Santa Casa admite falhas na psiquiatria e culpa falta de estrutura em Caps
Integrantes da Junta Administrativa da Santa Casa admitiram, em reunião na Câmara Municipal de Campo Grande nesta quarta-feira, deficiências no setor de psiquiatria do hospital, no entanto, apontaram que boa parte delas surgem por falta de estrutura dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da Capital.
Estiveram na Casa de Leis nesta manhã Issam Moussa e Antônio Lastória, que fazem parte da junta, além de Luiz Salvador de Miranda Sá, responsável pelo setor desde 1967.
Miranda afirmou aos vereadores que a situação se tornou crítica no hospital na semana passada, quando foram registrados 350 atendimentos. Ao ano, segundo ele, a ala atende entre 1,2 a 1,5 mil pacientes com distúrbios psiquiátricos.
“Precisamos desesperadamente nos livrar dos doentes crônicos e não temos mais condições de atender o autista”, disse o médico, sugerindo que o Caps infantil absorva a demanda de autistas e destacando que doentes crônicos demandaram pelo menos 300 dos 350 atendimentos na semana passada.
Ainda conforme Miranda, o setor conta com 10 médicos residentes, quadro insuficiente e, além disso, segundo ele, as famílias resistem em retirar os pacientes do hospital por falta de estrutura em dar continuidade no tratamento.
“Depois do tratamento na Santa Casa estes doentes têm de ir para outro lugar como os Caps. Falta empenho do governo municipal e estadual. A Santa Casa tem de atender pacientes agudos e emergenciais”, explicou.
A afirmação vai de encontro com a situação de Deir Ferreira, pai de Marco Aurélio Mendes, de 26 anos, que é autista em grau severo. Ele esteve na reunião na Casa de Leis e falou que não há para onde levar seu filho a não ser a Santa Casa.
“Percorri todos os lugares e não ‘pegam’ meu filho, pois ele precisa de atendimento multidisciplinar. É lamentável que a Santa Casa não atenda mais”, comentou Deir, que não trabalha só para cuidar de Marco. O filho dele já não recebe mais atendimento no hospital desde o último dia 7, situação noticiada pelo Campo Grande News no dia 14.
Já Antônio Lastória comentou que o problema vai além. Ele exemplificou que, no caso de detentos com problemas psiquiátricos, a situação vira ação judicial e o presidiário tem que procurar atendimento fora do Estado por falta de opção.
“É impossível discutir saúde mental com foco só na Santa Casa, pois o problema é de toda a rede pública”, pontua.
O presidente da junta, Issam Moussa, garantiu que o maior hospital público do Estado “cumpre o que está pactuado” e negou que o atendimento de psiquiatria foi interrompido.
Os vereadores Paulo Siufi (PMDB), Dr. Loester (PDT), Athayde Nery (PPS), Alex (PT), Thaisa Helena (PT), Marcelo Bluma (PV) e Paulo Pedra (PDT) participaram da reunião.