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Capital

Chega de fila dupla: conscientização, drive-thru e até app surgem como solução

Inércia do poder público deixa problema correr solto

Cleber Gellio | 10/11/2021 15:08
Drive-trhu permite que os veículos entrem nos pátios das escolas. (Foto: Cleber Gellio)
Drive-trhu permite que os veículos entrem nos pátios das escolas. (Foto: Cleber Gellio)

Que o problema da formação das filas duplas vem do fluxo de veículos nas escolas particulares e que a maioria delas faz 'vistas grossas' à confusão no trânsito, não restam dúvidas. Ao transferirem a responsabilidade à falta de educação de alguns pais e à inércia do gerenciamento de tráfego municipal, demonstram o total desrespeito com os demais condutores.

Diante deste quadro, o Campo Grande News, dessa vez, desviou da burocracia das regras e partiu em busca das exceções, ou seja, instituições de ensino do mesmo segmento que têm dispensado maior atenção ao problema e trazido para si, uma vez que o poder público ‘lavou as mãos’ e concentrou esforços em outras frentes, a tarefa de apresentar soluções. Realmente são poucas, mas com ações pragmáticas e em alguns casos, até inovadoras.

Como o aplicativo Filhos Sem Fila, implantado pela escola Maple Bear a fim de agilizar o processo de embarque e desembarque de 225 alunos, com faixa etária entre dez meses e 10 anos. O canal de comunicação entre escola e pais reúne 200 usuários e funciona da seguinte forma: quando o responsável pelo aluno estiver a um raio de aproximadamente dois quilômetros do local, aciona o app, que envia o alerta para a central da escola.

Central recebe aviso dos pais antes de chegar ao local de embarque. (Foto: Cleber Gellio)
Central recebe aviso dos pais antes de chegar ao local de embarque. (Foto: Cleber Gellio)

“Utilizo e acho uma maravilha, no início, não acreditei que fosse funcionar”, disse a médica dermatologista, Daniele Magnani, 39 anos, mãe da Beatriz, de três anos, e Augusto, de cinco anos.

Já para a pedagoga Janaina Saraiva, 37 anos, “o aplicativo não é tudo isso” e sugere melhorias. “Acho que trava muito e nem sempre o aluno está pronto para embarcar, além de que o raio de abrangência para enviarmos o alerta poderia ser maior”, observou a intérprete de Libras.

A alternativa surgiu após Rafaat Toumani, 31 anos, diretor administrativo, perceber que precisavam desenvolver medidas mais robustas, uma vez que o fluxo no local, na Av. Rodolfo José Pinho, entre a rotatória da Rua dos Vendas e Rua Pau Brasil, no Jardim São Bento, em horários de pico, muitas vezes, causam congestionamentos. “Estamos sempre buscando medidas que possam contribuir não só para reduzir o impacto no trânsito, mas também o risco às crianças”, explica Toumani.

A ferramenta digital chega para auxiliar outro sistema adotado pelas instituições com o objetivo de facilitar o embarque e desembarque dos alunos: o drive-thru interno. Este modelo permite aos pais entrar com o veículo nos pátios dos estabelecimentos na hora de buscar os filhos. De acordo com o empresário, eles [escola] já contam com o drive desde 2016 e revela que estão construindo a segunda unidade do grupo, que abrigará alunos do ensino médio. Prevista para ser inaugurada em 2023, o novo polo no Bairro Chácara Cachoeira terá capacidade para 600 estudantes, o que demandará novos esforços na mobilidade. “Durante nossas reuniões sobre o projeto arquitetônico, o drive-thru foi ponto principal das discussões. Vamos destinar 715 metros quadrados de nossa área térrea somente ao drive”, ressaltou.

Em horário de pico, principalmente no almoço, trânsito fica complicado. (Foto: Marcos Maluf)
Em horário de pico, principalmente no almoço, trânsito fica complicado. (Foto: Marcos Maluf)

Especialista em segurança viária, o engenheiro Flávio Salomão Cândia, 56 anos, explica que quando se implanta uma unidade geradora de fluxo como uma instituição de ensino, por exemplo, dependendo de algumas das localidades, tem que se fazer, por parte do poder público, um estudo de conformidade de tráfego para dimensionar o impacto no trânsito. “O mesmo deverá ocorrer quando os polos geradores passam por alterações. Se uma escola conta com uma quantidade "x" de alunos e passará a ter o dobro, possivelmente terá impacto no trânsito. Mas para sabermos com exatidão, é preciso fazer todos os cálculos necessários que a Engenharia séria nos possibilita”

Alvo de constantes críticas no passado pelas filas duplas, que de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, pode render multa de R$ 195,23 com perda de cinco pontos na CNH (Carteira Nacional de Habilitação), o Colégio Dom Bosco, localizado na Avenida Mato Grosso, entre as ruas 14 de Julho e 13 de maio, investiu em campanhas de conscientização com pais e alunos, já que o drive-thru, segundo Lúdio da Silva, 54 anos, já existe há 20 anos e tem capacidade de circulação para 80 carros dentro de suas dependências. O tempo médio estimado para o embarque e desembarque é de 5 minutos.

