Recomeço para quem perdeu tudo, mutirão oferece 20 serviços a moradores de rua
Expectativa é encerrar às 17h desta quarta-feira (8) com atendimento a mais de 700 pessoas em 3 dias
Perder tudo não é um modo de dizer. Na fila do atendimento, há pessoas que perderam todos os documentos e, por diversos motivos, foram morar nas ruas de Campo Grande. Conseguir um RG (Registro Geral) é o início de um recomeço de vida com portas se abrindo para o mercado de trabalho, retomada de vínculos com a família e sonhos diversos para quem já foi ao mutirão na Uaifa I (Unidade de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias), que atende até as 17h desta quarta-feira (8), último dia.
Desde segunda-feira (6), mais de 660 pessoas foram atendidas com emissão gratuita de documentos, como certidões, CPF (Cadastro de Pessoa Física) e inscrição e regularização da situação eleitoral. Também é possível ajuizar ações na Justiça Federal e conseguir benefícios previdenciários e assistenciais na hora.
Acolhido da Uaifa há duas semanas, Flávio Augusto de Araújo, de 45 anos, chegou a morar na rua por um mês, depois de sofrer um acidente de trabalho que resultou na amputação de um dedo. Na unidade, ele retomou a procura por documentos e hoje buscou a Justiça no mutirão para conseguir indenização pelo acidente.
Esse atendimento é ótimo, deveria ter mais desse tipo, inclusive nos bairros, pois tem muita gente precisando. Tem gente que não tem R$ 180 para tirar uma identidade”, disse Flávio.
Perto dele, um homem que ficou sem documentos depois de AVC (Acidente Vascular Cerebral), no ano passado.
Donizete Luiz de Souza, de 56 anos, teve sequelas e quando se recuperou percebeu que não poderia nem trabalhar sem os documentos.
Vim na segunda e estou com os protocolos. Preciso da identidade primeiro para conseguir a carteira de trabalho. Hoje, vim novamente e vou esperar para tentar também um benefício”, disse Donizete.
Justiça - No primeiro dia, a Justiça Federal realizou 22 atendimentos e 19 audiências com perícias médicas, que resultaram em 13 acordos com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) para concessão de benefícios. Na terça-feira (7), foram 29 audiências, com 20 acordos, segundo a diretora do Foro da Seção Judiciária de Mato Grosso do Sul, juíza federal Monique Marchioli Leite.
Há uma resolução do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) que recomenda que os tribunais promovam ações como essa para que as pessoas com dificuldade de acesso aos serviços sejam atendidas. Com isso, conseguimos devolver a dignidade a elas”, comentou Monique.
Outros Serviços - A Prefeitura de Campo Grande também está com equipes da Amhasf (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários), SAS (Secretaria de Assistência Social), Funsat (Fundação Social do Trabalho), Funesp (Fundação Municipal de Esporte), Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) e SDHU (Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos).
A superintendente de Proteção Social Especial da SAS, Tereza Cristina Miglioli Bauermeister, explica que a ação está superando as expectativas de público e a equipe faz transporte dos moradores de rua até o local do mutirão.
“Aqui há serviços que são oferecidos diariamente pela assistência social, mas termos todos esses serviços reunidos em um só local junto a outros atendimentos da Justiça facilita o acesso para dar a essas pessoas expectativas de retomada da dignidade e do trabalho”, comentou Tereza.
Participam da ação o Governo do Estado, Tribunal Regional Federal da 3ª Região, Tribunal de Justiça, Tribunal Regional Eleitoral, Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região, Procuradoria-Geral Federal/Advogacia Geral da União, Defensoria Pública, Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Exército, Receita Federal, Polícia Federal, Caixa Econômica, INSS, Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), Instituto Brasileiro de Direito da Família e Associação dos Registradores Civis de Pessoas Naturais de Mato Grosso do Sul.
Local - A Uaifa I (antigo Cetremi) fica na Rua Jornalista Marcos Fernandes, sem número, no Jardim Veraneio. O atendimento é para pessoas que moram nas ruas ou saíram dessa situação recentemente, migrantes e imigrantes.