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Capital

Santa Casa fez 6 empréstimos em 2 anos e paga milhões em juros

Hospital divulgou balanço financeiro que revela um elevado endividamento

Maristela Brunetto | 02/05/2023 12:46
Hospital apontou empréstimos, renegociação de tributos e até venda de precatório para gerar receita. (Foto: Kisie Ainoã/ Arquivo)
Hospital apontou empréstimos, renegociação de tributos e até venda de precatório para gerar receita. (Foto: Kisie Ainoã/ Arquivo)

A Associação Beneficente Santa Casa de Campo Grande fez em pouco mais de dois anos, entre setembro de 2019 e janeiro de 2022, seis empréstimos que representam o total de R$ 228 milhões, considerando os valores recebidos e os juros embutidos nas transações. Os empréstimos mais elevados e longos, com juros mais altos, foram feitos com a Caixa Econômica Federal. Os dados constam no balanço contábil e financeiro referente ao ano de 2022 publicado pelo hospital.

Conforme as notas que acompanham as tabelas do balanço, com a Caixa forma dois empréstimos, em junho de 2021, de R$ 162,1 milhões, com 120 meses para pagar e juros de 2,33% ao mês; e de R$ 40 milhões, feito em janeiro do ano passado, com mesma duração das prestações e juro de 2,30%. Os outros empréstimos são com o Sicob, de novembro de 2019, de R$ 10 milhões e 84 parcelas; com o Bradesco, na mesma época, de R$ 1,7 milhão e 48 parcelas; e dois com o banco Daycoval- de R$ 3,2 milhões em julho de 2021, com 48 parcelas e juro mensal de 1,33% e em agosto do mesmo ano, de R$ 12 milhões, com a mesma duração.

A extensão dos empréstimos e os juros fizeram a conta ficar imensa. Pelo que constou no balanço, do valor total de R$ 228 milhões, a instituição ficou com pouco mais de R$ 51 milhões. Parte dos valores recebidos foi usada para amortizar outros empréstimos.

Por ser o maior hospital do Estado, os números da Santa Casa sempre são superlativos. O hospital apontou que paga valores elevados em juros, taxas e multas, seja pelos empréstimos bancários ou pelo reparcelamento de tributos federais efetuado no ano passado, como imposto de renda e fundo de garantia.  Com bancos, consta no balanço o valor de R$ 33,5 milhões e multas e taxas federais somaram R$ 19,2 milhões, contra R$ 7 milhões em 2021. As notas que acompanham as tabelas não especificam se são valores lançados ou efetivamente pagos no exercício.

De receitas obtidas, consta que do SUS (Sistema Único de Saúde) vieram R$ 342,3 milhões em 2022, sendo em 2021 o quantitativo de R$ 326,8 milhões.

Das universidades, que fazem convênios para as atividades práticas de acadêmicos, constam no balanço  R$ 2,8 milhões, contra R$ 9,8 milhões no ano anterior. Houve ainda doações, apontadas em R$ 3,5 milhões e outro R$ 1,2 milhão com eventos, que não são especificados.

O hospital ainda consta em seu balanço que vendeu um precatório que era detentor, sem especificar o valor envolvido de crédito que obteve. Uma fonte de receita que pouco colaborou foi o plano de saúde do hospital. Conforme o balanço, gerou R$ 96,4 mil.

Outro tópico do balanço são os bloqueios judiciais de valores, sendo apontados R$ 3 milhões para ações trabalhistas e outras demandas e ainda outros bloqueios não especificados que totalizam R$ 2,1 milhões, quase o dobro do ano anterior.

A Santa Casa foi criada em 1919 e em 1959 foi reconhecida como de utilidade pública. As crises financeiras são um assunto recorrente no hospital, que em anos mais remotos sofreu intervenção do poder público e nos últimos anos enfrentou renúncia de presidentes, com Esacheu Nascimento em 2020, depois Heber Xavier, meses após assumir, no mesmo ano. A atual presidente, Alir Terra Lima, já era da diretoria do hospital. Ela assina o balanço junto com outros diretores.

Recentemente, ela esteve no TCE (Tribunal de Contas do Estado) e pediu para a corte acompanhar a execução dos convênios do SUS, apontando haver atrasos no recebimento, que dificultam os pagamentos pelos serviços e, até mesmo, o atendimento a plena capacidade.

Um grupo de auditores independentes analisa o conteúdo divulgado e pontua alguns cuidados à diretoria, como maior controle de empréstimo de medicamentos entre unidades de saúde e o risco de o hospital ser acusado de apropriação indébita de tributos, porque ao mesmo tempo lançou contribuições e anunciou que valores foram reparcelados.

Os auditores não fazem ressalvas dos números, mas apontam que trataram de aspectos das finanças com os responsáveis pela governança. Havendo manifestação do hospital sobre o balanço, as informações serão acrescentadas.

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