Do lado de fora, na Av. Mato Grosso, a parada rápida para a entrada de alunos a partir do 5º ano já é permitida.  “Acredito que os pais foram criando o hábito de passar pelo drive. Isso aliado ao nosso sistema de escalonar os horários para o deslocamento de cada turma, reforça que temos cada vez mais mobilidade”, salienta o coordenador pedagógico.

No Bairro Amambaí tem outro exemplo, mas dessa vez, por motivo de segurança. A Escola Desafio fez recentemente, além de campanha de orientação aos pais por meio de panfletos impressos, modificações estruturais na área de embarque e desembarque, como instalação de um novo portão para o drive-thru coberto. A entrada e saída estão situadas do mesmo lado onde está o corredor de ônibus, na Avenida Brilhante. “Já utilizamos o drive para abrigar os alunos da chuva, mas nosso pior problema aqui é esse corredor. Há quatro anos, estamos lutando para resolver esta situação. Já nos reunimos com a Agetran, que fixou uma placa permitindo o embarque e desembarque, mas o corredor continua aí“, protestou Gerusa Paula da Costa, 45, diretora administrativa.

Segundo ela, a escola, que funciona há 20 anos, não foi identificada pelo projeto original, o que resultou no erro. “Depois disso, disseram [Agetran] também que vão construir uma faixa elevada para pedestres para travessia dos alunos. Mas como pais que têm dois ou mais filhos pequenos, muitos deles bebês, vão conseguir transitar?, indagou.

Placa de permissão fixada pela Agetran no corredor exclusivo de ônibus. (Foto: Paulo Francis)
Placa de permissão fixada pela Agetran no corredor exclusivo de ônibus. (Foto: Paulo Francis)

Para Cândia, “o problema é que não houve planejamento urbano a longo prazo e que as últimas gestões públicas não estruturaram setores essenciais da administração que pudessem incorporar ao Plano Diretor (2016-2017) em andamento, estratégias consistentes voltadas à mobilidade urbana”, bem como a implantação de grupo técnico específico para desenvolver com solidez um planejamento robusto de tráfego.

Mesmo assim, ele acredita que é possível readequar a realidade do trânsito, presente hoje nas vias onde estão localizadas as intuições de ensino, mas para isso, é preciso investir em ações conjuntas entre poder público e iniciativa privada, que visem o tráfego do futuro. “Com um grupo específico de profissionais voltados para este tema, aliado às boas iniciativas do setor privado, teríamos dados consistentes sobre o perfil desses locais, como os horários de maior incidência, fluxo e capacidade das vias e outros aspectos diretamente ligados. A partir dessas informações, seria possível, por exemplo, planejar a flexibilização na condução das ações para cada situação temporal. Já sabemos que esses ‘distúrbios' são sazonais, como no entorno das escolas que duram minutos. Basta incluir o perfil do local no planejamento de tráfego e atuar com inteligência. As grandes capitais hoje já trabalham assim”, pontua.

Ao encontro do que pensa Salomão, tramita na Câmara Municipal projeto de lei, proposto pelo vereador Beto Avelar, que cria área de embarque e desembarque rápido em locais de grande fluxo de veículos, semelhantes aos pontos reservados para motoristas de aplicativos já implantados em 16 pontos do Centro da Capital.

De acordo com a proposta, os estabelecimentos que implantarem a área de drive-thru estarão também comprometidos a implantar mecanismos para que um funcionário seja responsável pela orientação e organização dos alunos.

A matéria que tem parecer favorável da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) ainda passará pelas comissões de Finanças e Orçamento; de Obras e Serviços Públicos; de Educação e Desporto e de Transporte e Trânsito.

Durante a produção desta reportagem, o Campo Grande News percorreu algumas escolas da região central para saber se havia equipes de fiscalização dos órgãos responsáveis e encontrou apenas um agente de trânsito da Polícia Militar atuando às 7h, na Escola Nossa Senhora Auxiliadora, entre a Pedro Celestino e Av. Mato Grosso.

Atualmente, Campo Grande conta com quatro órgãos autorizados para atuar no trânsito: Agetran, Detran, Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana.

O Campo Grande News solicitou informações ao BPTran (Batalhão de Polícia Militar de Trânsito) sobre cronograma de fiscalizações nas escolas, mas até o fechamento desta edição, não houve resposta. Também solicitou entrevista à Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), mas, igualmente, não obteve retorno.

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