Por som alto, dona de espaço cultural vai algemada para delegacia
Funcionários afirmam que pelo menos quatro viaturas cercaram o espaço que fica no centro da Capital
Em domingo de final da Batalha da Diversidade, proprietária do Laricas Cultural, de 37 anos, foi levada algemada para a delegacia. Os policiais que estiveram no local alegam que a proprietária do espaço cultural teria xingado e ameaçado os PMs. Funcionários afirmam que pelo menos quatro viaturas cercaram o espaço que fica no centro da Capital e acreditam ser perseguição por se tratar de um espaço alternativo.
Conforme o boletim de ocorrência registrado, por volta das 2h da madrugada desta segunda-feira (11), a PM (Polícia Militar) foi até o espaço cultural após receber reclamações sobre perturbação do sossego alheio, com som alto e algazarra. Ainda é relatado que o endereço é conhecido pelos policiais por essas reclamações.
Os militares que estiveram no local relataram que ao chegarem, ouviram um som muito alto vindo da residência. A equipe tentou encontrar um responsável pelo evento para conversar, mas não tiveram êxito. Insistindo em falar com alguém, os policiais acionaram a sirene da viatura algumas vezes tentando chamar a atenção da proprietária do espaço.
Após alguns minutos, os PMs afirmam que a responsável pelo local saiu agitada e falando alto. Os militares relatam que após informarem sobre as reclamações, começaram a ser desacatados pela proprietária do local com deboches e ironias. Ainda foi dito que ela teria falado que não reconhecia a autoridade dos policiais.
A proprietária teria relatado para a equipe que o evento já havia chegado ao fim e que o som não estava alto, além de dizer que não concordava com a presença da polícia em seu estabelecimento e por isso não era obrigada a respeitá-los. Em certo momento, a mulher teria ficado exaltada e começou a xingar os militares dizendo: “Vai se fu***, vão prender bandidos!”, conforme descrito pela PM.
Neste momento, o público do evento começou a sair do espaço cultural e ficaram em volta da viatura composta pelos dois policiais. Quando soube que seria levada para a delegacia, a mulher teria começado a incitar que o grupo fosse contra a PM. Assim, sendo necessário que outra viatura fosse até o local para dar suporte à equipe.
Por se recusar a ir para a delegacia, os militares precisaram algemá-la e colocá-la no camburão. Os policiais também apreenderam uma mesa de som e uma caixa de som que estava sendo usada durante o evento. Mesmo detida, a mulher teria continuado a ameaçar os policiais dizendo ter conhecidos influentes na mídia local.
Boletim de ocorrência registrado contra a proprietária é de desacato, desobediência e pertubação do trabalho ou do sossego alheio. Outros dois jovens, que não tiveram idade e nome divulgados, também foram levados para a delegacia por estarem com maconha.
O Campo Grande News entrou em contato com a proprietária do local que disse que estava resolvendo algumas situações jurídicas e que não poderia falar com a reportagem naquele momento. “Estou bem abalada com a situação”, afirmou.
Nas redes sociais do Laricas Cultural, uma publicação foi feita agradecendo o apoio recebido pela mulher e mais uma vez foi reforçado o abalo sentido pela mulher. “Sentimento de impotência! Muito triste”.
Repercussão - Muitos frequentadores do espaço cultural saíram em defesa do local utilizando as redes sociais. “Essa cidade o artista/produtor não tem um segundo de paz”, diz um trecho de uma das publicações.
“Um absurdo o que rolou ontem no Laricas. Evento de batalha da diversidade rolando e infelizmente o fim foi o equipamento de som sendo levado embora pela polícia. [...] A cultura nessa cidade é obrigada a resistir porque o objetivo deles sempre foi a repressão”, diz outra publicação.
Outra versão - Outra que saiu defendendo o espaço foi a cantora Beca Rodrigues, de 24 anos, que também estava no local quando a abordagem ocorreu. Ao contrário do que foi descrito pela PM, a artista diz que cerca de quatro viaturas e quatro motos oficiais foram até o estabelecimento e fecharam a entrada da casa.
“Começou umas 16h, a abertura do portão e as batalhas começaram lá pelas 20h, 20h30 e encerrou em um horário bem tranquilo inclusive, que foi o horário que a polícia apareceu lá [...] Eu não lembro [o horário], mas assim na hora em que nós já estávamos desmontando as coisas e o pessoal estava indo embora foi a hora que o pessoal apareceu”, contou.
Por sempre estar ajudando e participando dos eventos que acontecem no Laricas Cultural, a cantora relata que as denúncias de som alto acontecem com certa frequência. Em outras vezes que a PM foi até lá, a situação foi resolvida através de conversa.
Por estar trabalhando na cozinha durante essa madrugada, Beca diz que não conseguiu ver como aconteceu a abordagem com detalhes. Porém, ao sair, viu que quem ainda estava no espaço foi colocado na parede para ser revistado. Ainda, foi relatado que uma outra funcionária disse ter visto o momento em que um dos policiais colocou Luanna no chão para ser algemada.
Foi foi bem, foi bem revoltante também, porque a gente ficou meio assim bem impotente também, porque eles só entraram na casa dela, pegaram as coisas sem nenhum mandato sem nada, só entraram. Geralmente, eles vão, falam para desligar o som e tudo mais, mas aí só chegaram revistando todo mundo, colocando todo mundo contra a parede”, relembrou.
A artista diz também que o evento realizado nesta noite era uma etapa de seleção de uma artista que representaria o Estado no evento nacional. Por isso, no espaço havia muitas pessoas de outras cidades e algumas que estavam indo pela primeira vez conhecer o ambiente e saíram de lá assustados com a situação.
“A gente tenta fazer vaquinha, tenta juntar dinheiro para construir um palco melhor, para ter um som melhor, para não né atrapalhar esse vizinho, porque os outros vizinhos são tranquilos, eles frequentam o Laricas e não conseguimos porque o tanto de denúncia tanto de coisa, a gente tem que reagir pagando mesmo processo, né? Não é barato pela metade do dinheiro que a gente é caro sempre vai pra isso, entendeu?”, explica.
Também foi relatado que apesar das reclamações constantes, os eventos costumam terminar no horário determinado e que o espaço possui autorização para manter o funcionamento.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.