Servidora presa por fraude mentiu sobre roubo de celular e assédio no Detran
Investigação mostrou que Yasmin Osório Cabral mentiu sobre crime sexual cometido pelo ex-chefe do Detran
Servidora presa, acusada de envolvimento em esquema de fraudes no Detran (Departamento Estadual de Trânsito), Yasmin Osório Cabral, mentiu sobre caso de assédio e roubo de celular. O crime sexual foi registrado na Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher), no dia 19 de fevereiro.
Yasmin foi presa pelo Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), na noite de sábado (6), no condomínio onde morava, na mesma data em que o mandado foi expedido. A funcionária é a mesma que fez denúncia de assédio sexual contra o chefe dela, delegado lotado no Detran.
O inquérito que apura o assédio sexual de Yasmin não foi finalizado pois ainda faltava o cumprimento das medidas cautelares. Mas o Campo Grande News apurou que a servidora responderá por falsa comunicação de crime, pois durante seu depoimento na Deam, informou que não poderia entregar seu aparelho celular, peça fundamental para incriminar o chefe, porque havia sido roubada, na ocasião chegou a registrar boletim de ocorrência de roubo.
Diante da afirmação que havia perdido o celular, a Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos) iniciou investigação e foi apurado que Yasmin mentiu, por isso, ela responderá por falsa comunicação de crime.
Além da falsa comunicação de crime, Yasmin mentiu sobre o caso de assédio sexual envolvendo o delegado. A reportagem apurou que o antigo corregedor do Detran registrou um boletim de ocorrência de calúnia, na 7ª Delegacia de Polícia Civil.
Procurada, a DEAM informou que só irá falar sobre o caso, após o encerramento do inquérito, depois da conclusão das investigações, que ocorrerá na próxima semana.
Caso de assédio - A mulher, de 30 anos, se afastou do trabalho no dia 19 de fevereiro, depois de registrar o boletim de ocorrência contra o chefe imediato.
Em entrevista ao Campo Grande News à época, ela relatou o medo de sair de casa como um das consequências psicológicas das “investidas” do homem. “Parece que todo lugar que eu ando eu tô [sic] sendo perseguida, eu tenho medo de andar sozinha na rua, tenho medo de alguém tá me olhando, alguém tá me cuidando”, contou.
À polícia a servidora contou que trabalha desde março do ano passado no Detran em Campo Grande e os assédios começaram aos poucos, com caronas e elogios referente ao seu corpo, ao cabelo. “A fama dele sempre foi de ser sem vergonha, fazer brincadeiras de mau gosto com as mulheres, mas todo mundo dá risada, acha normal. Na verdade, ele sempre fazia comentários constrangedores do tipo: ‘como está gostosinha hoje’”.
Ainda conforme a funcionária, os dias foram passando e a situação foi ficando chata com passadas de mão na coxa durante as caronas e os cumprimentos de bom-dia em sua sala acompanhado de “encoxadas”, de beijos no canto da boca, bombons, bolo, pão de queijo. “Foi ficando nojento. Ele chegou a dizer para eu aproveitar o meu corpo para mudar de cargo”.
Ela então cortou as caronas e passou a evitar a proximidade com o chefe. Segundo a vítima, quando ele percebeu a situação passou a persegui-la. A funcionária foi acusada pelo servidor de fraudar o sistema do órgão. “Logaram no meu computador, mas com outra senha”.
A servidora narrou, por fim, que perdeu a senha de acesso ao sistema para trabalhar e então, ao sentir que a perseguição não teria fim, decidiu ir à Deam formalizar denúncia.
Presa por fraude - O esquema foi descoberto após uma denúncia de um servidor do órgão que notou irregularidades em 29 liberações administrativas no sistema de informações do Detran. As liberações ocorreram em duas datas: 2 em 9 de fevereiro de 2024 e 27 em 15 de fevereiro de 2024. Todas foram associadas ao uso de seu login e senha, sendo que o servidor não estava no órgão ou realizou as ações nesses dias.
Além disso, as liberações divergiam do padrão adotado pelo servidor, limitando-se a frases genéricas como "OK VISTORIA". Com as suspeitas, foi instaurada uma investigação preliminar, que apontaram que as 27 liberações indevidas de 15 de fevereiro foram realizadas em um computador usado pela servidora comissionada Yasmin.
Ela havia pedido ajuda ao servidor para realizar uma consulta no sistema e acabou utilizando seu login e senha, que ficaram logados no computador. Foi identificado que um dia antes da fraude (14 de fevereiro), os documentos dos veículos foram baixados por despachantes: 25 veículos por David, 1 por Hudson Romero Sanches e Edilson Cunha, que pertenciam ao mesmo escritório despachante.
No dia seguinte, David e Hudson tentaram acessar novamente os documentos veiculares, sugerindo uma conexão entre os despachantes e as baixas indevidas. Conforme relatório da investigação policial, David, apontado com líder do esquema, mantinha um relacionamento amoroso extraconjugal e pagava Yasmin pelos serviços prestados.
Ela recebeu um iPhone 15 Pro Max entregue em uma cesta dentro do Detran-MS, joias, eletrônicos como ar-condicionado e televisão, além de valores em dinheiro via Pix. A investigação corre em sigilo e David continua foragido.
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