Evangélicos querem mais poder e miram inimigo: união homoafetiva
Plano é fortalecer a bancada politica, com indicação de candidatos a deputados federais e “trabalhar” um senador
“Menino é menino, menina é menina e acabou”. A igreja evangélica quer ampliar a representatividade no poder político para manter seus princípios pétreos e, desta vez, o “inimigo” atende pelo número 612/2011. O projeto tramita no Senado e altera dois artigos do Código Civil, permitindo o reconhecimento legal da união estável entre pessoas do mesmo sexo.
“O primeiro projeto é de 1996 e seguramos esses anos todos. Mas quando chega ao Senado, em 2011, a Marta Suplicy apresenta de novo”, afirma a pastora Damares Alves, assessora jurídica da Frente Parlamentar em Defesa da Família e Apoio à Vida.
Nesta segunda-feira (dia 11), em Campo Grande, ela participou do Encontro Estadual de Pastores, realizado na igreja Sara Nossa Terra.
Na abertura, apresentada como pastora, advogada e educadora, Damares frisou que não a apresentam direito e emendou: “Sou mulher desde o nascimento, nasci mulher”. Ela destacou aos pastores que é tempo de guerra, pois o Congresso Nacional deve votar em breve o casamento homoafetivo, a legalização dos jogos de azar e da maconha.
Damares salienta que o tema aborto deve ser levado pelos pastores para as igrejas. “As feministas falam 'Meu corpo, minhas regras'. A mulher é dona do seu corpo, mas o que está na barriga não é o corpo dela. Temos que começar a ter frases de efeito também, estamos em guerra”, afirma.
Pressão - “A Marta volta com o projeto. Como houve decisão no Supremo, de reconhecer a união civil, agora o Senado vota o projeto que institui a união estável e a conversão em casamento. A Constituição prevê a união estável entre o homem e a mulher e devendo o Estado facilitar o casamento. Agora, o projeto vem com pessoas do mesmo sexo e o Estado devendo facilitar a conversão em casamento. Ora, o casamento é uma instituição religiosa”, afirma o pastor Wilton Acosta, que também preside a Funtrab/MS (Fundação do Trabalho).
De acordo com ele, os evangélicos farão pressão nos parlamentares. “Vamos apertar os senadores”, enfatiza. Os senadores por Mato Grosso do Sul foram convidados ao evento. A reunião teve a presença do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), do prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), e do senador Pedro Chaves (PSC).
“Vamos ser obrigados a fazer casamento do mesmo sexo? Ele está definindo isso e, ao mesmo tempo, o projeto não é claro. Os padres vão ter que casar pessoas do mesmo sexo? A questão religiosa não influencia isso? Uma das primeiras coisas que Deus instituiu foi a família, criada pelo homem e uma mulher”, afirma Acosta.
Pastor na igreja Sara Nossa Terra, ele afirma que o templo não fecha as portas para os homossexuais, mas que os religiosos não podem se omitir e precisam também ter seus direitos respeitados. As críticas também vão para a ideologia de gênero.
“Agora é o seguinte, ninguém nasce com a sua identidade sexual já definida. Vamos aceitar isso? O menino é menino, a menina é menina e acabou. Você vai aceitar a ideologia de gênero porque um grupo, sem base científica, começa a dizer que a menina não nasce menina”, diz.
Ciente da polêmica, ele afirma não temer ser tachado de preconceituoso. “Nós somos tachado de crentão desde que nasce, não vou ficar preocupado”.
No civil - Pronto desde o último dia 5 para ir a plenário, o projeto de Lei 612/2011 altera o Código Civil para reconhecer como entidade familiar a união estável entre duas pessoas, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
E também para prever que a união estável poderá converter-se em casamento, mediante requerimento formulado dos companheiros ao oficial do Registro Civil, no qual declarem que não têm impedimentos para casar e indiquem o regime de bens que passam a adotar, dispensada a celebração, produzindo efeitos a partir da data do registro do casamento.
Na última terça-feira, em entrevista à Rádio Senado, a senadora Marta Suplicy (PMDB/SP), afirmou que o projeto, já aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, modifica o Código Civil para possibilitar a conversão da união estável em casamento. Ela negou que a proposta trate do casamento religioso, como alegam parlamentares da bancada evangélica.
Poder – Segundo Acosta, há um esforço nacional para fortalecer a representação evangélica em todas as esferas, incluindo a política. “Aumentamos a bancada da Câmara, temos cinco deputados estaduais bem afinados. Vamos indicar os candidatos [a deputados] federais e vamos trabalhar um senador”.