Ruas com mesmo nome em diferentes bairros são dor de cabeça e causam confusão
São pelo menos quatro casos na Capital e até o serviço público sofre com isso
“Já recebi correspondência de outras pessoas dezenas de vezes”. “O entregador fica perdido, roda e roda e acaba ligando pra gente”. “Uma vez meu menino pediu uma camiseta e foi parar lá na outra rua”. Esses relatos são de moradores de Campo Grande cujos endereços são em ruas com nomes que se repetem, mas em bairros diferentes. São pelo menos quatro casos na Capital e o Campo Grande News conferiu a dor de cabeça que é essa situação.
Até mesmo o serviço público sofre com isso. A Gerência de Suprimento e Abastecimento da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) fica na Rua Antônio Rufino de Souza, no bairro Nossa Senhora das Graças, bem pertinho da avenida Tamandaré. Mas muita gente já se perdeu no Jardim Paradiso, a 11 km dali, porque há lá uma via de mesmo nome.
“Então, eu sei que não é aqui a Sesau. Várias pessoas já confundiram porque o GPS dá isso aí. Tem três anos que eu moro aqui e já vieram umas quatro pessoas procurando a Sesau nesse endereço”, contou moradora de 25 anos que preferiu não se identificar. Ela afirma, entretanto, que “uma vez eu pedi um lanche e foi parar lá no outro bairro e é longe, né?”.
E não acaba por aí. Nos bairro Mata do Jacinto e no Jardim Itamaracá, quem mora na rua Jorge Kalil Duailibi é vítima todos os dias de erros em correspondências e entregas. “O entregador fica perdido, roda e roda e acaba ligando pra gente. Toda semana acontece isso. Comida, medicamento. Sempre acontece isso. Sempre aviso o entregador, dou um ponto de referência justamente para evitar. Coloco observação, senão o cara fica perdido mesmo”, conta Fernando Gabriel Gomes 28 anos, que mora na via da Mata do Jacinto há apenas um mês.
Para piorar, a numeração das casas foi renovada para organização, mas isso acabou prejudicando ainda mais, porque as moradias ficam com dois números e os serviços de geolocalização se confundem. “Tem número antigo e número novo. E no mapa está número antigo ainda. Essa é a dificuldade. A gente coloca o número atual, o pessoal das entregas vem e coloca o número antigo no mapa, e aí dá lá embaixo, lá pra cima, às vezes nem dá na rua”, lamenta.
A comerciante Adelaide Alvarenga Alves, de 49 anos reclama da mesma situação, mas no Jardim Itamaracá, que fica a pelo menos 15 km da rua homônima. “Uma vez meu menino pediu uma camiseta e foi parar lá na outra rua. Nem fomos atrás pra recuperar”, contou, reforçando que “é direto que as pessoas chegam aqui procurando outro número. Aí a gente vai pergunta e vê que o endereço era o da Mata do Jacinto”.
Segundo ela, até para pedir transporte por aplicativo de carona é complicado. “A gente vai pedir pelo aplicativo e já temos que avisar que é aqui no Itamaracá” e falou até situação inusitada em que noiva ficou horas esperando o juiz de paz para poder casar, mas o local exato era na Mata do Jacinto.
“Há um tempo atrás, uns 3 anos isso já, se não me engano, uma noiva ficou sem o juiz de paz. Ela ficou horas esperando ele e quando conseguiu contato, descobriu que ele tinha ido para o endereço errado. Os convidados dela também reclamaram que foram para o lado errado”, lembrou.
Mais casos – Há ainda duas ruas com nome Javaés em Campo Grande, sendo uma no bairro Santa Emília e outra no Jardim Tijuca. A família da professora Jacqueline Rezende, de 37 anos tem uma loja de roupas na Javaés do Tijuca. Foi pedido transporte para fazer uma entrega, mas o motorista não chegava nunca.
“Tive vários problemas com correspondência, entregas que não chegavam. Já cheguei a pedir segunda via de boleto que não chegava”, contou. Atualmente, a rua passou a ser denominada de Monalisa e ela afirma que os problemas diminuíram um pouco.
No Santa Emília, Milton Ferreira da Cruz, de 73 anos, aposentado relata que “nunca aconteceu comigo, mas os vizinhos sempre reclamam disso. Uma vez um pedido nosso demorou, mas chegou e depois o motoqueiro disse que estava na rua errada”.
Por fim, a rua Lybia, no bairro Giocondo Orsi é confundida frequentemente com a Travessa Líbia, no bairro São Francisco. O ex-secretário de fazenda de MS, Mário Sérgio Lorenzetto, de 68 anos perdeu a conta das dores de cabeça que já teve por causa da confusão. Sempre atuante junto ao Poder Público, ele diz que pediu ajuda inúmeras vezes para a prefeitura, mas nunca teve resposta.
“O que diziam na época (entre as décadas de 90 e 2000) era de que a mudança dependia de aprovação da Câmara de Vereadores e que isso demandaria mudanças em vários cadastros importantes e difíceis de mexer, como dos serviços de água e energia. Eram desculpas, a meu modo de entender, dadas pela prefeitura”.
Para ele, a situação, apesar dos anos, permanece difícil. “É constante isso, a perda de correspondência e ter que ir aos Correios buscar porque elas não chegam em casa. E as entregas hoje em dia? Se pede pelo aplicativo de comida, obrigatoriamente eu faço o pedido e escrevo o endereço certo pedindo para não confundirem. Se eu não fizer isso, a possibilidade é grande de que vá para a outra rua”.
O Campo Grande News foi até a Travessa Líbia, no São Francisco e é uma viela com apenas seis casas, e ninguém atendeu a reportagem enquanto esteve lá.
Conforme a Prefeitura, através da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana), a Rua Antônio Rufino de Souza citada se localiza no Jardim Paradiso e não consta em duplicidade na planta do parcelamento Nossa Senhora das Graças. Em nota, ressalta que para alterar a denominação de qualquer logradouro público é necessário aprovação de Lei na Câmara Municipal e confirmou as demais duplicidades identificadas na matéria.
A reportagem entrou em contato com a assessoria da Câmara Municipal de Campo Grande que informou que a Lei Municipal 5.291/14 estabelece as normas para denominação e alteração de nomes de ruas. Entretanto, "há denominações que foram feitas há muitos anos, quando loteamentos foram criados, quando os projetos ainda não passavam pela Casa de Leis", e talvez por isso, haja a duplicidade de nomes.
A mesma nota reforça que "projetos de lei prevendo essas alterações podem ser apresentados pelo Executivo ou pelos vereadores. Sempre que alguma alteração é proposta, é feita consulta prévia na Semadur para confirmar que não existe essa mesma denominação".
Também sustenta que, além disso, há necessidade um abaixo-assinado dos moradores em que a maioria concorda com a alteração.
Matéria alterada às 09h34 para acréscimo de informação da Câmara de Vereadores.
*Colaboraram Geniffer Valeriano, Alison Silva e Ana Beatriz Rodrigues.
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