Gasto exorbitante com Carnaval de ONG causa polêmica em Bonito
A decisão da prefeitura de Bonito, a 257 quilômetros de Campo Grande, de repassar a quantia astronômica de R$ 350 mil para uma ONG realizar o Carnaval de 2014, e ainda gastar, por fora, R$ 65 mil para contratar uma banda, é considerada incompatível com a realidade do município por parlamentares e quem acompanhou de perto a destinação do dinheiro do público. A revolta surge em meio à graves falhas na prestação de serviços básicos pela prefeitura, enquanto o Carnaval da cidade será o mais caro do Estado.
Os gastos com os cinco dias de festa foram discriminados em um projeto de lei, aprovado pela Câmara de Vereadores na terça-feira (25). O ponto mais obscuro, diz quem votou contra, é a despesa com “organização” (R$ 15 mil). “O chamamento público foi claro ao especificar instituição sem fins lucrativos. Então porque a organização vai receber esse dinheiro, se já tem R$ 350 mil em caixa?”, questiona o vereador João Ligeiro (PDT). A vencedora da concorrência foi o Idems (Instituto para o Desenvolvimento de Mato Grosso do Sul).
Somente com hospedagem, por exemplo, as despesas somam R$ 30,1 mil. Também há discrepâncias quanto ao item “infraestrutura” (R$ 18,7 mil), já que R$ 59,1 foram destinados ao palco, som, iluminação, painel de LED e gerador.
Morador de Bonito, o médico Laércio Miranda, denuncia a situação da saúde. “Não há fornecimento de remédios, há postos de saúde fechados por até dois meses e pessoas ficam meses na fila de espera por uma fisioterapia ou mesmo por uma simples consulta ou exame, além de buracos distribuídos desde a chegada a Cidade até a saída pro Pantanal”, disse o médico em publicação nas redes sociais.
Contra o Carnaval? – Vereadores e moradores contrários ao projeto alegam apoiar o Carnaval, mas não concordam com a forma como será organizado pela prefeitura. “Passou da hora de o prefeito ser mais transparente com os gastos, já que esta foi uma das promessas de campanha, inclusive com a criação de um Portal da Transparência. A torcida é para um Carnaval bem organizado, que dê certo. E que depois da folia, a população veja a prefeitura trabalhar, já que até hoje, a grande obra foi um quebra-mola que, de tão mal feito, precisou passar por reparos”, comenta o empresário de turismo e membro do diretório do PSD de Bonito, Bosco Martins.
Manobra – A liberação do dinheiro para o Idems não precisaria passar pela aprovação do Legislativo, e João Ligeiro enxerga a medida do Executivo como uma falsa tentativa de ser transparente. Segundo ele, antes mesmo de ser apreciado pela Casa, cartazes da “Ecofolia – Carnaval da Natureza” estavam espalhados pela cidade, com o nome do Idems como organizador.
“O prefeito tem oito vereadores na base, sabia que o projeto passaria, sem na realidade ter a obrigação de enviá-lo para Câmara. Essa foi uma tentativa de mostrar uma transparência que não existe, e ofende a inteligência dos vereadores da cidade”, opina.
Votado em regime de urgência, três dos 11 vereadores - João Ligeiro, Lindamar Silva (ambos do PDT) e Ozair Xavier (PSD), que fazem oposição ao prefeito – deram voto contrário.
Procurado pelo Campo Grande News, o prefeito Leonel Brito, o Leleco (PT do B), não atendeu às ligações.