Sacrário destruído custa R$ 45 mil, mas o que abala fiéis "não tem preço"
Objeto foi jogado ao chão durante invasão de bandidos na madrugada desta terça-feira (17).
Uma profunda tristeza. Assim é considerada a completa destruição do sacrário da Catedral de Nossa Senhora da Abadia, em Campo Grande, durante invasão na madrugada desta terça-feira (17). Não foi o dano físico, avaliado em R$ 45 mil, que abalou tanto a comunidade, mas sim a violação de um dos mais sagrados símbolos do catolicismo, onde ficavam armazenadas "partículas do Corpo de Cristo": isso não tem preço.
A afirmação é do pároco da comunidade, padre Odair Costa. Foi ele o primeiro a perceber o crime, quando chegou ao local por volta das 6h50. Os criminosos arrombaram as portas e entraram no espaço mais sagrado da Igreja, onde estava instalado o sacrário, que pesa cerca de 30 quilos, avaliado em R$ 45 mil. Também foi levada uma guitarra.
“Não é a perda material o que mais nos entristece e sim a violação daquilo que mais mexe com as pessoas, do que está mais profundo em seus corações. O sacrário é onde se coloca as partículas do Corpo de Cristo, que foi completamente destruído, desrespeitado”, disse o padre.
O objeto não poderá ser restaurado, por isso um novo será encomendado. “Estamos recebendo muito suporte das pessoas. Há solidariedade de todos os lados. Os fiéis não estão revoltados, mas comovidos. É como se alguém entra em casa dá uma surra na nossa mãe”, compara.
Na tarde de hoje, o movimento na Catedral era normal, com alguns fiéis fazendo suas orações. Um deles, era o professor de educação física André Esquivel, 26.
"Acho lamentável esse tipo de ação em um templo, onde oramos, entramos em contato com Deus. Tem que ter misericórdia de quem faz isso. São pessoas que estão perdidas, não sabem o que fazem", avalia.
A todo momento alguém liga ou procura a secretaria da Catedral para oferecer ajuda, saber notícias. Essa é a primeira vez que bandidos invadem o local, segundo informaram funcionários.
Por volta das 16h30, enquanto uma equipe da Perícia Criminal investigava a igreja, outra fazia rondas no entorno, abordando pessoas em situação de rua.
Eles disseram que, segundo relatos, o principal suspeito é um homem frequentador da região, conhecido como “Neguinho”. Não foi informado se uma ou mais pessoas participaram do crime.
O padre Odair acredita que o sacrário não foi levado porque a pessoa não encontraria “mercado” para revender o objeto. “É próprio da Igreja, qualquer pessoa saberia que ele roubou. Acho que isso fez a pessoa desistir. Acredito que essa pessoa estava desesperada devido à dependência química, fora de si”, acredita.
O funcionário público Alisson Brito, 31, e o garçom Maykon Rodrigues, 33, disseram que mais que triplicou o número de pessoas suspeitas, em situação de rua, frequentando o local.
“Vínhamos muito mais aqui, mas está perigoso. Fazemos parte de comunidades virtuais, de jogos como Pokemon, que nos trazem até aqui. Mas diminuiu muito a frequencia na região. Até chamamos de “Igreja dos 'nóia'”, conta Alisson.
"É triste saber que invadiram a Catedral. Sei que há rondas constantes, mas parecem insuficientes. São muitas as pessoas em situação de vulnerabilidade social, drogados", percebe Maykon.