Prefeitura tem 90 dias para explicar espera de pacientes por ambulâncias
Sesau alega ter 11 ambulâncias para fazer os atendimentos, mas as reclamações de demora são recorrentes
MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) deu prazo de 90 dias para a Prefeitura de Campo Grande apresentar uma justificativa sobre a recorrente demora no atendimento das ambulâncias do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).
O pedido de esclarecimento dos fatos foi encaminhado pela primeira vez no dia 12 de janeiro, com prazo de 20 dias para a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) enviar resposta. Contudo, a pasta não retornou no tempo estipulado e o MPMS protocolou novo ofício no dia 4 de fevereiro. Desta vez, a prefeitura deverá responder até maio.
A ação do MPMS ocorreu após o contador Everson Silva denunciar a situação do município na ouvidoria do órgão. Ele relata que, em janeiro, acompanhou uma tia que estava internada em uma unidade de saúde e precisava ser internada no HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul).
"Ela foi regulada para o Regional às 11h, quando deu 17h, ainda não tinha sido transferida por falta de ambulância. Aí comecei a correr atrás para saber o que estava acontecendo. Se você compra alguma coisa pela internet e não recebe, você vai atrás. Com serviço público eu tento fazer a mesma coisa", explicou Everson.
Everson disse que procurou a Sesau e foi informado que o município tinha 12 viaturas, mas apenas 5 estavam em pleno funcionamento, porque as outras estavam estragadas. Foi quando solicitou intervenção do MPMS.
Em nota, a secretaria respondeu ao Campo Grande News que o Samu opera com 11 viaturas no atendimento de vítimas de acidentes de trânsito, emergências clínicas e no transporte inter-hospitalar de pacientes.
O serviço recebe 20 mil ligações e realiza 4 mil atendimentos por mês dos mais variados níveis de complexidade. Em relação ao tempo de atendimento, a pasta alegou que varia de acordo com a complexidade e gravidade da ocorrência. Em casos de urgência, por exemplo, seria de 20 minutos.
A secretaria também disse estar em tratativa com os hospitais para evitar que esse tipo de situação continue ocorrendo. "Cabe esclarecer que nos últimos cinco anos, o serviço teve 100% da sua frota renovada, saindo de três viaturas operacionais, ou seja, em atendimentos, para as atuais 11 viaturas".
Em relação à denúncia protocolada ao MPMS, a Sesau afirmou que responderá dentro do prazo estipulado.
Conforme a peça orçamentária da Prefeitura de Campo Grande aprovada, foram destinados R$ 28.794.734 para a operacionalização do Samu em 2023. Foram previstos ainda R$ 18.917.794 do tesouro, R$ 100.000 de recursos próprios e R$ 9.776.940 de outros recursos, totalizando R$ 57.589.468.
Reclamações - A reportagem noticiou a demora nos atendimentos na segunda-feira (6), quando a estudante de técnico em enfermagem Giovanna Souza de Oliveira, 18, esperou, em vão, socorro para uma mulher que passou mal em um ônibus do transporte público de Campo Grande.
"A moça não conseguia ficar em pé, desmaiou. Tivemos que segurar ela na cadeira, ficou muito branca, com a pulsação baixa e reclamou de formigamento nos braços. Ficamos mais de 1h aguardando atendimento. O que fizeram, de não dar um auxílio, deixar a moça que estava muito mal esperando, foi um pouco caso. Nem o Samu, nem o Corpo de Bombeiros foram até o local", relatou.
Em novembro do ano passado, a filha do radialista José Luiz Alves, de 61 anos, sofreu um acidente doméstico no quintal de casa e quebrou o pé. A família acionou primeiro o Corpo de Bombeiros, mas depois de meia hora de espera ligaram para o Samu, que confessou não ter nenhuma ambulância disponível para atendê-la.
"Alguém falou que não tinha viatura disponível no momento, que todas que tinha estavam em atendimento. Foi perguntando o estado de saúde dela e a gente passou, aí eles orientaram que nós levássemos ela até a UPA", relatou José.
Ele a levou de carro até a UPA Leblon, onde constataram que ela precisaria ser transferida para a Santa Casa. Contudo, lá também não havia ambulância disponível para transportar ela até o hospital e não autorizaram que ela fosse de carro.
"Tinha gente esperando há um dia lá por ambulância, aí contratamos um serviço particular para levar ela de ambulância. Cobraram R$ 350 reais para transferirem ela da UPA para a Santa Casa, porque no caso dela não precisaria ter uma equipe médica para acompanhá-la, era o serviço mais em conta. Tivemos que pagar mesmo sem ter condições, pegamos um cartão de crédito emprestado, para ela conseguir ser atendida", apontou.
A demora acontece mesmo em casos críticos, em que as vítimas não podem ser transportadas de carro, como em acidentes de trânsito. No dia 20 de janeiro, Elisa Lopes, de 39 anos, precisou esperar quase três horas para ser resgatada após uma colisão entre a moto Biz que pilotava e um Renault Duster.
O acidente aconteceu no Bairro Taveirópolis, em Campo Grande. O irmão dela, Emerson Gomes, de 49 anos, acionou o Samu por volta das 12h45, mas disse que não houve atendimento até as 15h26, quando o Corpo de Bombeiros chegou ao local. “Pra ter uma ideia, a gente pegou chuva, sol, uma garoa e sol de novo. Tudo isso sem os bombeiros chegarem”, disse.
A reportagem questionou o atraso no atendimento do Corpo de Bombeiros, mas não recebeu retorno até a publicação.
O MPMS afirmou ao Campo Grande News que uma das solicitações é a respeito da "possibilidade de aumentar a quantidade de ambulâncias para realização de transporte de pacientes no município de Campo Grande". A Promotoria de Justiça da Saúde esclarece ainda que o prazo de 90 dias se refere ao prazo para conclusão da notícia de fato anteriormente instaurada pelo Ministério Público.
Após o encerramento deste período, o MPMS poderá arquivar o procedimento, caso a questão já se encontre resolvida, ou dar continuidade à investigação, buscando soluções para que o município preste o adequado atendimento de saúde à população.