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Interior

Empresas de família alvo do Gaeco faturaram 27,6 milhões em quatro anos

Com mais de 40 atividades registradas, uma das empresas entrou em licitação até para fazer fotocópias

Por Lucia Morel | 26/12/2024 12:09

Em quatro anos, empresas de família responsável pela obra do novo Hospital Municipal de Coronel Sapucaia, cidade a 396 km de Campo Grande, assinaram contratos de R$ 27,6 milhões com a prefeitura do município. Na média, são quase R$ 7 milhões ao ano.

RESUMO

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O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) deflagrou a Operação Pretense em Coronel Sapucaia (MS), investigando indícios de fraude em licitações e contratos da prefeitura. Entre 2020 e 2024, empresas de um mesmo grupo familiar receberam R$ 27,6 milhões, sendo R$ 20,7 milhões para a A. D. M. Construtora, responsável pela obra de um hospital municipal. A investigação aponta que a construtora, apesar de não possuir sede, patrimônio ou funcionários, foi contratada para a obra milionária. Outra empresa do grupo familiar, a KC Transportes e Construções, também recebeu valores significativos em contratos com a prefeitura. A operação busca apurar a suspeita de desvio de recursos públicos por meio de serviços de baixa qualidade e materiais reaproveitados.

Alvo do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) na quarta-feira, 18 de dezembro, a A. D. M. Construtora LTDA, teve, sozinha, R$ 20,7 milhões contratados com o município desde 2020, e só relativo à obra da unidade hospitalar em andamento, ela recebeu R$ 11,2 milhões (com aditivos).

Na data, o Gaeco realizou a Operação Pretense, cumprindo mandados de busca e apreensão, sem detalhar a quantidade. A investigação apontou indícios da prática de crimes de fraude a processos licitatórios e contratos envolvendo núcleo de empresas pertencentes a grupo familiar da cidade.

Em nota, o Gaeco, que é do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), informou que a A. D. M., cujo dono é o arquiteto Alan Douglas Maciel, não tem sede, patrimônio ou funcionários, e mesmo assim foi contratada para consecução de obra milionária do hospital municipal. Em uma plataforma virtual de mapas, a reportagem encontrou o endereço da empresa. Imagens de abril deste ano mostram um prédio térreo feito de tijolos à vista e aparentemente abandonado.

Nas redes sociais, a última publicação da Prefeitura de Coronel Sapucaia sobre as obras do hospital é de abril do ano passado e mostra a concretagem da laje. O recurso inicial foi repassado pelo Governo do Estado, no valor de R$ 9,2 milhões. Houve aditivo de R$ 2 milhões, totalizando R$ 11,2 milhões.

A nova unidade hospitalar está sendo erguida em área de 2.299,88 metros quadrados e terá urgência e emergência, centro cirúrgico, parto humanizado, e internação com 17 leitos adultos, oito leitos de pediatria e oito leitos de pós-parto, totalizando 27. Ela vai substituir o atual Hospital Municipal Aparício Vidal Garcia, construído em 1992.

Sede da KC Transportes e Construções na avenida Rachid Saldanha Derzi, em Coronel Sapucaia. (Foto: Google Maps)
Sede da KC Transportes e Construções na avenida Rachid Saldanha Derzi, em Coronel Sapucaia. (Foto: Google Maps)

Entre os contratos de 2020 para cá, nenhum foi tão alto quanto o do hospital. Em 2021 foi assinada contratação para “prestação de serviços de limpeza, com fornecimento de mão de obra especializada, equipamentos e materiais para limpeza, exceto materiais químicos”, para atender as unidades administrativas da prefeitura ao custo de R$ 2,2 milhões, que era o valor mais alto até então.

A empresa, que possui 43 tipos de atividades diferentes registradas junto à Receita Federal, também foi contratada por R$ 1,4 milhão este ano para limpeza urbana de vias públicas, roçada, podas em árvores e pintura de meio-fio. Ela ainda foi contratada para reformas e construções em escolas e quadras do município, instalação de portões e forros de PVC, além de locação de caminhão Munk e aquisição de materiais de construção e hidráulicos.

Pelas CNAEs (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) da A. D. M., ela pode realizar, entre outros serviços, comércio varejista de tintas e materiais para pintura, elétricos, vidros, ferragens e ferramentas, madeira e artefatos, materiais hidráulicos, cal, areia, pedra britada, tijolos e telhas, materiais de construção em geral e ainda fotocópias.

Mais uma empresa - Em nome da esposa de Alan Douglas, a KC Transportes e Construções também faturou alto em licitações da Prefeitura de Coronel Sapucaia. Foram R$ 5,7 milhões entre 2020 e 2024. O contrato de maior valor é de 2023 para “limpeza dos prédios públicos, limpeza urbana de vias públicas, pintura de meio fio, roçada e podas em árvores”, ao custo de R$ 1,4 milhão.

Mas a empresa também já foi contratada para obras para adequações em prédios pertencentes à Secretaria Municipal de Assistência Social, instalação de uma mini arena esportiva, ampliação de creche, reforma e ampliação de escola, reforma da Quadra Municipal Rachidão e ampliação de uma sala de recreação.

Sede da A. D. M. Construtora LTDA, na rua Abílio Espíndola Sobrinho, em Coronel Sapucaia. (Foto: Google Maps)
Sede da A. D. M. Construtora LTDA, na rua Abílio Espíndola Sobrinho, em Coronel Sapucaia. (Foto: Google Maps)

Pela Receita Federal, a KC, em nome de Kariony Celant Espíndola, está habilitada para diversos outros serviços, como coleta de resíduos não-perigosos; transporte rodoviário coletivo de passageiros, com itinerário fixo, municipal; transporte escolar; transporte rodoviário de mudanças; aluguel de máquinas e equipamentos agrícolas sem operador; agências de viagens; operadores turísticos e até atividades de monitoramento de sistemas de segurança eletrônico. Ativa desde 2016, ao todo a empresa tem 38 no mesmo CNPJ.

A reportagem entrou em contato com o empresário Alan Douglas Maciel e aguarda retorno. O espaço segue aberto.

Entenda o nome - “Operação Pretense”, que em inglês significa “falsa aparência”, remete às obras realizadas pelas empresas com serviço de qualidade ruim e emprego de materiais reaproveitados, em verdadeira situação mascarada para desvio de recursos públicos, segundo o Gaeco.

Matéria editada às 18h40 de 26 de dezembro para mudança de foto.

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