Corregedoria promete investigar policiais civis acusados de tortura
Autor da denúncia de sequestro e tortura contou que delegado de Ponta Porã, filho da ex-patroa da suposta vítima, teria dito que ele só não seria morto porque sua mãe “tem bom coração”
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A Diretoria Geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul solicitou nesta quinta-feira (31) à Corregedoria da instituição a abertura de investigação sobre a denúncia de sequestro e tortura de um cidadão paraguaio. Os acusados são um delegado e sete agentes lotados em Ponta Porã, a 323 km de Campo Grande.
A denúncia contra os investigadores e o delegado Patrick Linares da Costa, titular da 2ª Delegacia de Polícia, foi registrada na tarde de ontem (30) na Segunda Comissaria da Polícia Nacional em Pedro Juan Caballero, cidade separada de Ponta Porã apenas por uma rua.
O autor da denúncia é o cidadão paraguaio Abraham Sánchez Sanabria, 34, que trabalhou em uma loja de ferragens e materiais de construção localizada na Rua Marechal Floriano, em Ponta Porã. A loja pertence à mãe do delegado.
“Ao tomar conhecimento do fato a Polícia Civil solicitou à Corregedoria da instituição que um procedimento seja aberto para apuração da denúncia”, informou nesta manhã a assessoria de comunicação da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública)
Ao Campo Grande News, o delegado Wellington de Oliveira, chefe de comunicação da Polícia Civil, reafirmou que a Corregedoria vai apurar a denúncia registrada na polícia paraguaia.
“Temos diversos grupos policiais trabalhando na região de Ponta Porã para intensificar o policiamento e trazer segurança para todo o estado. De forma muito transparente a polícia vai investigar qualquer tipo de irregularidade que tenha durante essas operações”, afirmou Wellington Oliveira.
Na denúncia feita à polícia paraguaia, Sanabria acusa o delegado e os agentes de entrarem ilegalmente no país vizinho para sequestrá-lo em duas caminhonetes Toyota Hilux.
Ele afirma que foi espancado por horas em um local ermo na região do distrito de Sanga Puitã. A tortura seria retaliação por Sanabria ter acionado a empresa da mãe de Patrick Linares no Ministério do Trabalho.
Segundo a história contada pelo paraguaio, o delegado teria dito durante a sessão de tortura que ele só não seria morto porque a mãe dele – ex-patroa de Sanabria – tem “bom coração”.
Exames confirmam lesões – O suposto sequestro teria ocorrido por volta de 9h30 desta quarta-feira e o paraguaio só foi libertado no período da tarde. Ele foi deixado em uma rua de Pedro Juan. Exames médicos confirmaram lesões na cabeça, barriga e pés.
Na denúncia, Abraham Sanabria contou que há alguns dias foi demitido da empresa Electromagnética, onde trabalhava por quatro anos. Segundo ele, o delegado é sócio da mãe na empresa localizada na área central de Ponta Porã.
Para receber seus direitos trabalhistas, Sanabria diz que recorreu ao Ministério do Trabalho brasileiro e uma audiência de conciliação foi marcada para um acordo com os ex-patrões.
Para fechar o acordo, ele diz que se reuniu ontem cedo com os ex-empregadores. Patrick Linares teria participado. Logo após deixar a reunião, foi abordado pelas duas caminhonetes quando seguia de moto pelo centro de Pedro Juan Caballero e levado para o local onde teria sido espancado e ameaçado.
Conforme fontes da fronteira, mesmo ferido, Sanabria foi para casa depois de ser libertado e só contou a história a policiais paraguaios que estiveram na residência dele após ficarem sabendo do caso.