ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SEXTA  15    CAMPO GRANDE 24º

Interior

Em delação, "doleiro dos doleiros" revela rota de fuga pela fronteira com MS

Paraguai quer ficar com propriedades de Dario Messer, muitas delas na Linha Internacional

Helio de Freitas, de Dourados | 17/08/2020 10:33
O doleiro Dario Messer, no dia em que foi preso em SP, em julho do ano passado (Foto: Divulgação)
O doleiro Dario Messer, no dia em que foi preso em SP, em julho do ano passado (Foto: Divulgação)

Propriedades rurais na fronteira com Mato Grosso do Sul estão entre os 81 imóveis do doleiro Dario Messer em território paraguaio. Três delas ficam em Pedro Juan Caballero, cidade vizinha de Ponta Porã (MS), a 323 km de Campo Grande, e foram entregues pelo ex-presidente paraguaio Horácio Cartes como parte do pagamento de empréstimo na década de 90.

As informações foram reveladas na delação premiada assinada pelo “doleiro dos doleiros” com a Justiça brasileira. Dario Messer também contou detalhes da sua fuga até ser preso em São Paulo, em julho do ano passado.

Mesmo procurado pela polícia dos dois países, Messer contou com apoio de uma bem estruturada rede de proteção que incluiu estadia em Pedro Juan Caballero, com apoio de empresários de Ponta Porã, também investigados na Operação Patrón, uma das fases da Lava Jato.

Esse apoio veio de Antonio Motta, o “Tonho”, dono de rede de frigorífico no Paraguai, e do filho dele, Antonio Motta Filho, residentes em Ponta Porã e réus no âmbito da Operação Patrón.

Na delação, Messer contou que se escondeu em uma casa alugada por Tonho filho em Pedro Juan Caballero. Também teria sido o rapaz que o levou, no avião da família, de Ponta Porã a Jundiaí (SP), em 22 de setembro de 2018.

Outro conhecido da fronteira que ajudou a esconder Dario Messer é Roque Fabiano “Zero Um” Silveira. Com ordem de prisão no Brasil por contrabando de cigarro, Silveira enviou um avião para buscar o doleiro em Paraguarí e o escondeu em sua casa, em Salto del Guairá, cidade vizinha de Mundo Novo (MS).

Messer revela que o advogado de Silveira, José Augusto Marcondes, conhecido como “Sujinho”, o visitava no período em que esteve escondido em Pedro Juan Caballero.

Outro investigado na Operação Patrón citado na delação é o empresário Felipe Cogorno Álvarez, dono do Shopping China e do Planet Outlet, acusado pela Laja Jato de dar apoio logístico e financeiro ao doleiro. Messer diz que Cogorno o indicou “cambistas de confiança”.

Cartes – A delação premiada de Dario Messer é mais rica em detalhes quando o assunto é o amigo e ex-sócio Horacio Cartes, presidente da República do Paraguaia de 2013 a 2018. Cartes também foi denunciado na Operação Patrón.

O doleiro revelou que os dois se conheceram ainda nos anos 80, quando o pai dele ajudava Cartes no mercado de câmbio. A família Messer chegou a emprestar, em 1994, 13 milhões de dólares para Horacio Cartes salvar o banco que havia montado.

Como pagamento, a família Messer recebeu as três fazendas em Pedro Juan Caballero, na época avaliadas em 4 milhões de dólares. O restante da dívida foi paga em parcelas, segundo Dario Messer.

Na delação, o doleiro revela que em 2018, quando foi alvo da Operação Câmbio, Desligo, Cartes pediu que não se entregasse enquanto ele estivesse na presidência do Paraguai. O mandato de Horacio Cartes acabou em agosto daquele ano.

Bens – O governo do Paraguai quer ficar com parte do patrimônio de Dario Messer naquele país. O procurador de Justiça daquele país, Sergio Coscia, disse que a partilha dos bens vai ser decidida em comum acordo entre Paraguai e Brasil.

A Justiça paraguaia afirma que Messer usou fazendas, bois, frota de carros, contas bancárias e a bolsa de valores para lavar pelo menos 150 milhões de dólares no Paraguai. Uma comissão formada por representante do governo paraguaio, do Ministério Público e da Diplomacia vai decidir de que forma os bens serão divididos.

Na delação premiada, Messer concordou em devolver 99,5% de seu patrimônio avaliado em R$ 1 bilhão e cumprir 18 anos de prisão. Pelo menos R$ 700 milhões do montante estão em território paraguaio.

Nos siga no Google Notícias