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Interior

“Achei que estava morta”, diz em julgamento, mãe que enterrou a filha viva

A ré, presa em Corumbá, participou do julgamento por videoconferência

Viviane Oliveira | 12/01/2022 12:22
Emileide durante julgamento por videoconferência nesta manhã. (Foto: Reprodução)
Emileide durante julgamento por videoconferência nesta manhã. (Foto: Reprodução)

Em depoimento durante o julgamento realizado na manhã desta quarta-feira (12), no Fórum de Três Lagoas, a cabeleireira Emileide Magalhães, 31 anos, acusada de matar a filha, Gabrielly Magalhães de Souza, de 10 anos, disse que “passou um fio no pescoço dela” e a enterrou viva, porque achou que a menina estava morta.

O crime, que aconteceu no dia 21 de março, em Brasilândia, distante 366 quilômetros de Campo Grande, chocou o município com pouco mais de 11 mil habitantes.

Segundo a investigação policial, a criança foi morta, porque contou para a mãe sobre o abuso sexual que sofria por parte do padrasto, André Luiz Ferreira Piauí. O irmão da vítima, de 13 anos à época, ajudou a mãe no crime e chegou a ser apreendido. À polícia, ele contou que a vítima pedia para não ser morta de dentro do buraco.

A ré, presa no Estabelecimento Penal Feminino Carlos Alberto Jonas Giordano de Corumbá, participou do julgamento por videoconferência. Questionada pelo juiz Rodrigo Pedrini Marcos se queria falar sobre o caso: respondeu que sim, mas iria responder apenas o que se lembrava. "Vou contar as partes que me recordo”, disse.

Segundo ela, no dia do crime, havia “bebido muito e usado muita cocaína”. “Eu me recordo descendo do carro junto de Gabrielly, atravessado a cerca e passado o fio no pescoço dela. Ela acabou desfalecendo e caindo no buraco fundo por acidente, achei que estava morta. Questionada se o filho a ajudou, disse que no momento em que enterrava a menina, o adolescente saiu correndo, chorando. "Comecei a gritá-lo para me ajudar. Joguei pedaço de terra no buraco”.

Emileide afirmou ainda que, acidentalmente, também caiu no buraco e escorou na filha para sair, situação que fez a criança ir mais para baixo. “Ela afundou no buraco, de cabeça para baixo”. Indagada pelo juiz porque não tirou a filha do buraco, já que havia sido por acidente, ela respondeu : “Não sei dizer. Estava fora de si. Não estava acreditando, não sabia o que eu fazia”.

Buraco usado para enterrar a criança viva. (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Buraco usado para enterrar a criança viva. (Foto: Divulgação/Polícia Civil)

“Mãe, eu te amo” - Durante todo o depoimento, a cabeleireira não demonstrou arrependimento, apenas chorou quando o promotor leu uma carta, apreendida pela polícia à época, na qual Gabrielly havia escrito pedindo desculpa por uma bagunça que tinha feito na companhia de um dos irmãos.

Na carta, escrita à mão, com desenhos de coração com olhinhos e sorrisinhos, segundo o promotor, a criança escreveu: “Mãe eu te amo. Mãe, obrigada por você existir. Você é a pessoa mais linda, inteligente e a mãe mais legal de toda a minha vida e do mundo inteiro. Eu te amo do fundo do meu coração. Mãe, a senhora é a pessoa mais querida da minha vida. A senhora fala, fala, fala, mas eu não dou ouvidos pra você. Eu vou tentar te obedecer. Eu nunca vou te esquecer. Você tenha muitos anos pra viver”.

Além da acusada, foram ouvidos nesta manhã, o adolescente que acompanhou a mãe no dia do crime, um dos policiais que atendeu a ocorrência e o delegado Thiago Passos, responsável por investigar o caso.

O padrasto, André Luiz, acusado de estuprar a criança, foi condenado a 20 anos de prisão pelo crime e está preso. No julgamento, Emileide revelou trocar carta com ele de dentro da cadeia. Ainda faltam ser ouvidos o promotor e a defesa, realizada pela defensoria pública. O resultado do julgamento será divulgado no fim da tarde.

Caso - A polícia soube do caso pela própria mãe. Depois de ir três vezes ao local do crime para constatar se a filha estava morta, Emileide procurou a delegacia de Polícia Civil e disse que a menina havia desaparecido após ter sido deixada por ela em uma praça com o irmão. Horas depois, ligou para a Polícia Militar e contou que havia matado a criança e queria se entregar.

Conforme a Polícia Civil, a causa da morte foi asfixia mecânica por compressão do tórax, compatível com o relato do adolescente. O garoto revelou ainda que a mãe ficou enfurecida, porque a irmã havia dito que estava sendo abusada sexualmente pelo padrasto e prometeu matá-la caso continuasse falando sobre o assunto.

Em seguida, ela chamou ambos para sair de carro e parou em uma estrada fora da cidade, onde iniciou as agressões e matou a filha. A Polícia Civil identificou uma testemunha que relatou que a menina havia mencionado, no final de 2019, ter sido vítima de abuso por parte do padrasto e que não poderia revelar aos professores ou para a polícia por medo de apanhar da mãe.

Emileide foi denunciada por homicídio quadruplamente qualificado, por motivo torpe, ocultação de cadáver, corrupção de menores e comunicação falsa de crime.

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