Mulher que denunciou médico por assédio reclama de descaso da Marinha
Estudante aponta omissão de socorro, constrangimento e abuso de poder envolvendo superiores do marido
Cinco meses após formalizar denúncia contra o médico Ricardo da Fonseca Chauvet, de 57 anos, suspeito de cobrar R$ 1 mil por um procedimento cirúrgico realizado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), a estudante Kerolaine Campelo dos Santos afirma que ela e o marido, terceiro-sargento da Marinha do Brasil, estão sofrendo represálias por parte da Corporação.
A estudante alega, inclusive, que houve omissão de socorro por parte de um médico da Marinha, dois dias após o ocorrido na Santa Casa de Corumbá, distante 419 quilômetros da Capital, mesmo após autorização de uma oficial para que ela fosse atendida.
“Eu estava sangrando muito, meu esposo me levou para o hospital da Marinha, informou o que tinha acontecido, que eu tinha sido abusada sexualmente e, mesmo falando tudo o que passei, ele não quis me atender. Brigou e disse que só realizaria o atendimento para militares”, revela Kerolaine. Na ocasião, afirma, ainda não era dependente do plano de saúde do marido.
Segundo ela, só no dia seguinte, quando conseguiu o seguro médico, foi atendida. “Não formalizei a reclamação antes porque meu marido é militar, deixamos de lado achando que a Marinha nos ajudaria em algum momento”, afirma.
Com o tratamento em andamento, a paciente chegou a ser atendida por médicos do Rio de Janeiro por dois meses, entre setembro e outubro. Conforme a estudante, a pressão em cima do marido foi grande durante este período, mesmo com laudos indicando que ela precisava de acompanhamento durante o período. A mulher cita ainda que, durante atendimento na Junta Regular de Saúde da Marinha, foi constrangida por uma oficial a falar sobre problemas ginecológicos na frente de homens que estavam na sala.
Sem conseguir retornar com o marido para o Rio de Janeiro, a estudante afirma que não conseguirá dar continuidade ao tratamento por não ter exames disponíveis em Corumbá. Agora que o casal está de volta a MS, as principais barreiras estariam sendo dentro da Corporação.
“O superior do meu marido começou a constranger ele, a humilhar verbalmente e usar seu poder sobre ele”, explica Kerolaine. Ela diz ainda que, em determinado momento, o marido chegou a ser impedido de sair de uma sala. “Ele [o superior] disse que ele só sairia quando fosse liberado”.
Marinha
Em nota a Marinha, por meio do Comando do 6º Distrito Naval, informou "que não recebeu oficialmente, até o presente momento, nenhuma denúncia dos órgãos civis a respeito de omissão de socorro ou qualquer outro tipo de denúncia realizada por dependente de militar contra o Comando".
A Marinha ainda ressaltou que "presta todo o apoio necessário aos militares e seus dependentes que necessitam de atendimento médico e psicológico e que repudia qualquer ato que atente contra os preceitos da ética militar, estabelecidos no Estatuto dos Militares", conclui o pronunciamento.