Projeto emperrado trava comércio: "ninguém põe mais um prego aqui"
À espera de uma revitalização orçada em R$ 70 milhões, a rua 14 de Julho, que já foi o coração comercial de Campo Grande, agora bate em descompasso. Enquanto boa parcela dos clientes migra para os shoppings e centros comerciais, o projeto Reviva Centro só deve chegar à via em outubro de 2016, contabilizando, numa projeção otimista, um ano de atraso.
“É muita conversa e pouca solução. A gente está sendo muito penalizado, fomos obrigados a tirar as marquises. Não deu mais condições para o cliente. O shopping tem muito mais condições de estacionamento, ar-condicionado, local de alimentação”, afirma o presidente do Conselho do Centro, Edmir Arnas.
Segundo ele, a previsão era de que a revitalização da 14 de Julho, entre as avenidas Fernando Côrrea da Costa e Mato Grosso, começasse em outubro do ano passado. “E já estamos em março de 2016. Hoje, quando chove, forma uma lâmina de até 40 centímetros na 14 de Julho, esquina com a Afonso Pena. É um alagamento total. Enche de água no coração da cidade”, diz Arnas.
Em dezembro de 2014, a loja Feirão dos Calçados tinha 25 funcionários no atendimento ao público. Em dezembro do ano passado, o total caiu para 10. Segundo o gerente Evanildo Francisco dos Santos, o números retratam a migração de clientes. “E olha que só com 10 não houve sufoco, não passamos aperto nenhum. A esperança é que aconteça a revitalização. Mas só acredito quando começar”, afirma.
Enquanto a rua revitalizada, com fiação subterrânea, calçadas alinhadas e até arborização permanece na condição de projeção, a 14 de Julho real tem calçamento desnivelado, fiação exposta e sem acessibilidade.
“Ninguém quer colocar um prego na área central. Nem lixeira querem colocar mais. Não tem nenhuma benfeitoria. Não querem pôr mão enquanto não chegar o recurso do Reviva Centro, que se arrasta desde a gestão do Nelsinho [Trad]. Nós fizemos a nossa parte e a prefeitura não fez a parte dela”, afirma o presidente do Conselho de Segurança da Área Central, Adelaido Luiz Espinosa Vila.
Mas em meio aos problemas, a rua do Centro ainda tem seu público cativo. A autônoma Ângela Aparecida da Silva, 35 anos, conta que prefere a região central aos shoppings. “Venho para fazer compras, pagar contas”, diz.
Travado – Coordenadora da Central de Projetos da Secretaria de Governo, Catiana Sabadin, afirma que o atraso no projeto é devido à lentidão do governo federal no trâmite para assinatura do empréstimo de US$ 56 milhões com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). “Trabalhamos com a possibilidade de assinar em abril. Se tudo der certo, vamos inciar a obra em outubro desse ano”, diz.
O montante vai custear a revitalização da 14 de Julho, iniciativa de habitação na região central e um terceiro projeto. Para a rua, foi mantido o conceito de shopping a céu aberto. “Vamos priorizar os pedestres, trabalhar acessibilidade, mobiliário urbano. Um projeto robusto de arborização”, afirma Catiana.
Conforme levantamento realizado pelos comerciantes do Centro, no quadrilátero previsto pela revitalização está concentrado 42% do ISSQN (Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza), que é recolhido pela prefeitura. São 1.971 empresas de serviços, 1.437 lojas de comércio e 1.751 imóveis residenciais, totalizando 5.268 imóveis que serão impactados pelas obras do Reviva Centro.
Há seis anos – O Plano para Revitalização do Centro foi instituído em 20 de julho de 2010 pela Lei Complementar 161. No ano seguinte, a prefeitura baixou decreto sobre os anúncios nas fachadas das lojas, exigindo reformas. Em 2014, foi criado o Funcentro (Fundo de Fomento ao Plano de Revitalização do Centro)