Com 31 infectados na reserva indígena, isolamento é em abrigo na cidade
Todos os quadros de saúde estão leves até agora. Número de quem irá para a Casa do Cursilho ainda é incerto
Com a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) sucateada e sem plano emergencial elaborado com antecedência, foi esforço coletivo que disponibilizou a Casa do Cursilho, ligada à Diocese de Dourados, a 233 km de Campo Grande, para que indígenas da Reserva possam ficar em isolamento quando apresentarem quadros confirmados ou suspeitos para covid-19.
Hoje, conforme a secretária municipal de saúde de Dourados, já são 31 pessoas infectadas, todas ligadas à funcionária da JBS, a primeira infectada. Começa nesta terça-feira (19) a chegada dos indígenas ao abrigo, onde terão equipe de saúde, alimentação e espaço de isolamento.
O número de quem vai pra lá ainda é incerto. Conforme levantou o Campo Grande News, quem vai para o abrigo são pessoas que não tem a possibilidade de manter o distanciamento na casa onde vivem nas duas aldeias da reserva, a Jaguapiru e a Bororó. Contempla tanto as pessoas que desenvolveram a doença do novo coronavírus quanto quem apresentou quadro suspeito e precisa de quarentena ou está no grupo de risco sem poder se isolar.
A JBS dispensou do trabalho, sem prejuízo à remuneração e à função, os 30 funcionários da empresa que são indígenas, para que possam ficar em isolamento em segurança, conforme nota enviada ao Campo Grande News.
O esforço coletivo uniu MPF-MS (Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul), (SES (Secretaria Estadual de Saúde), diocese de Dourados, Hospital Universitário e UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados). A desinfecção da Casa do Cursilho foi feita no domingo (17). A transferência será acompanhada por equipes de saúde e de segurança.
O MPF tenta na Justiça, por meio de ação civil pública, que a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) envie recursos imediatamente a Mato Grosso do Sul, de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) à equipes médicas e cita extrema vulnerabilidade, social e étnica, entre os indígenas. A maior parte dos moradores da reserva é do grupo Guarani Kaiowá.
A Casa do Cursilho onde devem ficar por tempo indeterminado tem dois pavilhões com área de convívio no meio, coberta, e 24 apartamentos. Cada apartamento acomoda cerca de 5 camas, mas o número deve ser menor para manter o distanciamento. Cada apartamento possui 2 banheiros.
Há, ainda, tratativas para habilitar leitos no Hospital da Missão Caiuá, ong que recebe milhões anualmente para prestar serviços ao Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena), a exemplo das contratações, e um espaço de triagem para a população da reserva indígena. A reserva é a mais populosa do Brasil, com 3,6 mil hectares para mais de 20 mil pessoas. Não há, ainda assim, nenhuma unidade de saúde ligada à Sesai com alta complexidade em Mato Grosso do Sul e que inclua, por exemplo, leitos de UTI e respiradores.
“Tem todo o aparato”, cita Diácono Carlos Alberto responsável pelas pastorais sociais da diocese, sobre a Casa do Cursilho. Ele explica que a JBS e o governo ficam responsáveis pelo fornecimento da alimentação. A pastoral também conseguiu doações de cobertores e roupas de cama.
Conforme o diácono, há espaço para 150 pessoas na Casa do Cursilho. “A equipe de saúde vai dar todo apoio e haverá dois infectologistas. Um caseiro foi retirado do local, está em um hotel”, comenta. Segundo o representante, a segurança será feita pela Força Nacional, Guarda Municipal e agentes privados cedidos pela UFGD.
Conforme apurou o Campo Grande News, entre os indígena infectados, há desde crianças de 1 ano até adultos, mas não há nenhum caso confirmado até agora em pessoas maiores de 60 anos.