Parceria entre Prefeitura e empresas tenta recuperar paisagismo que é patrimônio
Problema é que os parceiros podem estar gastando com mudas erradas
Nos últimos meses, o canteiro central da Avenida Afonso Pena, que mais parecia um 'tapete verde', foi se transformando em terra pura. Para tentar recuperar o local que é reconhecido e tombado como patrimônio histórico da Capital, empresas fizeram parceria com a Prefeitura.
A revitalização ocorre em partes dos canteiros que foram depredadas pela própria população. Pedestres que não respeitaram os locais corretos de acesso para os lados opostos da via e pisaram na grama e nas plantas.
Tentando evitar a continuidade do problema, foram colocadas estacas de madeira e fitas de isolamento para proteger as novas mudas. Um dos trechos é o do cruzamento da Avenida Afonso Pena com a Rua 14 de Julho. O local deve permanecer indicando a proibição da passagem de pessoas até que as mudas se desenvolvam.
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Segundo o arquiteto paisagista Nestor Neto, a grama esmeralda, plantada nos canteiros da Avenida Afonso Pena, é utilizada em pelo menos 95% dos projetos de paisagismo no Estado.
Ele explica que as "falhas" e a aparência seca são consequências da falta de irrigação, alta incidência de sombra e o pisoteio de pedestres que cortam caminho pelos canteiros.
A solução, de acordo com o arquiteto paisagista, é o investimento na implantação de irrigadores automáticos, que devem ser programados para molharem os canteiros três vezes ao dia. “Ele vai molhar de acordo com um timer e tem sensor de chuva também, se chover, ele não liga a irrigação. Esses canteiros todos aqui precisam de água pelo menos duas vezes por dia”.
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O profissional reconhece que a Prefeitura de Campo Grande faz grandes investimentos na arborização e paisagismo da Capital, mas observa que existe falta de conhecimento do solo e da vegetação de Mato Grosso do Sul na hora de elaborar os projetos. "As empresas que ganham a licitação não têm conhecimento sobre o nosso Estado para conseguir aplicar o paisagismo".
O profissional explica que o Estado possui um declive de 28 graus, que faz com que a inclinação do sol modifique no inverno e no verão, ou seja, uma planta que vinga nas estações mais frias não vinga na estações mais quentes, e vice-versa. "Mato Grosso do Sul é um estado ótimo para lavoura, mas para planta ornamental não é a mesma coisa. Planta ornamental vem da Mata Atlântica, que não existe no nosso estado”, explica.
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Neto explica que as árvores da família de dracenas estão crescendo inclinadas porque estão à procura da luz do sol. No canteiro podem ser encontradas dracenas tricolor e cordeline, ambas variegatas. “A própria folha variegata já diz ‘sou de sol’, e ela está plantada na sombra. Ela está sobrevivendo e não está vivendo".
O mesmo acontece com as palmeiras de grande porte encontradas plantadas próximas às árvores centenárias da Avenida Afonso Pena, entre as ruas 14 de Julho e Calógeras. "Se ela chegar a crescer, o que provavelmente não vai conseguir, ou ela vai entortar ou ela vai encostar nas árvores".
Eu acredito que a prefeitura investiu pensando em um resultado. Falta responsabilidade de quem ganha a licitação de exigir certas coisas para que esse paisagismo tenha um futuro. [As plantas] estão morrendo, e as outras partes da Afonso Pena estão todas na mesma situação”, observa o arquiteto paisagista Nestor Neto.
Questionada sobre as observações feitas pelo entrevistado, a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana) informa que o paisagismo que está sendo realizado neste momento no canteiro central da Avenida Afonso Pena, é executado por empresas parceiras da Prefeitura, não havendo nenhum custo para a gestão municipal.
A manicure Vera Alice Carlos, 35 anos, costuma passar pelo Centro rotineiramente e observa que a arborização é essencial, pois protege das altas temperaturas que a cidade tem registrado. "Aqui é muito quente. A gente que vem de São Paulo estranha. Então tem que ter bastante árvore aqui mesmo".
O vigilante de carro-forte Paulo César Amorim, 56 anos, mora em Florianópolis e veio para a capital de Mato Grosso do Sul visitar a família. Enquanto andava pelo centro de Campo Grande, parou para se "refrescar um pouco" na sombra da árvore.
Amorim elogia a cidade pela grande quantidade árvores e sombra fresca. Quanto às plantas, declara que "melhor grama do que terra, ou outro tipo de planta".
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