Com PCC à frente, facções brasileiras controlam crime organizado no Paraguai
Ex-ministra da Justiça disse que grupo originário de São Paulo abriu caminho para outras facções
Pelo menos seis facções criminosas brasileiras atuam em território paraguaio, controlando as principais atividades do crime organizado naquele país, que, além de produtor de maconha, serve de entreposto da cocaína trazida dos Andes.
A mais dominante é também a maior do Brasil, o PCC (Primeiro Comando da Capital). A afirmação foi feita nesta terça-feira (11) pela ex-ministra da Justiça do Paraguai, Cecília Pérez.
O PCC está presente no Paraguai há pelo menos 19 anos, mas se fortaleceu a partir de junho de 2016, após a execução cinematográfica do até então “chefão” do crime na fronteira, Jorge Rafaat Toumani, em Pedro Juan Caballero.
Segundo fontes policiais, PCC e o Comando Vermelho teriam se unido temporariamente, apenas para planejar e executar o plano de assassinato de Rafaat – contrário à presença das facções brasileiras na linha internacional.
Após a morte, a união entre PCC e CV chegou ao fim e os dois grupos passaram a disputar a tiros o controle do tráfico de drogas e de armas na fronteira entre Paraguai e Mato Grosso do Sul. Com o passar dos anos, outros grupos se instalaram naquele país, influenciados pela facilidade em obter drogas e armas e pela corrupção na polícia.
Cecília Pérez, que foi ministra da Justiça no governo de Mario Abdo Benitez (2019-2023), disse que em solo paraguaio o PCC se adaptou e passou a aceitar o “batismo” de bandidos de menor perfil, uma vez que, originalmente, apenas assaltantes de banco e de carro-forte eram aceitos.
Em entrevista à rádio ABC Cardinal, Pérez comentou série de reportagens especiais que o jornal carioca “O Globo” começou a publicar domingo (9) sobre o crescimento da facção criminosa paulista no continente americano.
Segundo a ex-ministra, recentemente o PCC mudou a estratégia para dominar os centros de produção e as rotas do tráfico. Deixou um pouco de lado os assassinatos e passou a negociar com outras facções, assim como faz a máfia italiana.
Essa nova realidade é percebida na linha internacional entre Pedro Juan Caballero e Ponta Porã. Nos últimos meses, o número de assassinatos ligados ao crime organizado teve redução considerável.
“O processo de expansão do PCC segue cada vez mais potente, com muito mais dinheiro envolvido, com a mesma ideologia antissistema bastante viva. Nos últimos anos, houve uma ampliação gigantesca de capacidade de operação, sobretudo nos mercados transnacionais, com cocaína na frente, mas também ouro, armas e todos os tipos de lavagem de dinheiro”, afirmou ao “O Globo” Gabriel Feltran, pesquisador em sociologia do crime no Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França (CNRS) e autor de “Irmãos: Uma história do PCC”.
Segundo Cecília Pérez, no período em que foi ministra da Justiça, o PCC tinha em torno de 500 integrantes oficialmente batizados no Paraguai.
Especialistas na facção ouvidos pelo jornal carioca afirmam que o PCC já está em 24 países e reúne pelo menos 40 mil filiados. No Paraguai, estimativa do próprio governo de Asunción estima em pelo menos 1.200 faccionados do grupo paulista apenas em presídios.
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