MP pede prisão, mas juiz mantém livre médico denunciado por pacientes
Ricardo Chauvet é investigado por suspeita de cobrar cirurgia paga pelo Poder Público e abusar sexualmente de clientes
Titular da 2ª Vara Criminal de Corumbá, o juiz Deyvis Ecco rejeitou hoje pedido de prisão do médico Ricardo da Fonseca Chauvet, de 57 anos, suspeito de cobrar por cirurgias feitas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e também de abusar sexualmente de pacientes. Até agora, segundo a reportagem apurou, três pacientes já denunciaram o médico ao Ministério Público Estadual.
Responsável pelo pedido de prisão, o promotor Luciano Conte, informou ao Campo Grande News que havia dois fundamentos para o pedido de prisão. Primeiro, a “garantia da ordem pública, tendo em vista a reiteração delitiva, já que varias vítimas apareceram relatando sobre cobrança de procedimentos do SUS”. Além disso, pontua, as condutas são graves. “Ele quebrou a confiança depositada pelo sociedade e pelas vítimas que procuram tratamento em situação de fragilidade e vulneráveis”, afirma Conte.
Ao explicar o segundo argumento do pedido de prisão, o promotor falou sobre a conveniência da prisão de Chauvet para a instrução criminal. “Uma das vítimas relatou que não conseguiu sequer registrar o boletim de ocorrência e depois descobriu que o médico era legista e trabalhava para a polícia”. De fato, o médico atua como perito legista. “Assim, há risco para a investigação por ser ele ligado à polícia e o medo que as vítimas têm de procurar a justiça”, entende o membro do MP-MS.
O magistrado, porém, pensa diferente e negou o pedido de prisão na tarde desta sexta-feira. A reportagem não teve acesso ao conteúdo da decisão porque o processo corre em sigilo.
Diante da negativa do juiz, o promotor informou que vai recorrer ao Tribunal de Justiça.
Entenda o caso– Desde segunda-feira 15), Ricardo Chauvet parou de atender pacientes do Centro de Saúde da Mulher de Corumbá, um dos lugares onde atuava. Ginecologista, ele é suspeito cobrar R$ 1 mil para retirar um pólipo do útero de uma paciente internada pelo SUS (Sistema Único de Saúde) na maternidade da Santa Casa da cidade.
Diante da denúncia, a Prefeitura abrigou investigação. Foi instaurado procedimento administrativo disciplinar, que se encontra na corregedoria do município, e corre em sigilo.
Além disso, o Município informou que segue aberto desde 2016 processo administrativo sobre denúncia de violência sexual. Segundo relato da vítima, durante exame de toque o suspeito teria feito insinuações sexuais.
Gravação - Chauvet, que atua como prestador de serviço no hostital, foi gravado em aúdio pela estudante de direito Kerolaine Campelo dos Santos, de 25 anos, cobrando R$ 1 mil dela para retirar um pólipo do útero da paciente.
Na gravação o médico fala que pode manter a paciente internada no hospital, mas que o pagamento da cirurgia teria de ser feito “em dinheiro, sem recibo e antecipado, tá? Isso te custaria mil reais, tá? Só que isso é ilegal, tá? Mas eu tenho duas opções: ou o ilegal ou eu não faço", diz o médico.
Depois disso, começaram a surgir as informações de outras denúncias envolvendo o profissional.
O CRM (Conselho Regional de Medicina) também abriu procedimento sobre o médico.