 e 700 metros, por onde será feito o embarque e desembarque de usuários do transporte coletivo.

As estações de embarque serão modulares e com tamanhos diferentes, atendendo a demanda de passageiros conforme o ponto específico da via onde ficarão. Elas ocuparão parte da terceira faixa para circulação geral de veículos –à esquerda do fluxo e à direita do corredor de ônibus, sendo interrompida nas paradas de ônibus e prosseguindo adiante.

As estruturas e o corredor do transporte público foram o ponto de maior descontentamento entre empresários, que questionaram a necessidade de trocar o local das paradas de ônibus, hoje à direita. “É um projeto de mobilidade urbana aprovado pelo governo federal, que deve seguir algumas diretrizes”, afirmou o titular da Sisep, Rudi Fiorese. O modelo, reforçou, já é adotado em cidades como São Paulo (Avenida Rebouças) e Rio de Janeiro (Copacabana).

O projeto ainda contará com uma nova sinalização viária com onda verde que, explicou Ariel Serra, permitiria circulação ininterrupta de veículos a 40 km/h.

Os detalhes técnicos do projeto dividiram as cerca de 50 pessoas presentes à reunião: de um lado, moradores e empresários que afirmaram estar há décadas na região comemoraram a intervenção. De outro, empreendedores que estão, em sua maioria, posicionados ao lado esquerdo da Bandeirantes, que põem o sucesso do projeto em dúvida e temem por impactos aos seus negócios –ao final da reunião, um grupo avaliava recorrer ao Judiciário para tentar impedir o início das obras até que detalhes como o número de vagas fosse esclarecido –já que a alternativa de parada de veículos a 45 graus foi descartada porque exigiria a tomada de parte de uma das pistas de circulação de veículos.

Carlos Assis disse que intenção é comparar obra com projetos bem-sucedidos. (Foto: Humberto Marques)
Carlos Assis disse que intenção é comparar obra com projetos bem-sucedidos. (Foto: Humberto Marques)

Projeções – Presidente da CDL-CG (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Campo Grande), Adelaido Vila cobrou dos presentes constante mobilização e levar a “expertise que adquirimos em obras como a Rua 14 de Julho e a Avenida Julio de Castilho”, a fim de evitar o fechamento de lojas e o desemprego. “Ninguém pode esperar a obra chegar na porta da loja para reclamar. Ajude agora a construir uma reforma justa”, afirmou.

Vila afirmou que, entre as opções para os empresários, está a realização de feirões ou mesmo mudanças temporárias para outras regiões, “para dar condições de suportarem esse início da obra”. A preocupação também foi apresentada por João Carlos Polidoro, presidente da ACICG (Associação Comercial e Industrial de Campo Grande), que recomendou aos empresários que se preparem para quedas nas vendas em, pelo menos, três meses a partir do início das obras.

“Há opções como linhas de capital de giro do FCO (Fundo Constitucional do Centro-Oeste) para ajudar a suportar esse momento”, disse Polidoro, que ainda pediu que o poder público “pise no acelerador” para executar a obra o mais rapidamente possível.

Morador da região, Nelson Fraide adotou discurso semelhante, lembrando ainda ter acompanhado ao longo de 40 anos diversas intervenções na Bandeirantes, “e a maioria gerou transtornos, até irrecuperáveis”, afirmou. Neste caso, porém, ele comparou a obra com a reforma da previdência: “um mal necessário”. Ele também cobrou a presença dos interessados para que sejam implementadas as mudanças que considerarem necessárias no projeto.

Segundo Rudi Fiorese, empreendimento começa na próxima semana. (Foto: Humberto Marques)
Segundo Rudi Fiorese, empreendimento começa na próxima semana. (Foto: Humberto Marques)

Realista – Chefe de Gabinete do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), Carlos Alberto Assis representou a administração estadual –parceira do projeto por meio de aporte de R$ 16 milhões no Juntos por Campo Grande II, que inclui também corredores de ônibus nas Avenidas Calógeras e Gury Marques, entre outras– no evento e destacou que a intenção será “tirar proveito das experiências positivas que tivemos com outras vias para a revitalização da Bandeirantes”.

Ele citou entre os exemplos obras realizadas nas Avenidas Eduardo Elias Zahran e Julio de Castilho, em gestões anteriores, e da Avenida Euler de Azevedo, apontada por ele como principal exemplo a ser seguido e que, também, envolveu polêmicas em sua execução.

“Lá, todos eram contra. Debitaram contra o governo tudo o que estava errado. Mas foi uma das obras de engenharia das mais modernas do país e, hoje, a Euler é exemplo. Temos uma pesquisa de satisfação que mostra que 85% dos usuários e dos moradores da região entrevistados aprovaram a avenida, que inclusive valorizou imóveis e o comércio, reduzindo também os acidentes”, discursou.

Assis antecipou, porém, que a intervenção na Bandeirantes também gerará reclamações e deixará insatisfeitos. “Não podemos mentir em relação a isso. Porém, precisamos avançar. É uma questão de mobilidade e não podemos pensar apenas em alguns meses. Temos de projetar a cidade para anos à frente”.

“O objetivo é melhorar o transporte coletivo urbano, por isso haverá a implantação da faixa exclusiva. A cidade cresce e as mudanças têm de ir acontecendo”, reforçou Rudi Fiorese, ao confirmar o início das obras na semana que vem e lembrar que, na região central da cidade, a retirada de vagas na revitalização da Avenida Afonso Pena abriu caminho para o aparecimento de estacionamentos. “Não é um projeto desenvolvido apenas para Campo Grande, outras cidades adotaram o sistema de faixa exclusiva. A temos, inclusive, na Rui Barbosa e na Calógeras e o comércio segue vivo”.

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