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Interior

Moradores de assentamento se preparam para visita inédita de um presidente

Receber Bolsonaro é "ser visto" como agricultor familiar, celebram assentados do Santa Mônica

Paula Maciulevicius Brasil | 13/05/2021 13:15
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Não tem quem não pare o que está fazendo para falar da honra que é receber o presidente da República em solo "terenense". Pelas ruas da cidade de pouco mais de 20 mil habitantes, distante 25 quilômetros de Campo Grande, o burburinho é um só: a chegada de Jair Bolsonaro (sem partido) amanhã.

Comerciante, Maria das Graças Gomes da Costa, de 55 anos, diz que está feliz pela visita ilustre. "Ah, eu fiquei bem contente, porque eu votei nele e é o primeiro Presidente da República que vem na cidade", comemora.

Se não fosse a distância do município até o assentamento, amanhã ela nem abria o depósito de material de construção e ia direto "tietar".

Uma pena que ele não vai passar pela cidade, vai direto pra lá. Mas eu espero que ele goste", afirma Maria das Graças.

Motorista, César Alves, de 49 anos, também não se anima a ir. Mas de pronto explica para a equipe como chegar ao assentamento. "O povo de lá mesmo que está animado", responde ao indicar o caminho.

O assentamento fica a 53 quilômetros a contar da rodoviária da cidade. Com placas indicando o caminho, é muita estrada de chão e também areia. Pouco mais de 1 hora depois, já se avistam os sítios, chácaras e estâncias que fazem parte dos 716 lotes do Santa Mônica.

Preparação - A visita de Jair Bolsonaro envolve toda uma estrutura em montagem desde ontem nos dois hectares da Cooplaf (Cooperativa da Agricultura Familiar),  que reúne 400 produtores entre as 1,2 mil famílias moradoras dos oito assentamentos da região.

Limpando o chão dos banheiros, a assentada Cecília de Almeida, do assentamento Campo Verde, quer deixar tudo brilhando para a visita.

Cecília analisa que a vinda do presidente para Terenos significa que o governo está "olhando" para essa população. (Foto: Henique Kawaminami)
Cecília analisa que a vinda do presidente para Terenos significa que o governo está "olhando" para essa população. (Foto: Henique Kawaminami)

Membro da cooperativa há oito anos, Cecília é assentada há mais de 30. "Muito emocionante. Para nós é uma honra", descreve. A entrega de títulos não será para o assentamento dela, mas nem por isso ela não fala com alegria da cerimônia.

"O título te dá posse de terra, então você consegue trabalhar melhor com a terra, sem ficar preso ao Incra, dependendo de liberação. Com o título definitivo, você é dono e isso já era muito esperado, ainda mais sendo entregue pelas mãos do presidente", comenta.

Ao continuar o discurso, Cecília relembra o ineditismo da visita de um presidente. "Para nós a vinda representa o olhar dele para os assentados", acredita.

A tenda principal onde ficará o presidente comporta, segundo a organização, 250 pessoas, entre comitiva, parlamentares, Ministra da Agricultura Tereza Cristina e os representantes que receberão os títulos.

A visita de Bolsonaro era esperada desde o ano passado, mas só se confirmou mesmo no início desta semana, depois da vinda da equipe precursora na segunda-feira (10) para avaliar a área, decidindo por fazer a cerimônia de entrega dos títulos ali. O outro local cogitado era um barracão no assentamento Campo Verde.

Vereadora em Terenos, Lucilha de Almeida (DEM), assentada também em Campo Verde,  considera a agenda com o mandatário do Planalto "um presente",   fruto da organização de toda comunidade.

"A autoridade vem num assentamento visitar os assentados, trazer o título e ouvir as solicitações, para nós isso é muito importante", frisa.

Desde o ano passado, os assentamentos da região vinham se organizando em mutirões com apoio do Incra, prefeitura de Terenos e governo do Estado.

Houve ação de recebimento de documentos, porque tínhamos muitos produtores que faltavam CPF, RG. Essa organização documental foi de suma importância", destaca a vereadora.

