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Interior

Filho de juiz aposentado era suspeito de tráfico e citado como membro do PCC

Gilberto Emmanuel Fernandes Abelha morava em Pedro Juan Caballero e foi morto em Ponta Porã

Helio de Freitas, de Dourados | 18/07/2023 10:51
Gilberto Abelha, executado com 30 tiros de fuzil, domingo à tarde em Ponta Porã (Foto: Reprodução)
Gilberto Abelha, executado com 30 tiros de fuzil, domingo à tarde em Ponta Porã (Foto: Reprodução)

Gilberto Emmanuel Fernandes Abelha, 41, executado na tarde de domingo (16) na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, era investigado por ligação com o tráfico de drogas e apontado como suposto integrante da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

Filho do juiz estadual aposentado Mario Eduardo Fernandes Abelha, Gilberto, conhecido como “Mané”, foi morto com pelo menos 30 tiros de fuzil disparados por dois pistoleiros quando saía com a namorada de uma padaria na Avenida Presidente Vargas, em Ponta Porã (a 313 km de Campo Grande).

Pesquisa feita pelo Campo Grande News no sistema de buscas da Justiça Estadual e Federal mostra dois procedimentos tendo Gilberto Abelha como acusado.

Um deles é inquérito policial por tráfico de drogas, no qual também são citados como investigados Rafael Pereira de Oliveira, o “Red”, e João Gabriel Petenusse de Souza, instaurado em 11 de janeiro de 2021 para apurar crime de organização criminosa por parte de Gilberto Abelha.

A polícia chegou até ele após a prisão em flagrante de Rafael Pereira de Oliveira em um laboratório de haxixe que funcionava na Rua Roberto Bueno da Silva, 499, em Ponta Porã. No celular de Rafael, os policiais encontraram conversas indicando que Gilberto Abelha seria o dono do laboratório. É neste procedimento que foi citada a suposta ligação de Mané com o PCC.

No dia 22 de março de 2022, seguindo parecer do MPF (Ministério Público Federal), o juiz da 2ª Vara Federal em Ponta Porã, Vitor Figueiredo de Oliveira, declinou competência e encaminhou o caso para a Justiça Estadual.

Apesar da proximidade com o Paraguai e da existência de lavouras de maconha (matéria-prima do haxixe) no país vizinho, o MPF entendeu não existir nos autos “nenhum indício de transnacionalidade das condutas investigadas, tanto da associação para o tráfico de drogas, como o próprio tráfico de drogas consubstanciado na manutenção de um laboratório de haxixe”.

O processo foi arquivado em definitivo na Justiça Federal no dia 26 de março de 2022. Já no sistema de busca da Justiça Estadual, não aparece nenhum processo tendo Gilberto como réu. Isso ocorre, geralmente, quando o caso está em sigilo.

O outro processo, também por tráfico de drogas, foi iniciado na 2ª Vara Federal de Ponta Porã em outubro de 2015. Além de Gilberto Abelha, o procedimento cita Jefferson Leandro Moya como investigado. O sistema de busca não disponibiliza detalhes do crime. Ainda no domingo (16), a secretaria da Vara Federal incluiu nas movimentações a informação sobre a morte de Gilberto. O juiz Vitor Vitor Figueiredo de Oliveira mandou o MPF se manifestar sobre a morte e fazer juntada da certidão de óbito.

Local onde Gilberto Abelha foi morto, domingo, em Ponta Porã (Foto: Arquivo)
Local onde Gilberto Abelha foi morto, domingo, em Ponta Porã (Foto: Arquivo)

A execução – Gilberto Abelha foi morto por volta de 16h de domingo, logo após sair de uma padaria na Vila Santa Isabel, na companhia da namorada, a paraguaia Analiz Figueredo López, 30, irmã de Wilfrido Figueredo López, prefeito de Cerro Corá, povoado localizado a 30 km de Pedro Juan Caballero.

Assim que o casal entrou num SUV Jeep Compass estacionado no canteiro central, um GM Prisma preto parou do outro lado da avenida e dois homens desceram armados com fuzis. Eles abriram fogo na direção do Compass.

Após a primeira sequência de tiros, um dos pistoleiros voltou para o Prima. O outro recarregou o fuzil e continuou atirando. A mulher abriu a porta da direita e se arrastou pelo chão para não ser atingida. As imagens de câmera de segurança deixam claro que Analiz não era alvo, pois o pistoleiro passou ao lado dela quando dava a volta no Compass para continuar atirando em Gilberto.

Armado com uma pistola calibre 9 milímetros, Gilberto Abelha chegou a disparar um tiro, mas não atingiu os matadores. Ele ainda desceu do veículo para tentar fugir, mas foi atingido por vários tiros e caiu ao lado do veículo.

O pistoleiro então se aproximou e fez mais disparos. O crânio da vítima ficou completamente esfacelado. Depois, o homem correu até o Prima e o carro deixou o local em direção ao território paraguaio.

Em choque, Analiz disse a policiais militares que seu ex-marido seria um dos atiradores. Em seguida, falou que o ex teria sido o mandante do crime, mas depois ficou em silêncio. Apesar de a morte ter característica de execução ligada ao crime organizado, a polícia não descarta motivação passional.

Sócio de empresa de locação de estrutura para eventos, com sede em Jaú (SP), Gilberto Abelha era filho do juiz estadual aposentado Mario Eduardo Fernandes Abelha. Paulistano, Mario Abelha ingressou na magistratura de Mato Grosso do Sul em junho de 1988 e se aposentou em outubro de 2013, quando era titular da 9ª Vara do Juizado Especial de Trânsito em Campo Grande.

Em novembro do ano passado, Gilberto foi acusado de disparar cinco vezes contra o apartamento de sua ex-companheira, Keila Ortiz Leal, 25, em Ciudad del Este, no Paraguai. Foi a mulher que apontou Gilberto como autor dos tiros. Ela estava no apartamento, mas não foi atingida. Atualmente, ele morava no bairro San Blás, em Pedro Juan Caballero.

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