PM que negociava cocaína e arma pelo WhatsApp é condenado a 24 anos de prisão
Deyvison Hoffmeister começa a cumprir pena em regime fechado; dois colegas de equipe foram absolvidos
O soldado da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul Deyvison Hoffmeister dos Santos, 33, foi condenado hoje (1º), a 24 anos e 9 meses de prisão por peculato, comércio ilegal de armas e tráfico de drogas. A pena foi determinada pelo juiz da Auditoria Militar Alexandre Antunes da Silva durante julgamento nesta tarde.
Por unanimidade, o conselho de sentença (formado pelo juiz e por quatro oficiais da PM) também decidiu pela exclusão de Hoffmeister dos quadros da Polícia Militar “diante da gravidade dos crimes praticados”.
Em setembro deste ano, o Campo Grande News revelou com exclusividade que o policial, lotado na Força Tática, vendia armas e drogas em Dourados (a 251 km de Campo Grande). As negociações com os compradores eram feitas através do aplicativo WhatsApp, conforme documentos obtidos pela reportagem em primeira mão.
Na mesma audiência, o conselho de sentença decidiu pela absolvição dos cabos Robson Valandro Marques Machado, 41, e Vlademir Farias Cabreira, 43, companheiros de equipe de Hoffmeister. Faltaram provas do envolvimento deles nos crimes, segundo a Justiça Militar.
As prisões – Os três foram presos em Dourados no dia 23 de agosto deste ano pela Corregedoria da Polícia Militar e levados para o Presídio Militar em Campo Grande, onde permanecem até agora.
Naquela data, a PM não informou o motivo da prisão, mas no dia seguinte, o Campo Grande News revelou que os policiais tinham sido presos acusados de desviar 25 dos 30 quilos de cocaína que a equipe tinha apreendido em abril deste ano, na Vila Santo André, região sul de Dourados.
Cinco dias depois da apreensão, 11 quilos da cocaína foram encontrados em uma “boca” na Vila Cachoeirinha (região sul de Dourados), por policiais da Defron (Delegacia Especializada de Repressão a Crimes de Fronteira).
Jonatan Nascimento Ferreira, o traficante preso na “boca”, era amigo e sócio de Hoffmeister nos negócios sujos, segundo a denúncia. No celular dele, os policiais encontraram as provas incriminando Hoffmeister seus dois companheiros de equipe.
A denúncia contra os três PMs douradenses foi aceita em setembro pela Auditoria Militar. A sessão de julgamento ocorreu hoje à tarde, por videoconferência. Os policiais foram defendidos pelo advogado Maurício Nogueira Rasslan.
Fica preso – A maior pena, de 9 anos de reclusão, foi estipulada pelo crime de tráfico de drogas. O juiz citou na sentença que extensão do dano e a quantidade da droga contribuíram negativamente para a majoração da pena.
Pelo crime de peculato (quando servidor público se apropria de bem ou valores que ele tenha acesso em razão do cargo que ocupa), a pena final foi de oito anos de reclusão. O soldado Hoffmeister pegou ainda seis anos e nove meses por comércio ilegal de arma. Ele também terá de pagar cem mil dias-multa.
O juiz Alexandre Antunes da Silva decidiu que o policial terá de começar a cumprir a pena em regime fechado e não poderá apelar em liberdade. Sobre os outros dois policiais, o magistrado mandou expedir imediatamente o alvará de soltura.
O caso – A apreensão da droga ocorreu em abril após abordagem da equipe da Força Tática a André Marcelo Silva Morais, 27. Valandro, Vlademir e Hoffmeister patrulhavam a cidade, quando pararam o carro de André, um Astra 2001.
Segundo o boletim de ocorrência elaborado pelos policiais, o veículo foi abordado devido ao trincado no para-brisa, mas já havia suspeita de que o rapaz vendia droga. Durante vistoria no carro, a equipe encontrou papelote de cocaína. André teria dito que apenas guardava a droga e que tinha mais em sua casa.
Tanto na ocorrência da PM quanto no boletim registrado na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) consta a informação de que na casa de André, foram apreendidos 99 quilos de maconha, 10 quilos de pasta base de cocaína e 115 gramas de crack. Entretanto, na verdade, tinha bem mais cocaína que o registrado no B.O. Sendo pelo menos 30 quilos.
O esquema criminoso começou a desmoronar cinco dias depois. Policiais da Defron prenderam na Vila Cachoeirinha (região sul de Dourados), o sócio de Deyvison Hoffmeister, Jonatan Nascimento Ferreira. Os agentes já investigavam denúncia de que o local servia como ponto de distribuição de droga.
No endereço, os agentes da Defron apreenderam a cocaína e o celular de Jonatan. Perícia feita no aparelho revelou detalhes do esquema envolvendo os traficantes e Deyvison Hoffmeister. O caso foi então entregue à Corregedoria da PM, cuja investigação culminou na sentença de hoje.