Preso, condenado reencontra irmão que "puxou" cadeia no lugar dele por 22 dias
Emilson Rodrigues usou o nome do irmão, Edimilson, para cometer crimes e foi preso essa madrugada, no Tijuca
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Emilson Rodrigues da Costa, 52 anos, foragido do sistema penal foi preso na madrugada de hoje, empurrando carro no Jardim Tijuca. Ao ser abordado, ainda tentou se identificar com o nome do irmão, o gesseiro Edimilson Rodrigues da Costa, 49 anos.
Por causa da estratégia, já adotada anteriormente por Emilson, o outro, Edimilson, foi preso por engano e passou 22 dias no IPCG (Instituto Penal de Campo Grande), até que ontem teve a liberdade concedida pelo juiz da 2ª Vara de Execução Penal, Albino Coimbra Neto. O caso foi mostrado em reportagem do Campo Grande News nessa terça-feira.
Menos de 12 horas depois, por volta das 3h da madrugada de hoje, Edimilson foi acordado pela Polícia Civil, avisado que deveria comparecer à Depac/Cepol (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) para colher impressões digitais. O motivo era a prisão do irmão, ocorrida poucas horas antes.
“Os policiais pediram para que eu viesse [delegacia] para pegar minha digital, trouxeram ele para cá e pediram para comprovar que sou inocente e, ele, culpado”, contou Edimilson. Foram cerca de três horas na delegacia até que se fizesse a coleta de digitais e se definisse quem era quem. “Ficou comprovado que eu sou eu, ele é ele”, disse, aliviado.
Frente a frente com o irmão, depois de 13 anos sem contato, Edimilson disse que ele pediu desculpas por usar seu nome durante anos. “Falei que o que ele fez não tem desculpas, falei para ele pagar pelo crime dele e seguir com a vida dele”, disse o gesseiro, bastante emocionado, acompanhado da esposa, Sueli.
Segundo informações apuradas pela reportagem, Emilson foi preso por acaso, à 0h48. Foi visto empurrando carro em uma rua do Jardim Tijuca e abordado e se identificou com Edimilson. Aparentava nervosismo e suor frio, segundo boletim de ocorrência. Errou a data de nascimento que usava como dele, mas era do irmão, e trocou a ordem do sobrenome da mãe.
No boletim, consta que os policiais militares já sabiam da confusão envolvendo os irmãos, por terem lido a reportagem do Campo Grande News. Na Depac, foi pedida a presença de perito papiloscopista para o teste da identidade, considerado insatisfatório. A solução foi o contato com Edimilson para acabar com qualquer dúvida e, por isso, foram até a casa dele, de madrugada.
Emilson foi condenado por crimes de homicídio qualificado, tráfico de drogas e roubo, com penas que somam 22 anos, 9 meses e 15 dias. Estava na Gameleira, onde cumpria regime semiaberto e fugiu no dia 19 de abril. No dia 23 de maio, o juiz da 2ª Vara de Execução Penal, Albino Coimbra Neto determinou a perda da progressão e volta ao regime fechado, por conta da evasão.
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Foi aí que os caminhos dos irmãos se cruzaram novamente. No dia 30 de maio deste ano, Edimilson Rodrigues da Costa foi até a Depac/Cepol registrar o falecimento da mãe, Raimunda. Como o irmão usou o nome dele em várias ocasiões, constava um ofício, emitido pela Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) com a informação que Edimilson era foragido da Gameleira.
No processo da Vara de Execuções Penais contra Emilson a confusão permanece, até com a ficha criminal com o rosto dele e os dados do irmão e, em outras páginas, os despachos com o nome correto do condenado.
Foi solto somente ontem, 22 dias da prisão. O juiz havia determinado alvará de soltura no dia 14 de junho, mediante identificação datiloscópica, mas outra confusão, com envio de documentos para presídio errado, retardou ainda mais a liberdade, que só ocorreu ontem.
O advogado José Gondin, que representa Edimilson, diz que agora a coleta de digitais comprovou a identidade de cada um e o processo seguirá os trâmites, para que todos crimes que constam na ficha dele sejam repassados ao irmão, que os cometeu. No sistema, consta lesão corporal, ameaça, roubo tentado, dano e ameaça. “Nada disso é dele”, afirmou.
Edimilson voltou para casa com a esposa, agora, com expectativa de não se mais confundido com o irmão.
Resposta - Em contato com a Agepen, o Campo Grande News foi informado ontem que “apenas executa as determinações judiciais, não interferindo no trâmite processual. O referido interno está sendo liberado nesta tarde, após a realização do exame de datiloscopia, realizado pela perícia técnica da Polícia Civil, conforme condicionado no próprio Alvará de Soltura”.
No Instituto de Identificação da Polícia Civil, a informação foi de que não se sabe a razão da demora para fazer o exame, e que o pedido chegou ao instituto apenas ontem.