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Sem seta e só uma mão no volante: os perigosos “pecados” da direção distraída

“Com o passar do tempo, a pessoa vai relaxando, ficando mais confortável", diz especialista em trânsito

Aline dos Santos e Mariely Barros | 12/07/2023 12:27
Sem seta e só uma mão no volante: os perigosos “pecados” da direção distraída
Motorista manuseia o celular, conduta que virou hábito a cada parada no semáforo. (Foto: Henrique Kawaminami)

“Esquecer de usar a seta”, não colocar as duas mãos no volante, “descansar” o pé na embreagem, manusear o celular. Os aparentes pequenos “pecados” dos condutores no trânsito podem resultar em acidentes, porque diminuem o tempo de reação ou, no caso da seta, simplesmente elimina a comunicação com os demais condutores, pedestre e ciclistas.

A situação se explica primeiro devido à presença de pessoas sem CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Segundo, pelo esquecimento ao longo dos anos, após passar pelo processo de formação, e até pela absorção da cultura local, lembrando que Campo Grande ostenta a fama de ser terra onde ninguém usa a seta. A graça que faz rir nas redes sociais é motivo de preocupação no mundo real.

“Com o passar do tempo, a pessoa vai relaxando, ficando mais confortável, mesmo que isso não esteja de acordo com as normas. A pessoa começa a colocar o braço na janela, deixa o pé na embreagem. Pode parecer uma coisa pequena, mas pode levar a acidente. O risco está presente em toda a ação humana, por isso a gente precisa respeitar o checklist dessas regras para evitar que o sinistro aconteça”, afirma Renan Cunha, que é psicólogo do trânsito.

No CTB (Código de Trânsito Brasileiro), o artigo 252 traz um roteiro claro das proibições. A lista tem dirigir com o braço de lado de fora; transportar pessoas, animais ou volume à sua esquerda ou entre os braços e pernas; com incapacidade física ou mental temporária que comprometa a segurança do trânsito; usando calçado que não se firme nos pés ou que comprometa a utilização dos pedais; com apenas uma das mãos, exceto quando deva fazer sinais regulamentares de braço, mudar a marcha do veículo, ou acionar equipamentos e acessórios do veículo; e utilizando-se de fones nos ouvidos conectados a aparelhagem sonora ou de telefone celular.

As infrações são consideradas médias, com multa de R$ 130,16 e 4 pontos na CNH. Caso o condutor esteja segurando ou manuseando o telefone celular, a infração é gravíssima (multa de R$ 293,47 e 7 pontos na CNH).

Já a infração por não utilizar a seta está definida no artigo 196 do Código de Trânsito Brasileiro. A conduta é grave, com multa de R$ 195,23.

Sobre a chamada direção distraída, Renan Cunha exemplifica que o braço na janela, com apenas uma mão no volante, retarda a reação na hora de manobrar o veículo. Pois é preciso trazer o braço, o que custa importantes segundos. "São exigências que podem parecer muito simples, mas têm razão de ser”.

Sem seta e só uma mão no volante: os perigosos “pecados” da direção distraída
"Acho essencial dar seta e respeitar o semáforo, coisa que muita gente não faz", diz Ramon. (Foto: Henrique Kawaminami)

Velhos hábitos – Os condutores nem escondem que, após anos no volante, têm um código de trânsito particular. Há quem só use cinto de segurança na rodovia ou não veja perigo em deixar apenas uma mão no volante.

“Sou habilitado desde 2018 e, às vezes, me permito sim fazer algumas coisas. Cinto de segurança só uso quando vou pegar a BR. Porque Bandeirantes é uma cidade muito tranquila. Acho que não dar seta não é só em Campo Grande, mas mal do Estado inteiro. Braço na janela, vejo mais homem fazer, mulher toma mais cuidado, homem acha que sabe tudo”, afirma Alexandre Junior da Silva, 30 anos, auxiliar de produção.

Na manhã desta quarta-feira (dia 12), no Centro de Campo Grande,  ele avalia que o pior do trânsito é o estresse, sempre acompanhado por xingamentos. “Em outras capitais que fui, não tinha isso. O povo aqui já sai atrasado e é mal-humorado”, diz Alexandre, que mora em Bandeirantes.

Condutor há quatro décadas, o pintor Ramon Gamarra, 60 anos,  conta que dirige com o braço para fora, conduta que só evita no Centro. “Porque senão o motoqueiro arranca o seu braço para fora. Mas acho essencial dar seta e respeitar o semáforo, coisa que muita gente não faz. Outro problema é o celular, 90% pegam o aparelho quando estão no semáforo, parece que o povo está viciado”.

O motorista de ônibus Jorge Salles, 34 anos, lamenta que muitos condutores não utilizam a seta e a pressa que não abandona os condutores campo-grandenses. “Não abro mão de parar no Pare e no semáforo, quando você é motorista, é inaceitável desrespeitar a sinalização”.

De acordo com a gerente de educação para o Trânsito da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), Ivanise Rotta, neste ano, todas as abordagens educativas nas portas das escolas tiveram como mote principal o uso da seta. Nas ações, houve distribuição de adesivos aos veículos abordados.

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