Para conter invasão, Emha dá ultimato e leva desespero a 70 famílias
Cerca de 70 famílias invadiram casas no Residencial José Maksoud, em Campo Grande, nestes últimos dias. Para conter a invasão dos moradores vindos de uma favela no Bairro Moreninha IV, a Emha (Agência Municipal de Habitação de Campo Grande) os notificou na segunda-feira (13) para deixarem as residências em 24 horas.
Apesar do ultimato que previa a desocupação com a ajuda da polícia e da Guarda Municipal, as famílias permaneceram no local, por que alegam não terem para onde ir. “Tenho uma mulher grávida, seis filhos e uma neta de 2 anos, sem ter onde morar. A gente tava passando necessidades na favela, sendo que aqui as casas estão fechadas. Não estou me negando a pagar, só quero que eles regularizem minha situação”, explicou um dos invasores Wilson Luiz Correa, 40 anos.
A dona de casa Ana Lupe, 21, disse que a Emha esteve no local pedindo que as famílias se retirassem em 24h ou teriam que pagar uma multa de 4 salários mínimos. “Fiquei sabendo que o pessoal estava invadindo e resolvi invadir. Não tenho condições de pagar aluguel, quanto mais para pagar essa multa que disseram que vão dar”, comentou.
A invasora Jacker Barros Ortiz, 31, falou que as casas no Residencial José Maksoud estavam fechadas, com mato alto no quintal, e sendo depredadas por vândalos. “Se estamos aqui é por que precisamos, ninguém vai invadir casa dos outros sem precisar. Até parece que eu morando eu barraco de lona vou desperdiçar a chance de morar em casa de material. O pior é que os funcionários da Emha foram mal educados e disseram que foi algum político que pediu para a gente invadir, tudo mentira”, mencionou.
A dona de casa Thais Alessandro Arce afirmou que alguns inscritos na Emha que ganharam casa, não precisavam do benefício e acabaram vendendo o imóvel. “Tem gente que tem carrão na garagem morando aqui. Outros passaram a casa para frente. Agora a gente não consegue pagar R$ 800 de aluguel, tem que ficar esperando as coisas caírem do céu”, salientou.
O carpinteiro Valdinei de Souza Santos, 35, passou por uma situação diferente. “Morava no Colibri II perto do córrego e a prefeitura nos tirou de lá para construir uma avenida, mas iria indenizar. Até agora essa indenização não saiu e os barracos foram derrubados. Alegaram ainda que estávamos em área de risco. Não tinha onde ficar e acabei vindo para cá”, justificou.
A agente de saúde Erika Nunes, 30, que tem a situação regularizada, não concorda como a Emha faz a distribuição das casas. “Ao invés deles entregarem tudo de uma vez, estão entregando as casas por etapas e isso leva tempo. É por isso que o pessoal está invadindo, quem precisa não ficar esperando”, finalizou.
A Emha informou que já está em fase de estudo para inabilitar a participação de invasores nos próximos programas habitacionais de interesse social, caso estes se recusem a desocupar as moradias invadidas. Ressaltou ainda que é evidente a atuação política configurada através dessas invasões com o objetivo de desestabilizar a gestão da agência.
Para o diretor-presidente, Enéas José de Carvalho Netto, a invasão causa danos ao patrimônio público e prejudica aqueles que já foram selecionados através do trabalho técnico social e que aguardam o andamento do processo por conta de pendências com documentação.
"Não vamos deixar os genuínos proprietários das casas do José Maksoud à mercê de um público que está com o claro intuito de promover a desordem no local. Já foram identificadas pessoas que estão utilizando as unidades habitacionais construídas com recursos financeiros do Programa Minha Casa, Minha Vida para comercialização de drogas e entorpecentes. A Polícia Militar já identificou casos em que determinados invasores estão utilizando as casas como esconderijo para motocicletas furtadas. Há também um número altíssimo de ligações irregulares de água e luz no local e todos os beneficiários que foram atendidos pelo programa pedem a saída imediata dos invasores", pontuou Enéas Netto.
Contudo, a Emha disse que atua como parceira no sentido de notificar os invasores para que desocupem os imóveis que já possuem beneficiários selecionados pela equipe técnica social da Agência. No momento, a agência não possui projetos habitacionais para os invasores.