Lucilha de Almeida, vereadora do DEM e assentada, fala da importância dos títulos de posse que serão entregues. (Foto: Henrique Kawaminami)
Lucilha de Almeida, vereadora do DEM e assentada, fala da importância dos títulos de posse que serão entregues. (Foto: Henrique Kawaminami)

Quando o governo federal fez uma história em massa, ainda segundo Lucilha, encontrou toda essa organização o que facilitou a entrega de títulos.

A vereadora calcula que serão entregues cerca de 500, porque ainda faltam regularização dos demais, mas que há previsão de mais títulos saírem no segundo semestre.

"Novo" em comparação aos demais assentamentos, o Santa Mônica existe desde 2005, mas já chegou para os assentados com georeferenciamento, o que fez com que os títulos de lá saíssem antes do que dos assentamentos mais antigos.

"Os novos assentamentos já vem com o georeferenciamento, os mais antigos que estão sendo feitos agora e é esse tecnologia que organiza os perímetros até para documentação", explica Lucilha.

Para a vereadora, a presença do Presidente é um gesto de respeito e valorização da agricultura familiar. "Tenho certeza disso, senão ele nem viria aqui".

Faixa à espera de Bolsonaro colocada por moradora em assentamento. (Foto: Henrique Kawaminami)
Faixa à espera de Bolsonaro colocada por moradora em assentamento. (Foto: Henrique Kawaminami)

De faixa e tudo - Assim que Zenaide dos Santos, de 50 anos, soube que Jair Bolsonaro viria ao seu assentamento,  depressa mandou fazer um faixa com os dizeres "Seja bem-vindo, Bolsonaro". Moradora do assentamento Santa Mônica há 15 anos. Zenaide é filha do conhecido "Baiano", o conhecido pipoqueiro da Mace.

A família ficou acampada durante sete anos, em diferentes pontos do Estado, para conseguir terra. Em um dos acampamentos, viu o então presidente Lula (PT).

Sobre a faixa, ela diz que fez questão porque o presidente vem aí e "se Deus quiser, ele vai ver". Na programação, não está prevista a circulação pelas propriedades. Mas não tem problema, Zenaide, o pai e a mãe vão até a cooperativa.

Na chácara chamada "Princesinha do Papai", homenagem que "Baiano" quis fazer porque desde acampado dizia que se Deus lhe desse uma chacrinha, ele a transformaria em "princesa" pelas próprias mãos. E assim o fez. A família planta de tudo, mandioca, fruta, tem criação de porcos, vacas e galinhas, mas o principal mesmo é o milho.

"A gente fez até um celeiro aqui, tem cinco carrinhos desse que ganhamos quando a gente veio pra cá. Sacos, e sacos, tudo o que ele leva", revela a filha. O milho do assentamento é vendido para alunos e ex-alunos da Mace, no Centro de Campo Grande.

Nos sete hectares de área, a família tem duas casas, a primeira construída logo no início e a segunda. Ambas de tijolo e cimento. "Baiano" mesmo só vem aos finais de semana, mas segundo a filha, chega na segunda-feira ele "custa" a querer ir embora.

Quanto à entrega de título, Zenaide espera receber, mas que não muda em nada para ela. "Tem muita gente que quer vender, mas pra mim, eu quero me aposentar nessa chácara. Eu quero viver aqui", afirma.

Emocionada, ela vê no presidente a atenção que espera que o agricultor familiar tenha. "É isso que a gente gosta, de apoio, mesmo que não seja financeiramente.

Só dele estar olhando pra gente e dando atenção, para mim é muito importante. Estou emocionada, porque a gente é pequeno e não é todo mundo que apoia a gente", ressalta.

Como parte da preparação, o Corpo de Bombeiros esteve no local nesta manhã. Esse tipo de agenda presidencial mobiliza todas as forças de segurança, desde a equipe precurosa, que mapeia todos os riscos, até os que atuam diretamente na escolta e na repressão a qualquer tipo de risco ao chefe da Nação. A chegada de Bolsonaro está prevista para amanhã, às 9h20, na Base Aérea de Campo Grande.

De lá, irá de helicóptero para Terenos. Antes do meio-dia, a previsão é de estar de volta a Campo Grande para o retorno a Brasília.

Palco está sendo montado para receber a comitiva presidencial. (Foto: Henrique Kawaminami)
Palco está sendo montado para receber a comitiva presidencial. (Foto: Henrique Kawaminami)


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