Suspensão de serviços surpreende e pacientes voltam sem atendimento
Os pacientes com cirurgias eletivas marcadas serão os mais prejudicados com a suspensão dos atendimentos ambulatoriais de média complexidade da Santa Casa da Capital. A informação é da diretora operacional do hospital, Claudenice Valente. Das 22 especialidades médicas do setor, cinco estão entre as mais procuradas: neurologia, oftalmologia, cirurgia vascular, urologia e cardiologia. Juntas, elas deixarão de atender no mês de maio, 714 pacientes que aguardavam pela consulta há pelo menos três meses. Só na oftalmologia são 316 consultas agendadas.
No ambulatório são atendidas pelo menos 400 por dia. Para evitar transtornos e perdas de viagens, já que muitos pacientes vem do interior do Estado, Claudenice diz que a direção do hospital entrou em contato com pessoas que já recebiam tratamento na unidade hospitalar e enviou comunicado a secretaria municipal de Saúde solicitando que os demais pacientes atendidos pela rede também fossem avisados da suspensão dos serviços.
Porém, na manhã dessa terça-feira (5), várias pessoas foram à Santa Casa na espera do atendimento agendado previamente.
Foi o caso do cabeleireiro Orlando Aquino Ferreira, que deveria ser atendido pelo ortopedista para a retirada de um gesso no braço esquerdo. Como o acidente que sofreu rompeu um tendão, foi necessário colocar uma tala no curativo. Dessa forma, ele não pode ser atendido em uma unidade de saúde, já que é necessária a avaliação de um médico especialista.
Orlando foi ao Centro de Especialidades Médicas, gerenciado pela prefeitura, mas lá foi informado que não poderia ser atendido por um médico que não acompanhou o caso. “Já faz um mês que estou com o gesso e isso está prejudicando meu trabalho. Sou a única fonte de renda lá em casa”, ressalta.
Quem também voltou para casa sem atendimento foi a cabeleireira Célia Ogawa, que desde novembro aguardava consulta com cirurgião plástico para a retirada de algumas cicatrizes, fruto de uma cirurgia para retirada de um tumor. “Vou ter que aguardar agora. Não tem jeito”, diz.
Já a situação do operador de moto serra José Israel da Silva, é mais complicada. Morador em Ribas do Rio Pardo, há 40 dias ele passou por três cirurgias na perna direita devido a um acidente de carro e hoje deveria retirar os pontos. Como veio para a Capital em uma ambulância de Ribas, terá que esperar o retorno do veículo, que estava designado para outros compromissos na cidade.
“Não sei que horas vou voltar, mas o que me incomoda é que estou sem trabalhar esse tempo. Me sinto mal porque quanto antes resolvesse isso, mais rápido ia ficar melhor”, reclama.
Já o pedreiro Gilmar de Oliveira teve mais sorte e conseguiu fazer o raio-X que estava agendado. Vítima de um acidente de moto em janeiro, ele sofreu uma grave fratura na perna direita e passou por cirurgia. Apesar de ter conseguido realizar o exame, não há previsão de quando ele será atendido por um ortopedista para avaliar sua situação.
De acordo com a diretora operacional da Santa Casa, o hospital manterá o atendimento dos pacientes que vem sendo assistidos, assim como as cirurgias já agendadas. Apenas consultas novas serão recusadas. Mesmo assim, ela reconhece que será preciso estudar cada caso, já que alguns pacientes que já haviam passado pelo hospital, não conseguiram dar continuidade ao tratamento nessa manhã. “São casos específicos, que precisaremos estudar”, afirma.
A única certeza, é que com o cancelamento de novas consultas, o número de internações irá reduzir drasticamente. “Ainda não temos esses dados, mas o impacto será grande, o que possibilitará uma economia grande até que o impasse seja resolvido”, destaca.
Claudenice também afirma que à medida do possível, pacientes serão remanejados para outras unidades hospitalares da Capital e que as pessoas que tiveram as consultas canceladas ou que perderam o retorno, terão o atendimento reagendado. Nesse primeiro dia de paralisação dos serviços, cerca de 300 pacientes foram remanejados.
Impasse – A decisão em suspender os atendimentos ambulatoriais ocorreu semana passada, após prefeitura e governo do Estado não entrarem em um acordo referente aos repasses do hospital. O município foi taxativo em continuar pagando R$ 3 milhões mensais, destinando R$ 2 milhões para os procedimentos de média complexidade e R$ 1 milhão para os de alta complexidade.
Para a Santa Casa, R$ 4 milhões é o mínimo aceitável, sendo R$ 3 milhões para os procedimentos de média complexidade e R$ 1 milhão para os de alta complexidade. Esse montante é necessário para que o hospital continue funcionando e com a perspectiva de zerar o déficit financeiro hoje existente.
Na última proposta encaminhada ao hospital pela prefeitura, a gestão municipal acenou com a possibilidade de um repasse mensal de R$ 4 milhões a partir de julho, na condição de a secretaria estadual de Saúde também efetuar aporte financeiro ao município. O governo do Estado só aceita compartilhar as despesas se uma auditoria for feita na Santa Casa para verificar o destino e aplicação dos recursos.