Risco de multa enquadra pais, mas caos reina na porta de escola sem fiscalização
Longe dos agentes da Agetran, se repetiram os tradicionais abusos no trânsito
A mesma quinta-feira foi de cenários bem diferentes no portão dos colégios particulares de Campo Grande. Onde havia fiscalização, os pais se viram forçados a fazer o desembarque dos alunos de forma correta, sem transformar a rua, um espaço público, num anexo do estabelecimento de ensino.
Nas escolas sem agentes da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) e os talões de multa, reinou os abusos de sempre, uma terra sem lei com crianças sendo “despejadas” nas ruas, pais apressados e desprezo pelas regras impostas pelo CTB (Código de Trânsito Brasileiro).
Os condutores não conseguiam esconder o susto ao se deparar com fiscalização de trânsito em frente a colégio particular na Rua Pernambuco, no Jardim Autonomista. Enquanto adolescentes já se apressavam em abrir a porta para saltar dos veículos, os pais pensavam melhor e seguiam em frente em busca de um local adequado para o desembarque. Na via de mão dupla, qualquer paradinha resulta em congestionamento.
Mesmo diante da dupla de agentes da Agetran, o condutor fechou a calçada com uma caminhonete. Só desistindo da irregularidade diante do alerta da autoridade de trânsito. Nesse quadro de pais endinheirados, circulando em veículos de luxo, o agente ainda precisa lidar com desculpas e “broncas”. Há quem reclame do tom de voz do profissional, que precisa gritar para ser ouvido em meio ao tráfego.
Na manhã desta quinta-feira (dia 3), o trabalho foi educativo. Mas em dois casos, condutores não escaparam de multa: um por usar o celular ao volante e outro por levar criança no colo no banco da frente.
Já na Rua Alfredo Zamlutti, no Bairro Antônio Vendas, sem qualquer tipo de fiscalização, a calçada do lado esquerdo da via foi tomada por veículos com pais à espera dos alunos. Num dos carros, um homem, que não quis se identificar, diz que a falta de vagas o obriga a cometer a infração de trânsito.
Outro pai, um servidor público de 42 anos, disse que prefere estacionar longe e garantir a segurança da filha de 10 anos. “Sempre paro em local adequado”, diz.
Educativa - Nesta volta às aulas, o poder público se mostra benevolente com os condutores, sem multa por fila dupla. Apesar de todo motorista ser devidamente informado sobre as regras do CTB ao passar pelo processo de habilitação, a fiscalização começa apenas educativa em Campo Grande.
“Vamos verificar o respeito à faixa de pedestre, fila dupla, utilização de celular. Mas é um período educativo. Estamos há dois anos sem aulas totalmente presenciais por causa da pandemia. Muitas coisas aconteceram. Os pais se acomodaram, ficaram desatentos. Não vamos chegar de cara e penalizar essas pessoas. Nesse primeiro momento, é orientação. Dentro de alguns dias, terão penalização”, afirma o chefe de fiscalização da Agetran, Carlos Guarini.
Nessa volta às aulas, a Agetran e a Guarda Civil Metropolitana atendem oito escolas por dia. O efetivo é de 20 agentes e guardas para toda a Campo Grande.
Estacionar em fila dupla é infração grave, com multa de R$ 195,23 e cinco pontos na CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Além da fila dupla, o CTB também proíbe outros “jeitinhos”, como estacionar na frente de garagem, na calçada, na faixa de pedestre e na parada de ônibus.