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Capital

Irmã cobra investigação de estupro antes da morte de Mayara

Delegado diz que investigação pode mudar rumos, mas que até o momento tudo indica que foi um roubo seguido de morte

Luana Rodrigues e Marta Ferreira | 27/07/2017 18:50

"Foram três homens contra uma mulher". Em um post no Facebook, a jornalista Pauliane Amaral, irmã de Mayara Amaral, cobrou investigação severa sobre o crime, principalmente com relação a suspeita de que a vítima tenha sido estuprada. A violonista e mestre, de 27 anos, foi encontrada morta, parcialmente carbonizada e com sinais de violência sexual. A polícia registrou o fato como latrocínio – roubo seguido de morte – transgressão contra o patrimônio, que tem como “resultado” a morte.

No Facebook, em uma postagem compartilhada mais de 5 mil vezes e com quase 9 mil curtidas, a irmã reclamou de como o caso vem sendo tratado, segundo ela com base apenas na versão dos suspeitos. “Para nossa tristeza, grande parte das notícias dão bastante voz aos assassinos e fazem coro à falsa ideia de que os acusados só queriam roubar um carro. Um carro que foi vendido por mil reais. Mil reais. Um Gol quadrado, ano 1992. Se eles quisessem só roubá-la, não precisariam atraí-la para um motel”, constata a irmã.

Pauliane havia citado no post que o crime também tem características de feminicídio, mas editou o texto, reforçando o pedido de investigação da violência sexual, depois de ser orientada nesse sentido, em razão dos rumos que a investigação ainda pode tomar. O questionamento sobre a tipificação também apareceu em inúmeros posts nas redes sociais .

O delegado responsável pelo caso, Tiago Macedo, explica que o que foi dito até agora e a tipificação do crime, são fruto de uma investigação baseada não só nos depoimentos dos suspeitos, mas em outras provas, que ele prefere não revelar, segundo ele para para preservar a vítima.

Ele diz, porém, que pode mudar. “Aquela tipificação do crime foi sustentada em elementos que estão dentro do inquérito, que nós dispomos até o momento. Pode mudar? Sim, pode. Se surgir um fato novo, um elemento de informação que tenha a ver com o crime, que nós ainda não temos conhecimento”, explicou.

Ainda conforme o delegado, o crime não se caracteriza como feminicídio, porque este é quando a motivação está relacionada ao gênero sexual, e quando o crime é um homicídio.

“Neste caso, ao que tudo indica até o momento, não houve homicídio. O que aconteceu ali é que o autor, verificando a possibilidade de cometer um roubo, atraiu a vítima e teve como resultado deste crime, que é um crime contra o patrimônio, a morte da vítima. Nós verificamos que existe uma tendência das pessoas afirmarem que porque uma mulher morreu é feminicídio, mas isso não corresponde ao ordenamento jurídico”, pontua.

Na visão da irmã, e de muitos que compartilharam o texto, o crime tem um componente de violência de gênero. “Um deles, Luis Alberto Bastos Barbosa, 29 anos, por quem ela estava cegamente apaixonada, atraiu-a para um motel, levando consigo um martelo na mochila. Lá, ele encontrou um de seus comparsas. Foi tudo premeditado: ela foi estuprada por dois desumanos."

O delegado afirma que exames foram feitos no corpo da vítima e que a polícia ainda investiga o caso, portanto, a tipificação ainda pode mudar, mas reforça que os crimes de latrocínio e ocultação de cadáver, tem pena inicial superior a de feminicídio, que é uma qualificadora de homicídio. O latrocínio tem penas previstas entre de 20 até 30 anos, enquanto o feminicídio tem previsão de condenações a reclusão de 12 a 30 anos. Ambos são considerados crimes hediondos, o que exige mais tempo de regime fechado para concessão de progressão de pena. 

“Todos os exames foram realizados, agora novos fatos dependem de um eventual afirmação decorrente das investigações, não posso dizer se esse fato (estupro) será comprovado. Nós temos informações dentro da investigação que não relatam isso, depende que os elementos demonstrem isso. Mas é evidente que nós iremos ampliar a indiciamento dos autores, caso necessário", explicou Macedo.

Anderson, Ronaldo e Luis Alberto, presos pela polícia. (Foto: Marcos Ermínio)
Anderson, Ronaldo e Luis Alberto, presos pela polícia. (Foto: Marcos Ermínio)

Crime e prisão - Três homens foram presos pela morte da musicista. De acordo com o delegado, um dos suspeitos, Luis Alberto bastos Barbosa, 29 anos, que também é músico, alegou que tinha um relacionamento com a moça e combinou um encontro com ela no motel, por volta das 22h de segunda-feira (24). De acordo com a investigação, ele levou um amigo para o encontro, Ronaldo da Silva Moeda, 30 anos. No local, os dois teriam mantido relações sexuais com a jovem, segundo os suspeitos, com o consentimento dela.

Mas o plano da dupla era outro, segundo a apuração. De acordo com o delegado, eles já haviam combinado de roubar o carro e outros pertences da moça, e depois assassiná-la. Quando ela percebeu a emboscada, tentou reagir, mas acabou morta.

Mayara teria sido espancada pelos dois homens até a morte. Depois disso, já na madrugada, eles colocaram o corpo dela no carro e partiram para casa de Anderson Sanches Pereira, 31 anos, amigo dos dois.

No endereço, ainda não revelado pela polícia, o trio teria chegado a enterrar o corpo da moça no quintal, mas voltou atrás e, para não levantar suspeitas, acabou decidindo levá-lo para a região do Inferninho, onde atearam fogo.

Os três negam o crime. Eles foram indiciados por latrocínio – roubo seguido de morte - e ocultação de cadáver.

(O texto foi editado às 10h19 desta sexta-feira - 28/07 - para alterações a pedido de Pauliane Amaral)

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