Bebê sofre sem cirurgia, após hospital de SP deixar de atender pessoas de MS
Hospital de Bauru, para onde são encaminhadas esses pacientes,, está sem vagas.
Uma bebê de um ano, nascida em aldeia na região de Porto Murtinho, a 431 km de Campo Grande, aguarda para fazer cirurgia de lábios leporinos, sem qualquer previsão de ter a deformidade corrigida. Ela está numa fila de espera. Uma solução seria o Hospital São Julião, mas o local ainda aguarda habilitação para fazer a cirurgia pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
O antropólogo Messias Basques morou pouco mais de um ano na aldeia enquanto fazia doutorado e conheceu a família da menina. Na aldeia vivem cerca de 400 famílias. Só na casa da menina, feita de bambu, moram 7 pessoas.
Segundo Messias, que acompanha a criança desde o nascimento, a família é muito humilde, além de não ter como pagar uma cirurgia particular, é muito cara a passagem para ficar indo a médicos. O caso piora porque, além de lábios leporinos, ela tem uma deformidade também no braço e perna direita.
“Ela mora em uma aldeia, lá tem bastante terra e consequentemente muita poeira e isso atrapalha porque entra poeira pela boca e nariz porque ela não consegue fechar”, relata o antropólogo. “O local lá de difícil acesso, não tem internet nem telefone a entrada mais próxima fica a 52 km de Bodoquena”, acrescenta Messias.
Ainda de acordo com o pesquisador, em julho havia pelo menos 60 crianças de todo o Estado a espera da cirurgia. “Não é que ela tenha que passar na frente, não. Ela vive em um contexto com uma família muito carente. Ela está escondida em uma aldeia que ninguém tem informação. A família não sabe nem como alimentar ela direito”, afirmou.
A perigrinação é longa em busca de tratamento. "Primeiro nos falaram que ela precisaria atingir o peso de 4 kg para fazer a cirurgia, depois subiram para 8 kg. Agora ela está com quase 10kg e nos disseram que não podem nos encaminhar por falta de vaga em Bauru", disse.
O problema, segundo Messias, é que o Estado não tem um hospital credenciado para tratar essas crianças pelo SUS e por isso encaminham para Bauru em São Paulo, mas isso tem superlotado o hospital, que suspendeu o atendimento de pessoas de outros estados.
“Agora o problema é que ela está aguardando uma coisa que não tem prazo. O que é grave é que o Estado não tem uma política pública. Isso [lábios leporinos] é uma coisa muito grave, mas muito simples também de resolver”, concluiu.
A deformação no lábio acontece em uma a cada 650 crianças no Brasil e em alguns casos pode ser formado no primeiro trimestre de gestação.