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Interior

Guarani-caiuá ocupam há 30 dias área em Paranhos e relatam novos ataques

Nadyenka Castro | 10/09/2012 15:27

Aproximadamente 700 indígenas estão no local que eles denominam Arroyo Korá. Terra já foi homologada, mas fazendeiros questionam na Justiça e caso está com STF

No dia 7, Força Nacional foi ao acampamento indígena após relato de ataque. (Foto: Grupo Aty Guasu)
No dia 7, Força Nacional foi ao acampamento indígena após relato de ataque. (Foto: Grupo Aty Guasu)

Há 30 dias na fazenda Eliane em Paranhos, a 469 quilômetros de Campo Grande, os guarani-caiuá relatam mais conflitos com fazendeiros.“Estamos em guerra ali”, resume a índia Lucilaine Valiente, que está na área denomina Arroyo Korá.

Segundo ela, pistoleiros atiraram contra o grupo na sexta-feira (7) e também nesta segunda-feira, aniversário de um mês da ocupação. Em nenhum dos casos houve feridos.

De acordo com a Funai (Fundação Nacional do Índio), aproximadamente 10 homens armados em uma camionete e dois a cavalo entraram no acampamento na manhã de sexta-feira e atiraram para alto. Os índios se esconderam em área de mata fechada.

A Força Nacional de Segurança Pública foi acionada e abordou o dono da fazenda ocupada, Luiz Bezerra, que estava no local no momento do ataque. Segundo relatado pelos indígenas à Funai, a camionete ocupada pelos homens armados pertence ao produtor rural.

Nesta segunda-feira houve novo ataque. Lucilaine diz que pistoleiros atiraram contra os indígenas no início da manhã e no começo da tarde. “ Por 8h30min foram oito tiros. Agorinha eles atacaram novamente e destruíram dois barracos”, conta. “Nós estamos sofrendo”.

A Funai esteve no local nesta segunda-feira sem a Força Nacional e o ataque foi confirmado. Sobre o ataque de sexta-feira, a Funai já comunicou a Polícia Federal e o MPF (Ministério Público Federal).

Os guarani-caiuá foram atacados pela primeira vez no dia em que ocuparam a área. Foram diversos tiros e um índio desapareceu e ainda não foi encontrado. No dia seguinte, uma criança morreu e a denúncia era de que tinha relação com o ataque, mas, foi confirmado morte natural.

No dia 28 de agosto, reunião entre o MPF e índios acampados na Arroio-Korá terminou com cinco tiros disparados por pessoas ainda não identificadas.

De acordo com nota enviada pelo MPF à imprensa, foram ouvidos dois tiros no acampamento durante a tarde. Minutos depois, foram ouvidos mais três tiros distantes, provavelmente para o alto.

Guarani-caiuá estão no local desde o dia 10 de agosto. (Foto: Comunidade Aty Guasu)
Guarani-caiuá estão no local desde o dia 10 de agosto. (Foto: Comunidade Aty Guasu)

No último dia 4, os indígenas tentaram prender um homem que se dizia amigo do cacique e o procurava no local. Os índios entraram em contato com Funai e Força Nacional de Segurança Pública para que eles fossem ao local prender o homem.

Porém, os órgãos disseram não ser possível ir ao local no momento. O homem foi alertado sobre a ilegalidade dele no local, já que é preciso autorização da Funai para circular em área indígena, e acabou liberado pelos índios.

Retomada -Os guarani-caiuá deflagraram a retomada de 7.500 hectares, que denominam de terra indígena Arroyo Kora. O grupo é integrado por pelo menos 700 pessoas, entre elas 120 crianças, mais de 60 idosos, entre eles rezadores.

A terra foi homologada em 2009 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, a homologação foi questionada na Justiça pelos fazendeiros. Uma decisão final sobre o processo está no STF (Supremo Tribunal Federal).

No ano passado, decisão do ministro Gilmar Mendes, suspendeu parcialmente os efeitos da homologação ao deferir um mandado de segurança impetrado pelo dono da fazenda Iporã, uma das 15 propriedades que estão na área homologada de 7.175 hectares. Com a decisão, cerca de 400 famílias indígenas foram autorizadas a viver em uma área de 700 hectares.

Conflito - O município, na fronteira com o Paraguai,já foi o local de outro conflito envolvendo a disputa por terra. Em 2009, os professores indígenas Jenivaldo Vera e Rolindo Vera desapareceram em ataque na fazenda São Luiz, denominada de Ypo’i. O corpo de Jenivaldo foi localizado dias depois, em um córrego próximo ao conflito. O corpo de Rolindo não foi encontrado.

Seis pessoas respondem pelo crime na Justiça Federal: Fermino Aurélio Escolbar Filho, Rui Evaldo Nunes Escobar e Evaldo Luís Nunes Escobar (filhos do proprietário da Fazenda São Luís), Moacir João Macedo ( vereador e presidente do Sindicato Rural de Paranhos), Antônio Pereira ( comerciante da região) e Joanelse Tavares Pinheiro( ex-candidato a prefeito de Paranhos).

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