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Capital

Traficante morre na Gameleira 2 e advogada denuncia omissão

Defesa destaca ordem judicial para que José Roberto fosse internado no Hospital Regional

Por Aline dos Santos | 13/06/2024 12:49
Muro alto e grades na Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira II. (Foto: Paulo Francis)
Muro alto e grades na Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira II. (Foto: Paulo Francis)

A morte do preso José Roberto Cersósimo, 60 anos, dentro de cela da Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira II, em Campo Grande, é denunciada pela defesa por omissão de socorro e falta de escolta. Ele morreu na madrugada de quarta-feira (dia 12). A unidade é conhecida como Federalzinha.

Ele estava preso desde 2019, depois a operação, batizada de “Breaking Bad”, condenado por liderar grupo responsável pelo refino, distribuição e tráfico de cocaína e pasta-base nas cidades de Campo Grande, Ladário, Corumbá, Três Lagoas, Ribas do Rio Pardo, Birigui (SP) e Campinas (SP).

A advogada Thaís Lara conta que desde a segunda-feira (dia 10) brigava, literalmente, para que o interno tivesse socorro.  “Ele chegou ao parlatório na cadeira de rodas, não sustentava a cabeça, desfalecia. Emagreceu 27 quilos desde que foi para aquela unidade, há quase dois meses. Pedi para falar com a enfermeira, mas a resposta foi de que estava dormindo e não poderia me atender. Comecei a chorar e fui falar com o diretor: pelo amor de Deus, preciso de escolta imediata para o meu cliente. Ele começou a dar risada e disse: para doutora, ele quer sair para usar celular”, relata a advogada.

Em seguida, ela fez um pedido a mão, ainda dentro da Gameleira 2, solicitando que o preso fosse levado para UPA (Unidade de Pronto Atendimento), que não foi atendido. No período da tarde, acionou a Justiça e o pedido foi deferido pelo juiz Fernando Cury.

A defesa detalhou um grave estado de saúde:  dores muito fortes na região estomacal, seguidas de vômito com sangue excessivo e desmaios. “Assim, entendo que demonstrada situação risco a integridade física do sentenciado, razão pela qual determino o seu imediato encaminhamento para atendimento médico de urgência/emergência junto ao Hospital Regional desta comarca”, afirma o juiz.

Na decisão, o magistrado ainda deixou claro que o fornecimento do atendimento médico, inclusive de urgência/emergência e extramuros, é de atribuição do diretor do estabelecimento penal em que o sentenciado encontra-se recolhido. Ou seja, a LEP (Lei de Execuções Penais) já prevê essa atribuição. O magistrado determinou prazo de cinco dias para que fosse comprovado o encaminhamento para o hospital.

A advogada relata que na terça-feira o preso seguia na Gameleira 2 e o motivo era a espera de escolta. “Em situação grave, não é para pedir escolta, mas chamar o Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] ou bombeiro”, diz. Na terça à tarde, ela fez contato com o diretor da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário). “Expliquei a situação, que o cliente tinha ordem judicial, que estava muito debilitado”. A previsão é de que a escolta fosse durante o dia 12, mas o preso morreu na madrugada.

“Chorei o dia inteiro. Ver uma pessoa morrendo na sua frente e não fizeram nada. Não sei por qual motivo agiram dessa forma. Todos cometeram crime”, afirma a advogada. José Roberto foi sepultado na manhã desta quinta-feira, em Campo Grande. Segundo a defesa, a família vai registrar Boletim de Ocorrência. O preso iria sair da Gameleira  em outubro, quando passaria para o regime semiaberto.

Conforme a Agepen, o interno recebia acompanhamento médico na unidade prisional, inclusive no dia em que faleceu havia passado por avaliação médica e seu quadro foi considerado estável.

"Quando passou mal, na noite de terça-feira, o Samu foi acionado e prestou o socorro. A Agepen aguarda o laudo pericial sobre a causa da morte. Havia uma escolta agendada para a manhã de ontem para atendimento. A unidade prisional foi notificada da decisão judicial apenas após a morte do interno, na data de ontem, às 16 horas", informou a Agepen.

Matéria atualizada para acréscimo de posicionamento da Agepen.

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