Grande Assembleia Terena termina neste sábado na Mãe Terra
Pandemia e política são assuntos que mais permeiam encontro que acontece em Miranda
Com quase 40 mil pessoas e 13 áreas habitadas por elas, os Terena são a segunda maior população indígena de Mato Grosso do Sul, superados apenas pela Guarani Kaiowá. A 14ª Grande Assembleia Terena, promovida pelo Conselho do Povo Terena na Aldeia Mãe Terra, em Miranda, e que termina neste sábado, 20, coloca em pauta a grandiosidade desse povo e também seus desafios.
Depois de quase dois anos de pandemia, é ela que vem à tona quando se debate a saúde desses indígenas. Segundo o advogado terena e doutor em Antropologia, Luiz Henrique Eloy Amado, a covid-19 apenas evidenciou a assistência já precária em saúde às comunidades indígenas.
“O que ficou evidente mesmo foi essa discriminação entre os indígenas aldeados e os de contexto urbano, que tiveram essa negativa de atendimento para vacina”, citou, lembrando que apenas após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) em março deste ano, essa distinção de atendimento foi desfeita.
Atualmente, ele diz que a luta é pela vacinação nos adolescentes indígenas, que ainda não foram beneficiados com a imunização contra covid-19, mesmo com as aplicações estando na terceira dose para a maioria dos públicos e a primeira estar liberada a partir dos 12 anos de idade. “A secretaria não se manifesta”, afirma, citando a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena).
Eloy participa da assembleia desde o primeiro dia, em 17 de novembro e ontem, lançou na Aldeia Mãe Terra, em Miranda, onde ocorre o evento, seu livro “Vukarupanovo”, que significa avançar, baseado em sua tese de doutorado, e que conta luta contra dos Terena contra a invisibilidade e rumo à afirmação de seus direitos territoriais.
Demandas - Professora e representante das mulheres terena, Evanilda Rodrigues, 40 anos, enfatiza ainda outro ponto debatido na Grande Assembleia, que é a necessidade de representantes indígenas na política.
“Ano que vem é ano de eleições e precisamos reorganizar nosso pensamentos enquanto indígenas. Em Miranda, por exemplo, a maioria da população é indígena (são oito mil índios lá) e temos que colocar alguém para disputar vagas que nos represente”, analisa.
O resultado da 14ª Assembleia Terena resultará num documento a ser encaminhado a cada liderança terena que, posteriormente, irá levar as demandas compiladas às autoridades no Brasil, em estados e nos municípios.
Na programação, que encerra amanhã, houve ainda mesa de debates de mulheres, juventude e debates sobre educação nas aldeias.
Origem - Os terena são os últimos remanescentes da nação Guaná no Brasil e possuem características culturais essencialmente chaquenhas (de povos provenientes da região do Chaco paraguaio).
O domínio dos grupos de língua Aruak - falada pelos terena - entre os diversos povos indígenas do Chaco, todos caçadores e coletores, deveu-se ao fato daqueles grupos serem, de longa data, predominantemente agricultores – e sobre esta base econômica se organizarem socialmente em grupos locais (aldeias) mais populosos, expansionistas e guerreiros.
Atualmente, a fonte de renda das comunidades dessa etnia se divide em profissões no comércio, frigoríficos e educação, com pouco foco na agricultura, mesmo de subsistência, o que é desenvolvido, essencialmente, pelos aposentados e mais idosos.