Falta de terapeutas ocupacionais deixa cerca de 700 autistas sem atendimento
Escassez de profissionais fez presidente da Ama recorrer a outras alternativas de tratamento
Em Campo Grande, a AMA (Associação de Amigos do Autista) atende cerca de 700 pacientes diagnosticados com TEA (Transtorno do Espectro Autista) que precisam de terapia ocupacional, mas que atualmente estão sem esse atendimento devido à escassez de profissionais na cidade.
RESUMO
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A AMA (Associação de Amigos do Autista) em Campo Grande enfrenta dificuldades para oferecer terapia ocupacional a mais de 700 pacientes com TEA devido à falta de profissionais na cidade. Desde 2020, a associação não consegue contratar terapeutas ocupacionais, essenciais para o desenvolvimento de habilidades sociais e de autocuidado dos autistas. A situação levou a AMA a buscar apoio para a abertura de cursos na área, resultando na criação de graduações em terapia ocupacional e fonoaudiologia na UEMS. A expectativa é que a formação de novos profissionais ajude a suprir a demanda em dois ou três anos.
A assistente social da AMA, Divina Márcia Rufino, relata que, desde 2020, passou a ter dificuldades para encontrar terapeutas ocupacionais disponíveis. “Até 2018 nós tínhamos esse profissional. Em 2019, tivemos cortes de recursos e precisamos dispensar todos. Quando, em 2020, a AMA voltou a contratar, percebemos a dificuldade. A partir de 2021, a situação ficou ainda mais complicada”, afirma.
Hoje, a instituição não conta com nenhum terapeuta ocupacional no quadro de funcionários. O ideal, segundo Divina, seria ter pelo menos dois profissionais para atender crianças, jovens e adultos assistidos pela associação. “São atendimentos essenciais para os autistas e, infelizmente, não tem profissional disponível”, completa.
Sem o atendimento de terapia ocupacional, as crianças participam de outras atividades, como educação física adaptada e arteterapia. Apesar de reconhecer a importância dessas abordagens, Divina reforça que nenhuma substitui o trabalho do terapeuta ocupacional. Ainda assim, ambas contribuem com aspectos como coordenação motora e socialização.
Para tentar suprir essa demanda, a AMA buscou apoio de instituições de ensino para a abertura de cursos na área. “Tem dois anos que estamos movimentando a classe política e conseguimos a abertura desses dois cursos (terapia ocupacional e fonoaudiologia) na UEMS”, conta a vice-presidente da associação, Flávia Caloni Gomes.
Advogada e mãe de João Guilherme, de 16 anos, diagnosticado com autismo na infância, Flávia acompanha de perto a realidade da cidade. “A indicação de terapia para o meu filho veio desde cedo, mas sempre houve escassez de profissionais aqui no Estado. Ficamos cerca de 10 anos sem formação em fonoaudiologia e terapia ocupacional”, comenta.
Dos quatro aos 10 anos, João Guilherme teve acompanhamento por meio do plano de saúde. Após os 12, com mudanças na fase de crescimento, precisou de um novo terapeuta. Sem cobertura do plano, Flávia chegou a pagar R$ 600 por sessão mensal, com duração de 40 minutos. “Se a gente quiser um profissional nas associações, tem que disputar, assim, no tapa. Aí os valores sobem demais”, destaca.
Sem terapeuta disponível, a solução encontrada foi contratar um profissional de educação física com pós-graduação em psicomotricidade. “Estamos confiantes de que a abertura desses cursos na UEMS vai ajudar, mas essa demanda só deve ser reduzida mesmo em dois ou três anos”, completa.
Riscos à saúde - A terapeuta ocupacional Gabriela Souza Lopes alerta para as consequências da ausência de acompanhamento adequado. “Podem surgir dificuldades nas habilidades de interação social, como iniciar e manter conversas, interpretar expressões faciais e entender normas sociais”, explica.
Outro ponto importante da atuação do terapeuta ocupacional é o desenvolvimento de habilidades de autocuidado. “Como vestir-se, alimentar-se e manter a higiene pessoal. Sem essa intervenção, o indivíduo pode ter dificuldades em realizar essas tarefas de forma independente”, acrescenta. Gabriela reforça que, sem essa base, a criança pode apresentar comprometimentos funcionais e até sofrer com o isolamento social.
“Em suma, a terapia ocupacional é crucial no tratamento de pessoas com TEA, pois atua nas habilidades funcionais, sociais, emocionais e sensoriais. A falta dessa intervenção pode gerar desafios que impactam negativamente a qualidade de vida da pessoa e da família”, conclui.
Formação de novos profissionais - A professora do curso de Terapia Ocupacional da UEMS, Fúlvia Tognini, falou sobre a nova graduação que começou a ser ofertada este ano. A primeira turma tem 32 alunos matriculados e a previsão é que eles se formem em 2029.
Sobre a alta demanda por profissionais, Fúlvia explica que o cenário não é exclusivo de Mato Grosso do Sul. “Acreditamos que seja uma realidade mundial. O retorno da profissão e dos cursos acompanha uma demanda crescente”, afirma.
Esse aumento, segundo ela, está ligado ao crescimento no número de diagnósticos de TEA. “Quando eu estava na graduação, vi apenas um paciente com autismo na clínica. Hoje, 98% dos atendimentos na minha clínica particular são com pessoas autistas”, relata.
Ela também aponta possíveis razões para o fechamento de cursos no passado. “Naquela época, o curso era integral, tinha um custo mais alto e a profissão não tinha a mesma demanda de hoje”, finaliza.
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