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Interior

“Ninguém toma providência”, protesta sitiante cercado por índios

Proprietário de sítio diz que terra foi comprada pelo avô em 1928; “se provar que terra é dos índios eu vou embora”

Helio de Freitas, de Dourados | 27/03/2019 16:04
Índios que ocupam sítios nos arredores da reserva; moradores denunciam clima de terror e cobram segurança (Foto: Adilson Domingos)
Índios que ocupam sítios nos arredores da reserva; moradores denunciam clima de terror e cobram segurança (Foto: Adilson Domingos)

Moradores de pelo menos 30 sítios localizados nos arredores da reserva indígena de Dourados, a 233 km de Campo Grande, cobram a presença do Estado para garantir segurança às famílias, alvos constantes de ameaças e ataques de grupos de índios.

“Quando vamos ter paz? Não temos segurança e o poder público não resolve nossa situação!”, afirmou nesta quarta-feira (27) ao Campo Grande News o sitiante Nelson Amaral de Assunção.

O sítio de Nelson e outras pequenas propriedades ficam perto da Aldeia Bororó, na região oeste do município. Ontem (26), os índios voltaram a ameaçar um sitiante que colhia soja e plantava milho. Chamada, a Polícia Militar foi recebida pelos índios com pedras, rojões, flechas e bombas caseiras conhecidas como “coquetel molotov”.

Para controlar o grupo e evitar ferimentos aos policiais, a PM usou bomba de gás lacrimogêneo e balas de borracha. A ação, envolvendo 14 homens da Força Tática, foi liderada pelo comandante da Polícia Militar em Dourados, coronel Carlos Silva. Veja abaixo o vídeo dos policiais na área.

O confronto ocorreu no sítio de Allan Christian Kruger, vizinho de Nelson. Três flechas e uma garrafa usada como coquetel molotov foram apreendidas, mas ninguém foi preso. Durante a ação a PM prendeu dois moradores da aldeia por porte ilegal de arma, mas eles não fazem parte do grupo envolvido no ataque ao sítio.

“Meus avós paternos compraram essa área do João Vicente Ferreira [um dos fundadores do município de Dourados e primeiro prefeito da cidade] em 1928. Meu pai nasceu aqui em 1939. Eu nasci em 1963 e nunca saí dessa propriedade. Sou o remanescente da família e tenho uma área de 5 hectares”, afirmou Nelson.

Segundo ele, a convivência com os vizinhos da reserva sempre foi pacífica até o dia 1º de outubro do ano passado, quando ocorreu o primeiro confronto. De lá para cá as ameaças e ataques são constantes, segundo ele.

“Falei com o doutor Marco Antonio [procurador da República Marco Antonio Delfino de Almeida], perguntei se a nossa terra é indígena e ele disse que não. Falei para ele: se a terra for dos índios eu vou embora, mas ele afirmou que minha área não é extensão da reserva. Só que ninguém toma providência”, reclamou o sitiante, dono da Chácara Boa União.

Os sitiantes querem uma ação permanente da polícia para evitar novos ataques, já que o próprio MPF não considera as terras incluídas na suposta área remanescente da reserva que estaria em poder de proprietários rurais.

Levantamento feito pela Funai em 2013 aponta o “sumiço” de 85 hectares da reserva de 3.600 hectares, criada em setembro de 1917. Segundo o órgão federal, 3.539 hectares foram demarcados em 1965 e atualmente apenas 3.515 hectares estariam na posse dos índios.

A Justiça Federal determinou uma perícia para identificar se essa área foi expropriada dos índios e em que parte dos arredores da reserva houve a posse ilegal.

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