Indústria tem 30 dias para resolver falha que provocou vazamento de amônia
Incidente ocorreu no dia 28 de fevereiro e 33 trabalhadores precisaram de atendimento médico
O MPT-MS (Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul) deu prazo de 30 dias para que a JBS/Seara promova adequações necessárias para impedir novos vazamentos de amônia na indústria de abate e processamento de suínos em Dourados, a 251 km de Campo Grande.
Na noite de 28 de fevereiro deste ano, a empresa localizada na BR-163, na saída para Campo Grande, teve de ser evacuada após vazamento do gás usado em equipamentos de refrigeração. Várias pessoas apresentavam intoxicação leve e quatro desmaiaram.
Após inspeção nas instalações do frigorífico, a Divisão de Perícias do MPT-MS apontou que o vazamento teve origem em falhas identificadas no sistema de refrigeração. Trabalhadores que estavam nas áreas interna e externa da indústria foram atingidos pelo gás e 33 deles precisaram de atendimento hospitalar. É a maior unidade de produção de derivados de suínos de MS.
À perícia do órgão federal, funcionários do frigorífico relataram que o incidente foi provocado por oscilação de tensão na rede pública de energia elétrica. A instabilidade ocasionou falhas no painel de comando localizado na casa de máquinas e a abertura da válvula de segurança de um dos compressores que integram o sistema de refrigeração por amônia.
O gás proveniente da válvula foi conduzido pelo suporte de coleta até o tanque de água na parte superior da casa de máquinas, de onde foi espalhado sem tratamento na atmosfera e em diversos ambientes de trabalho e áreas externas da indústria.
Segundo o MPT, a amônia que vazou no frigorífico é produto químico perigoso, corrosivo para a pele, olhos, vias aéreas superiores e pulmões.
“Para que não haja o risco de intoxicação dos trabalhadores, deve-se providenciar uma tubulação específica de coleta e descarga do fluido para a atmosfera, tanque de água ou outros sistemas de tratamento”, orientou o perito em Engenharia de Segurança do Trabalho Luiz Carlos Alves da Luz, responsável pela inspeção.
Entre os principais fatores para a ocorrência, o perito citou que o tanque de água onde aconteceu a descarga de amônia também apresenta irregularidades. “O lançamento do gás ocorreu em local impróprio, enclausurado por paredes e outras estruturas da indústria, e situado em cota bastante inferior aos pontos mais altos das coberturas das edificações próximas (cerca de 10 a 15 metros abaixo)”, acrescentou.
O relatório da perícia ainda apontou a existência de diversas obras de ampliação na indústria com saídas de emergência provisórias sem sinalização de rota de fuga e “Plano de Resposta a Emergências” elaborado pela Seara sem previsão de todos os possíveis cenários.
Luiz Carlos Luz Alves da Luz concluiu o relatório indicando ausência de controle remoto dos equipamentos mecânicos da casa de máquinas, situado no lado de fora e junto à porta de saída do setor. Com o controle, seria possível desligar todos os equipamentos de uma só vez, em caso de emergência.
Apontou ainda falta de dispositivo de parada de emergência, automático e/ou manual, que possa desligar todo o sistema de compressores de amônia, simultaneamente, assim como inexistência de sistema de segurança ou dispositivo que impeça que os compressores permaneçam continuamente ligados quando os condensadores estiverem desligados.
O relatório faz série de recomendações para correção das irregularidades constatadas na inspeção, de modo a evitar que outros acidentes semelhantes aconteçam ou sejam agravados pela insuficiência de medidas de segurança. O prazo de 30 dias começou a contar do dia 15 de março, quando o documento foi entregue.
Em nota enviada pela assessoria, a JBS informou que tem "compromisso inegociável" com a segurança de seus colaboradores. "A Companhia colabora com as autoridades no caso em questão e atua constantemente na melhoria de processos para garantir um ambiente de trabalho cada vez mais seguro".
*Matéria alterada às 17h04 para acréscimo da nota da JBS.