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Capital

Tradicional visita a cemitério tem até oração por quem não era da família

No Dia de Finados, local lota com familiares tentando matar a saudade e honrar quem já se foi

Caroline Maldonado e Izabela Cavalcanti | 02/11/2022 10:09
Cemitério Santo Amaro na manhã desta quarta-feira (2). (Foto: Paulo Francis)
Cemitério Santo Amaro na manhã desta quarta-feira (2). (Foto: Paulo Francis)

É uma tradição que traz alívio à saudade dos parentes falecidos, mas para alguns a visita ao cemitério vai além e torna-se momento de solidariedade com quem nunca fez parte da família. Nesta quarta-feira (2), Dia de Finados, o cemitério lota. Entre os túmulos, muitas pessoas idosas, alguns junto a familiares mais jovens com intuito de “passar a tradição”, e outros orando pelos falecidos que nem conheceram em vida.

O azulejista Roberto Carlos, de 55 anos, foi ao cemitério Santo Amaro nesta manhã, visitar os túmulos do pai, da mãe, do cunhado, do sobrinho e de uma tia. O filho foi junto.

Desde pequenos fomos doutrinados a isso.É uma tradição.  Agora, estou aqui com meu filho ensinando. É um sentimento de saudade, lembrar dos tempos, saudades por eles não estarem mais vivendo entre nós”, detalhou Roberto.

Azulejista Roberto Carlos, de 55 anos, e o filho no cemitério Santo Amaro. (Foto: Paulo Francis)
Azulejista Roberto Carlos, de 55 anos, e o filho no cemitério Santo Amaro. (Foto: Paulo Francis)

Depois de visitar os túmulos dos parentes, ele foi ao local onde ficam os corpos de mortos cujas famílias não têm condições de pagar pelos túmulos. Em seguida, visitou também o “túmulo da Fatinha”, conhecido como milagreiro. “Em outros anos, tinha mais gente aqui”, lembra o azulejista.

Na porta, vários bilhetinhos, mas os dois filtros de barro que geralmente tinham água que as pessoas passavam para beber estão secos. A água vinha de uma bica que intrigou e por isso deu ao túmulo a fama que tem.

“Túmulo da Fatinha”, conhecido como milagreiro no Cemitério Santo Amaro. (Foto: Paulo Francis)
“Túmulo da Fatinha”, conhecido como milagreiro no Cemitério Santo Amaro. (Foto: Paulo Francis)

De fato, apesar de cheio, nesta manhã o cemitério não tem o movimento de anos anteriores. Mais adiante, o aposentado Nelson Coelho do Nascimento, de 76 anos, e a esposa Aurelina Silva do Nascimento, de 71 anos, visitam os túmulos dos pais e mães de cada um, além de um filho, falecido há 5 meses.

Ele se emociona e conta a falta que os falecidos fazem. “Só tem eu e ela aqui e só tínhamos ele, meu filho. Nós dois cuidamos dele até o fim. Hoje, temos que nos conformar. A vida segue. A última vez que vimos o rosto dele foi quando ele passou para a outra vida. Agora, é esperar nosso tempo”, comentou Nelson sobre o filho falecido por doença com 53 anos de idade.

Aposentado Nelson Coelho do Nascimento, de 76 anos, e a esposa Aurelina Silva do Nascimento, de 71 anos. (Foto: Paulo Francis)
Aposentado Nelson Coelho do Nascimento, de 76 anos, e a esposa Aurelina Silva do Nascimento, de 71 anos. (Foto: Paulo Francis)

Com a filha e o bisneto, a aposentada Hilda Rocha, de 80 anos, foi ao local para lembrar do marido e da mãe. “A gente sabe que a alma deles já foi. Quando venho, rezo para eles e volto a lembrar tudo do passado. Só fica a saudade, mas um dia a gente vai se encontrar. Faz anos que venho visitar no dia de finados”, conta Hilda, cujo marido morreu há 10 anos e mãe há mais de 20 anos.

Com 50 anos de idade, a supervisora escolar Norma Regina Ferreira visita no Dia de Finados os túmulos de dois irmãos que morreram quando eram bebês.

Ela tinha apenas dois anos quando o primeiro irmão morreu e estava com 10 anos quando o segundo também partiu. “Sempre venho. Faço essa visita e trago flores. É um momento que nós temos para fazer isso. É um sentimento de saber que nossa vida é passageira. A gente busca o céu. Os dois morreram de insuficiência respiratória”, conta Norma.

Norma Regina Ferreira em visita aos túmulos dos irmãos. (Foto: Paulo Francis)
Norma Regina Ferreira em visita aos túmulos dos irmãos. (Foto: Paulo Francis)


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